Produto é fabricado manualmente com tecido de algodão 100% orgânico e cera de abelhas; é adaptável a vários tipos de superfícies, substituindo plástico filme e folha de alumínio no armazenamento e vedação de potes com frutas, vegetais, etc
Um empreendimento chamado Keep Eco Embalagens Ecológicas, criado em Joinville (SC), há cerca de um ano, pelo jovem casal Carla Viero e Lucas Bastos, é um bom exemplo de atitude e comprometimento para enfrentar a poluição plástica dos mares e oceanos. Eles resolveram empreender um negócio de impacto socioambiental para produzir uma solução simples e eficaz como alternativa ao uso de plástico filme (e folha de alumínio) na conservação e vedação de utensílios contendo alimentos em geladeiras, freezers, armários, entre outras situações.
A ideia surgiu durante o período em que Carla e Lucas viveram na Austrália como intercambistas. A experiência durou um ano e meio, tempo útil para observar e aprender com os hábitos dos australianos. Um deles chamou a atenção do casal: eles não usam plástico filme nem folha de alumínio, como acontece no Brasil, para armazenar alimentos e vedar potes, tigelas e outros acessórios de cozinha. A ideia desta solução prática – chamada beeswax wrapem inglês (significa guardanapo de cera de abelha) – veio na bagagem do casal ao retornar à Santa Catarina.
Reutilizável
A Keep Eco (a expressão significa ‘continue ecológico’ na língua inglesa) foi formalizada como Microempreendedor Individual (MEI). A embalagem reutilizável é feita com tecido de algodão 100% orgânico, liga de cera de abelhas, resina de óleo e resíduo de coco, que adere a qualquer superfície com o calor das mãos. As estampas da embalagem são cuidadosamente escolhidas com cores alegres. A durabilidade do produto é de cerca de um ano e pode ser descartado, pois é compostado (se decompõe) ao contrário do plástico.
O ‘keep’, como chamam o produto, é fabricado manualmente de ‘ponta a ponta’ pelo casal e dentro de casa – ou melhor, do apartamento onde moram. Ele é oferecido nos formatos: individual (R$ 18,90); e kit contendo peças nos tamanhos P, M, G, GG (R$ 99), que chega ao cliente dentro de uma caixa de papelão. ”Não usamos plástico de jeito nenhum”, enfatiza Carla.
Desde dezembro passado, as vendas são realizadas pelo site www.keepeco.com.br No momento, quatro revendedores estão comercializando o produto em outros estados. A previsão do casal é de que as revendas vão se expandir rapidamente, nos próximos meses. Os contatos estão crescendo. Surgiu um investidor interessado no negócio, mas Carla e Lucas decidiram continuar o empreendimento no ritmo e com capital próprios. O Keep conquistou os paulistas, contam. A maioria das vendas é fechada com clientes de São Paulo.
Impacto
Há mais de dez anos, este tipo de acessório de cozinha existe no Canadá, Europa, EUA e Nova Zelândia, informa o casal. Concorrentes da Keep Eco estão começando a surgir, mas não são ameaça, diz Lucas. “ Faz parte do movimento de forma geral no planeta para substituir o plástico”, justifica Carla. Por enquanto, a empresa funciona como uma mini fábrica no apartamento, mas a meta do casal é se tornar microempresa (ME).
“A gente quer impactar a vida das pessoas de forma diferente. Não queremos ser uma empresa comum. Gostamos de desafio e de aprender coisas novas. Tínhamos muita vontade de empreender”, afirma Lucas. Ele informa que trouxeram outras ideias da Austrália, mas ainda estão incubadas. “Queremos ser uma empresa maior, gerar empregos, capacitar as pessoas e prepará-las para a vida”, acrescenta. As pessoas ainda estão operando num modelo de negócio muito antigo, diz ele.
O casal dá preferência a fornecedores sustentáveis locais e regionais na compra de matérias-primas. Há dois meses, estão comprando algodão orgânico de uma cooperativa ecológica de Porto Alegre (RS). A cera de abelha que impermeabiliza o ‘keep’ é adquirida dos apicultores da região de Joinville.
Start up
Desde o início, a Keep Eco é apoiada pelo Sebrae e, depois de participar de uma maratona de negócios de impacto social em dezembro passado, foi uma das start ups selecionadas para participar do Programa Negócios de Impacto do Sebrae SC. Desse modo o empreendimento foi incubado na CAUSE da Univille (Universidade da Região de Joinville), incubadora de impacto social e instituição parceira do Sebrae SC.
“Foi um bônus para as start ups que tiveram melhor resultado no programa”, explica Jaime Dias Jr, coordenador regional do norte catarinense do Sebrae SC. Durante seis meses, elas receberam consultorias, mentorias e contaram com a estrutura física da CAUSE, localizada dentro do Perini Business Park, no parque industrial de Joinville.
“Recebemos capacitações, participamos de encontros quinzenais e de várias redes de start ups de impacto socioambiental”, conta Carla. O programa termina em agosto e ela diz que foi muito importante participar do programa do Sebrae SC e da incubadora CAUSE.
Caminho diferente
Carla e Lucas são gaúchos: ela é de Santiago e ele de Cruz Alta. Eles se conheceram em Santa Maria, em 2008, quando eram vizinhos de apartamento. Carla já cursava agronomia na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e Lucas se preparava para o vestibular. Ela se formou em 2011. Lucas fez Engenharia Mecânica na Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Unijuí), na cidade de Panambi. Ele se formou em 2014.
Durante os anos de faculdade, viveram um namoro marcado pela distância (200 km). Ao iniciarem a vida profissional, perceberam que queriam um caminho diferente e optaram por viver sob o mesmo teto, porém fora do Brasil. Os dois queriam mais do que ter emprego e uma vida rotineira.
A Austrália foi o país escolhido para intercâmbio devido às facilidades de visto para estudar e trabalhar (20 horas/semana). Ao longo de um ano e meio, o saldo de conhecimento e experiências foi bastante positivo, avaliam. Além de aprender inglês, trabalharam em vários tipos de serviços e cursaram gestão de projetos (Lucas) e permacultura (Carla) na Austrália.
Quando voltaram e decidiram investir capital próprio na ideia do Keep, procuraram o Sebrae SC para registrar a Keep Eco Embalagens Ecológicas como Microempreendedor Individual (MEI). Assim começou a história deste empreendimento que pretende ser exemplo para as pessoas, de acordo com Lucas.
Socorro
Reduzir o uso e descarte de plástico está na ordem do dia. A ONU deflagrou uma campanha em todo o planeta, no Dia Mundial do Meio Ambiente (5/6), este ano, conclamando cidadãos, a sociedade, a comunidade empresarial e governos à redução do uso e consumo excessivos de plástico, assim como sua substituição por materiais biodegradáveis.
O descarte de plástico está impactando a vida nos mares e oceanos e vitimando 600 espécies marinhas, das quais 15% já são consideradas em extinção. Segundo o estudo “A nova economia do plástico: repensando o futuro”, apresentado recentemente no Fórum de Davos, são descartados 8 milhões de toneladas/ano, o equivalente a um caminhão de lixo/minuto nos mares e oceanos. A campanha da ONU é um pedido de socorro à vida marinha. (www.keepeco.com.br )