Em junho deste ano, a notícia de que 20% das famílias brasileiras utilizam lenha ou carvão para cozinhar2 surpreendeu o país. Desemprego e aumento do preço do gás de cozinha levaram a tal situação, que preocupa devido ao potencial nocivo para a saúde respiratória das pessoas.
De 2016 a 2018, segundo dados do Pnad, houve aumento de 27% no número de famílias que utilizam estes combustíveis para cozinhar – de 11 milhões há 3 anos para 14 milhões em 2018, um aumento de 3 milhões de famílias. Embora o acesso ao gás de cozinha chegue próximo a 100% no Brasil desde meados da década passada, os dados do último Pnad indicam que as pessoas estão abrindo mão, em alguns momentos, do gás em nome da lenha ou carvão em razão principalmente do preço e da falta de renda.
Por que é preocupante?
Segundo dados da OMS, 30 a cada 100.000 pessoas morreram no Brasil em 2016 devido a doenças respiratórias ocasionadas por poluição do ar externa e interna3 (ambient e indoor pollution, respectivamente). O número é próximo ao de países como Colômbia e Argentina, bem acima dos de países da Europa e abaixo de países em desenvolvimento e com indústria pesada, como Índia, China e Bangladesh. Estudos indicam que o custo dessas vidas, além do imensurável sofrimento das famílias, é da ordem de R$ 3 bilhões ao ano4 – tal número é uma estimativa conservadora, pois não leva em conta gastos com SUS e aposentadorias precoces por incapacitação.
A utilização de combustíveis sólidos é particularmente danosa para a poluição interna (indoor pollution, nos termos da OMS) na medida em que libera partículas danosas para o pulmão e o sistema circulatório. Para efeitos de comparação, a queima de lenha em um fogão corresponde a 400 cigarros por hora4.
A indústria é um dos principais agentes
Embora a queima de combustíveis sólidos nas casas (household pollution) seja um grande problema de saúde pública na medida que atinge 20% das famílias brasileiras (as mais pobres, naturalmente), a indústria ao redor do mundo tem grande participação nesse fenômeno. Não é por acaso que China, Índia e Bangladesh lideram o mórbido ranking de mortes causadas por poluição do ar – são países com grande participação industrial na economia e controle ambiental ainda tímido, fato comprovado pelo número relativamente baixo de ecolabels (certificações ambientais nacionais e internacionais), a maioria dos quais surgidos recentemente.
Os ecolabels, num ambiente em que o estímulo ao consumo verde é estimulado, são de grande importância já que tornam-se condições para que as pessoas consumam ou deixem de consumir determinado produto. Um exemplo é o GreenGuard, certificação ambiental internacional para a indústria química que estabelece limites de emissão de partículas para produtos como tintas, equipamentos eletrônicos, produtos de limpeza e manutenção etc.
Mas não é somente na compra destes produtos que podemos exercer o consumo consciente, pois estes são insumo para a produção de outros tantos. Na indústria gráfica, por exemplo, a produção de banner e outros itens se dá em ambientes fechados, em que os trabalhadores estão expostos às emissões das máquinas, que processam tecidos e tintas – nesse sentido, é importante saber se o seu fornecedor de produtos gráficos tem algum tipo de certificação ambiental, como a GreenGuard. Na indústria eletrônica, saber qual a procedência dos insumos utilizados na confecção dos produtos finais é passo fundamental para caminharmos para um mundo menos poluído e com menos mortes.
(3) https://www.who.int/airpollution/data/cities/en/
(4) http://www.sindigas.org.br/novosite/wp-content/uploads/2017/04/20170324_uso-da-lenha_WEB.pdf
(5) https://www.ul.com/resources/ul-greenguard-certification-program