Planejamento letivo deve atender à criança e não apenas cumprir as regras do material didático
O planejamento do ano letivo é realizado em janeiro. Criado a partir do livro didático, ele inclui o manual do professor, mas não contempla as necessidades de todos os estudantes. Uma vez concluído este planejamento, o professor não consegue modificá-lo. “Em grande parte das escolas, o planejamento é realizado para atender o livro e não à criança. O planejamento do ano letivo precisa ser focado no atendimento à criança e não apenas nos protocolos do livro didático”, aponta a neuropsicopedagoga Janaína Spolidorio.
O manual dos livros didáticos segue a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e não atende à individualidade de cada criança. O educador em sala de aula, porém, pode se reinventar, conscientizando-se do papel da BNCC e do livro, das ferramentas e parâmetros, e de seu próprio papel como transformador social. “Ele precisa se aprimorar profissionalmente ao longo de sua carreira, priorizar o aluno, o modo como ele aprende, o que ele precisa para avançar”.
A Base Nacional Comum Curricular sugere que a aprendizagem na Educação Básica seja espiralada, logo, um tema precisa ser revisitado pelo estudante ao longo de sua vida escolar. Dentro do processo de aprendizagem, o livro precisa levar em conta que há duas fases da memória: a de aquisição e consolidação do conhecimento. Ou seja, o livro didático precisa revisitar aquele conteúdo durante outras unidades para alcançar a consolidação do aprendizado.
Professores capacitados conseguem driblar o sistema imposto, analisar criticamente o livro didático e entender os marcos de desenvolvimento da criança, ajudando o aluno a avançar. Estes educadores entendem que, embora tenham que cumprir o livro, o aluno precisa alcançar autonomia no seu aprendizado. “Não é o livro que deve comandar o professor, e sim, o contrário”. Uma revolução se faz pela ação de indivíduos independentes, dispostos a modificar o meio onde coexistem, ensina Janaína.
O livro didático precisa apresentar o quadro de conteúdos, apontar quando serão usadas as habilidades da BNCC e qual o conteúdo será trabalhado naquele bimestre. Não cabe ao professor ter de apontar tais direcionamentos, só para cumprir uma exigência de entregar um documento de planejamento na escola. A estratégia no planejamento evita o retrabalho que alguns estados brasileiros tiveram, ao criar currículos próprios para adequar necessidades locais. Ao invés disso, Janaína sugere produzir um documento complementar à BNCC.
Um planejamento efetivo precisa priorizar as necessidades do aluno no primeiro mês de aula. O contato inicial com a turma ajuda a conhecer o estudante e analisar se o que foi proposto realmente atende às demandas da turma. Conforme o professor conhece o aluno ele poderá, então, validar ou invalidar o planejamento proposto, priorizando o que precisará trabalhar e desenvolvendo atividades de reforço ou complementação.
Escolas e editoras devem aprimorar o trabalho do professor
No planejamento anual, as escolas devem também estar conscientes do que e do quanto solicitar do papel do professor. Por sua vez, as editoras de livros didáticos devem proporcionar melhores condições ao trabalho do professor por meio da capacitação. “É necessário oferecer conteúdos bem elaborados por profissionais competentes e que possam ser desenvolvidos”.
As editoras precisam estar a par do conteúdo que integra o currículo de estudo de um elaborador, que minimamente inclui engenharia pedagógica, arquitetura de informação e carga cognitiva. Tais itens possuem uma importância hierárquica maior para o sucesso do aluno, do que meros documentos que podem facilmente ser estudados por alguém que domina a elaboração.
Janaína explica que o ideal seria as editoras produzirem um manual para a escola (e não outro para o professor), com ações instrutivas para o diretor e para o coordenador, que, muitas vezes cobram dos professores cumprir o que o livro determina, mas eles mesmos não colaboram de uma forma estratégica para a ação.
Em um mundo ideal, o manual de coordenador e professor incluiria metas a serem cumpridas pela gestão para auxiliar e compreender melhor a proposta do livro e como ele pode ser melhor utilizado na prática, com sugestões de capacitações para os professores e propostas de livros formativos. O manual gestor deveria conter instruções para colaborar com a prática docente. Dessa, forma a escola inteira participa ativamente do processo.
Escola e a família podem trabalhar juntas para proporcionar melhor adequação da criança ao currículo escolar. Interessar-se pelo que foi trabalhado na escola é o primeiro passo, pois muitas famílias deixam toda a responsabilidade para a escola e não acompanham avanços e dificuldades. Durante a pandemia algumas famílias acabaram percebendo que uma determinada escola não dava conta do ensino como seus próprios parâmetros pensavam, o que gerou grande migração de alunos das escolas nesse período devido à insatisfação é à incompatibilidade de pensamentos.
Os pais têm expectativas sobre a escola, mas não acompanhar faz com que eles se frustrem. É papel da escola envolve-los no processo educativo, pois eles também precisam de orientações e de ter a segurança de que a escola esteja cumprindo seu papel. É assim que a escola valoriza seu trabalho perante a sociedade e encontra seu lugar de destaque na comunidade. “Na escola, o caminho é sempre alimentar uma relação humana e próxima”.
Sobre Spolidorio Neuroeducação – Criada pela Neuropedagoga e referência no mercado de capacitação de educadores, Janaina Spolidorio, a marca nasceu em 2020 com o objetivo de fomentar e ser a interface entre profissionais, instituições educacionais e o ensino de base no Brasil.
A Spolidorio Neuroeducação é responsável por criar, desenvolver e colocar em prática projetos educacionais em iniciativas públicas e privadas. Em seu ano de fundação a marca já capacitou através de palestras, workshops, cursos on line e pedagogia colaborativa mais de 1.500 educadores.