Comemorado nacionalmente em 15 de julho, o Dia do Homem é uma data que repensa a masculinidade e debate temas que ainda são considerados tabus no universo masculino. Nesta perspectiva, assuntos relacionados à fertilidade ainda são considerados estigmas apenas relacionados às mulheres, porém, estudos já demonstram que metade dos casos se devem exclusivamente a algum fator masculino.
De acordo com o médico especialista em fertilidade humana, Dr. Marcelo Cavalcante, deixar de lado a resistência em procurar ajuda é o principal fator para descobrir possíveis problemas. “Apenas uma avaliação profissional pode determinar alternativas seguras para tratamentos”, informa.
Indo além dos tratamentos para infertilidade para casais heterossexuais, a procura da fertilidade tem aumentado para casais gays e até para pais que têm a necessidade de ser solo, ou seja, sem um parceiro ou uma parceira.
“Temos sentido esse aumento na procura. Em levantamentos internos, conseguimos registrar o número de 10% a mais de casais homossexuais que procuram tratamentos para fertilidade. Além deles, mesmo sendo pouco comum, pais solo também têm mostrado interesse”, explica.
Tratamentos
Hoje em dia, vários tratamentos são a chave para a geração de um filho biológico e, com os avanços da medicina reprodutiva, cada vez mais esses tratamentos possibilitam a concretização do tão sonhado planejamento familiar.
Técnicas como a inseminação intrauterina e a fertilização in vitro (FIV) permitem que um dos parceiros seja o genitor. Já para casais homoafetivos do sexo masculino, a única opção é por meio da fertilização in vitro. Os óvulos devem ser doados e implantados em uma mulher que cederá o útero, onde um dos companheiros poderá fornecer o sêmem e o óvulo a ser fecundado é fruto de doação anônima. Todo o procedimento deve seguir as regras estabelecidas pelo Conselho Federal de Medicina (CFM).
“Para cada caso, buscamos sempre uma abordagem humana e única para cada paciente, pois apenas eles sabem, no íntimo, o que é passar por situações de infertilidade e buscar alternativas para construir uma família. Ter um tato é o diferencial”, explica Dr. Marcelo.
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Segundo levantamento da OMS, 15% da população brasileira sofre com o problema e 1 em cada 5 casais precisa de ajuda especializada
A infertilidade é um problema que afeta muitas pessoas no Brasil e no mundo todo. Segundo a OMS, 15% da população sofre com o problema no país, e 1 em cada 5 casais necessitam de ajuda especializada para conceber. Daí vem a importância de disseminar informações sobre um problema que envolve uma parte tão importante do ser humano: a formação de novas vidas. Por isso, junho foi designado como o Mês Mundial de Conscientização da Infertilidade.
A necessidade de um período determinado para falar sobre a condição vem da noção de tabu que ela ainda carrega em nossa sociedade, principalmente para os casais que não conseguem engravidar, muitos encarando o problema como uma falha pessoal. “Na clínica muitos de meus pacientes nem chegam a comunicar suas próprias famílias que estão passando por um tratamento do tipo,” comenta Fernando Prado, ginecologista e obstetra, especialista em reprodução assistida.
Isso ainda quando o par afetado procura ajuda junto à um médico, o que não é sempre o caso. “Existe um senso de constrangimento que afeta a família, e já conheci muitos casais que demoraram para me procurar, mesmo depois de anos tentando conceber, por conta disso,” explica.
Prado esclarece que dificilmente sem a ajuda de um profissional, e a análise do material genético de ambos os parceiros, será possível determinar qual é a raiz da infertilidade. O funcionamento dos órgãos de reprodução é complexo e envolve diversos aspectos, tanto físicos quanto emocionais. O parâmetro é que após um ano sem sucesso com a gravidez, é necessário buscar um especialista que fará uma averiguação extensa da saúde do casal.
Isso pode até surpreender muita gente, já que existe também a preconcepção que a infertilidade é um problema que só afeta mulheres, especialmente por conta da falta de informação que temos por vezes sobre o órgão reprodutor feminino.
Mesmo mulheres tendo maior propensão a condições que afetam a concepção, como síndrome do ovário policístico, endometriose ou até mesmo sua idade, que afeta os níveis de fertilidade, segundo outro levantamento da OMS, 40% dos casos de infertilidade no mundo, são ligados aos homens.
“Em geral, homens têm menos zelo pela saúde do que as mulheres,” complementa o especialista. “Fatores como peso e uma alimentação desregrada, ingestão de bebidas alcoólicas e o consumo de tabaco são fundamentais quando falamos de gravidez.”
Mesmo assim ele ainda frisa que é importante não julgar quando há dificuldades para aumentar a família. “Claro, é um período de estresse para os envolvidos, mas alegar culpa a qualquer um dos lados é improdutivo. A união entre as partes é o mais importante num momento de decisões importantes”, explica Prado.
Para ele é essencial ter paciência e manter a tranquilidade. “Pode ser algo simples de se resolver, como um desequilíbrio hormonal que quando corrigido possibilita a concepção,” ele complementa. “Ou até um caso que necessite que os óvulos sejam fecundados em laboratório, um processo mais longo, porém resolutivo da mesma maneira”, esclarece o especialista.
Por isso é tão significativo que a conscientização sobre a infertilidade exista em nossa sociedade, e por consequência sua normalização. Existem diversas soluções disponíveis com o avanço da tecnologia moderna, mesmo que pareça, por conta da carga emocional, algo sem saída. “Não há nada de errado com a dificuldade de conceber, e é mais comum do que parece, porque que muitas pessoas decidem não falar sobre suas experiências. Procurando ajuda especializada, sua vida e a do seu parceiro serão bem menos cansativas,” finaliza Prado.
Fernando Prado – Médico ginecologista e obstetra, especialista em reprodução humana, doutor pelo Imperial College London e pela Universidade Federal de São Paulo, diretor técnico da Neo Vita e diretor do setor de embriologia do Labforlife.
Médico ginecologista da Clínica Origen de Medicina Reprodutiva, Selmo Geber, esclarece as principais dúvidas sobre o assunto
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A infertilidade conjugal é um problema que afeta casais em todo o mundo, e pode ser causada, entre outros fatores, pelas mudanças no estilo de vida da sociedade. Após 12 meses de tentativas de gravidez, sem sucesso, o casal é considerado infértil. Para mulheres com mais de 35 anos, esse prazo é de 6 meses.
Cada vez mais casais têm precisado de ajuda médica para engravidar. Seja pela idade, no caso das mulheres, já que muitas estão priorizando a carreira e outros sonhos antes de aumentar a família, ou por outros hábitos de vida que podem prejudicar a fertilidade, como sedentarismo, uso de álcool ou drogas, má alimentação etc.
Apesar de ser um problema comum, a infertilidade ainda é um assunto pouco falado e que gera muitas dúvidas. O médico ginecologista da Clínica Origen de Medicina Reprodutiva, dr. Selmo Geber, esclareceu os principais mitos e verdades sobre o assunto.
Só a mulher pode ser infértil
De acordo com Geber, este é um dos maiores mitos relacionados à infertilidade. Hoje existem estudos que mostram que os homens são responsáveis por cerca de 40% a 50% dos casos de infertilidade conjugal. “O homem só não se torna infértil pela idade, como a mulher, mas diversos outros fatores podem causar o problema, como doenças e seus tratamentos e hábitos de vida, por exemplo”, explica.
A infertilidade masculina está relacionada a alterações no sêmen ou nos espermatozoides. Algumas possibilidades são a azoospermia, quando não há espermatozoides no sêmen ou problemas na espermatogênese, que dificulta a produção dos gametas e favorece a baixa qualidade dos espermatozoides.
A idade não deixa o homem infértil
Geber explica que a afirmação é verdadeira, porém existem alguns fatores que devem ser levados em consideração. “Sabe-se que a mulher apresenta maior dificuldade para engravidar a partir dos 35 anos, e que se torna infértil após determinada idade, quando passa pela menopausa. Isso não acontece com os homens, pois a produção de espermatozoides acontece durante toda a vida”, esclarece.
Porém, com o passar dos anos a qualidade do sêmen e dos espermatozoides é diminuída, já que há uma queda nos níveis de testosterona no organismo masculino. Essa queda hormonal se inicia por volta dos 65 anos e acontece de forma lenta.
Ao longo do tempo, isso pode afetar a qualidade e a quantidade dos espermatozoides no sêmen, o que faz com que as chances de gravidez diminuam. Pode haver maior dificuldade para que a fecundação aconteça, e também a formação de embriões de menor qualidade.
A alimentação pode interferir na fertilidade
Geber afirma que a alimentação pode sim interferir na fertilidade, e muito. Não só a alimentação, mas também diversos outros hábitos de vida podem estar relacionados à infertilidade feminina e masculina.
“Pessoas obesas ou que estão muito abaixo do peso considerado saudável podem apresentar alterações hormonais, que prejudicam a fertilidade. O alto consumo de carboidratos, como farinhas brancas e açúcares, também está relacionado à infertilidade. Esse tipo de alimento, quando em excesso, pode aumentar a insulina no organismo e causar uma resistência ao hormônio. A resistência à insulina é um dos principais causadores da síndrome dos ovários policísticos (SOP), que tem relação com a infertilidade feminina”, complementa o médico.
Geber alega, ainda, que o consumo excessivo de álcool e a falta de nutrientes e vitaminas no organismo também pode afetar a saúde e fertilidade de homens e mulheres.
Tratamento oncológico pode afetar a infertilidade
Segundo o médico, tal afirmação é verídica. Apesar do câncer não apresentar relação direta com a infertilidade, seu tratamento pode prejudicar o funcionamento dos órgãos reprodutores e afetar a produção de espermatozoides e a reserva ovariana.
“Os medicamentos utilizados na quimioterapia e a radiação da radioterapia são alguns fatores responsáveis por esse problema. A indicação para os pacientes diagnosticados com câncer é a preservação oncológica da fertilidade”, explica.
Infertilidade tem tratamento
Verdade! Graças ao avanço da ciência e da tecnologia é possível engravidar mesmo após o diagnóstico de infertilidade. “Antes de iniciar um tratamento, é necessário realizar a investigação da infertilidade para identificar suas causas. A partir daí é possível identificar os melhores procedimentos. Em alguns casos a fertilidade pode ser recuperada após tratar o problema que a afetou.
Quando isso não é possível, a indicação é a reprodução assistida. Atualmente existem três técnicas principais: a relação sexual programada (RSP), a inseminação intrauterina (IIU) e a fertilização in vitro (FIV). Além disso, existem diversos procedimentos complementares que podem aumentar as chances de um resultado positivo.
“A RSP e a IIU são procedimentos de baixa complexidade, indicadas em casos de infertilidade leve. A RSP é indicada quando a mulher possui problemas de ovulação e não há nenhum fator de infertilidade masculina. Já a IIU pode ser realizada quando o homem apresenta infertilidade leve a não existem alterações nos órgãos femininos”, completa o médico.
Geber esclarece que a FIV é a técnica de maior complexidade, indicada em casos mais graves de infertilidade feminina ou masculina, ou ainda quando outras técnicas não são bem-sucedidas. A fecundação é feita em laboratório e o embrião já em formação é transferido para o útero, para que a gestação possa se iniciar.
Existem ainda procedimentos como o congelamento e a doação de gametas, testes genéticos e outras técnicas que tornam a reprodução assistida ainda mais eficiente e com maiores chances de sucesso.