Segundo dados do Ministério da Saúde, estima-se que em abril ocorram cerca de 170 mil* internações para realizações de partos, em todo o Brasil. No Rio Grande do Norte, a projeção é de 3.333* internações para este tipo de procedimento.
Atenta às dúvidas sobre o impacto do coronavírus no parto e puerpério, a Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia) preparou uma série de recomendações que auxiliarão gestantes desde a escolha do hospital, chegada à maternidade e cuidados neonatais. A entidade aponta ainda que o novo coronavírus não é o único agente que pode impactar a saúde de mãe e filho, sendo, portanto, fundamental a mais completa assistência à saúde de ambos. Sendo assim, as orientações organizadas pelos ginecologistas Dr. Alberto Trapani e Dra. Sheila Koettker Silveira, coordenadores da Comissão Nacional Especializada em Assistência ao Abortamento, Parto e Puerpério da federação versam também sobre a segurança do parto hospitalar, se cesárea ou parto normal impactam na exposição ao vírus e sobre aleitamento.
Gestação
As repercussões da infecção sobre a gestação ainda não são totalmente conhecidas. Até o momento, não há dados que sugiram que a infecção seja causa de aborto, de malformação fetal ou de outras complicações obstétricas. O momento da interrupção deve seguir as mesmas recomendações da gestante não infectada. Sempre que possível o nascimento do bebê deve ser adiado caso a gestante apresente queixas respiratórias. No entanto, a interrupção exclusivamente por infecção por Covid-19 pode ser necessária em casos graves para melhorar a oxigenação materna.
Escolha do hospital/maternidade
O SARS-CoV-2 é um vírus muito infectante e existe o risco de contaminação em qualquer local. A principal forma de contágio do Covid-19 ocorre por meio do contato direto entre as pessoas, especialmente quando a pessoa contaminada fala, espirra ou tosse. Atualmente, a infecção pelo Covid-19 é considerada como sendo comunitária. Contudo, não há dados que sugiram que a gestante está mais propensa a adquirir a infecção.
A gestante que não tiver sintomas de Covid-19 pode manter sua opção quanto à escolha da instituição para seu parto. Cada maternidade tem suas características e realidades. Assim, indica-se que a gestante se informe previamente com a instituição. Caso apresente sinais e/ou sintomas, a futura mãe deve discutir com seu médico o melhor hospital. Essa escolha deve levar em consideração diversos fatores, como a equipe assistencial qualificada, equipamentos adequados, disponibilidade de laboratório e exames de imagem, banco de sangue, leito de isolamento, UTI neonatal e/ou de adulto, etc.
Chegada ao hospital/maternidade
A maior parte das maternidades já estabeleceram um fluxo de atendimento para reduzir ao máximo o risco de transmissão. Tudo é muito novo e os dados mudam diariamente. Até o momento, as poucas evidências disponíveis demonstram que o risco de contrair o covid-19 não é maior nas gestantes ou puérperas do que no restante da população e que o risco de transmissão vertical para o feto é mínimo ou inexistente.
Em todo o caso, os cuidados de prevenção devem ser os mesmos adotados fora do ambiente hospitalar: evitar contato próximo com as pessoas (manter distanciamento de pelo menos 1,5 metros), higienização frequente das mãos com água e sabão por pelo menos 20 segundos e/ou com emprego de álcool gel 70%, evitar tocar nos olhos, nariz ou boca com as mãos não lavadas, não compartilhar copos, talheres e objetos de uso pessoal, cobrir boca e nariz com lenço de papel ao tossir ou espirrar e usar máscara se houver sinais de gripe. Deve-se evitar acompanhantes (ou visitas) menores de idade ou com mais de 60 anos, portadores de qualquer sintoma respiratório, febre ou doenças crônicas.
A instituição deve manter o menor número possível de pessoas circulando. Recomenda-se também que se abstenha da presença das doulas.
Parto Normal ou Cesária: há diferença na prevenção?
O quadro clínico observado em gestantes com infecção pelo Covid-19 é semelhante ao observado em demais adultos, assim como as taxas de complicações e de evolução para casos graves. Pelo fato terem sido descritos poucos casos de gestantes com infecção, ainda não há confirmação científica de que possa ocorrer a transmissão do vírus para o feto no momento do parto.
O parto normal é sempre preferível, mas a indicação da via de parto deve seguir as características de cada caso. O médico deve definir o que for mais seguro para a parturiente e seu filho naquele momento. A escolha da via de parto (parto normal ou cesariana) dependerá das condições clínicas da mãe e do feto. Parturientes sem dificuldades respiratórias importantes podem se beneficiar com o parto normal. Por outro lado, nos casos em que a mãe está grave, a cesariana pode estar indicada. Pelo risco de piora súbita do quadro clínico, a monitorização do bem-estar materno e da vitalidade fetal deve ser intensificada.
Independentemente da via de parto, alguns cuidados devem ser tomados nos casos suspeitos ou confirmados de infecção pelo SARS-coV-2 para evitar a disseminação da doença tais como manter a parturiente em quarto de isolamento, o uso de máscara cirúrgica durante toda internação e a amamentação, suspender o contato pele a pele após o nascimento e dar banho precoce do recém-nascido.
Visitação
As regras para visitação são determinadas por cada instituição, de acordo com suas características. O ideal é evitar as visitas, tanto no hospital, quanto em casa. Hoje, com os aplicativos de videoconferência fica mais fácil aceitar isso.
Qual o risco da criança contrair o vírus na maternidade?
Os poucos casos descritos de infecção do recém-nascido sugerem que a infecção ocorreu após o nascimento, sendo necessária a implementação de medidas que diminuam a transmissão.
Puérperas com infecção pelo SARS-coV-2 (suspeita ou confirmada) devem ser mantidas em quarto de isolamento individual. Se a mãe estiver com quadro clínico estável e o recém-nascido for assintomático, o mesmo poderá ficar junto com a mãe em alojamento conjunto desde que haja possibilidade de manter a distância mínima de 2 metros entre o leito da mãe e o berço
Parto domiciliar pode ser uma alternativa eficaz para diminuir os riscos de contaminação pelo novo coronavírus?
Essa ideia é equivocada. À luz das pesquisas científicas, está bem definido que o parto realizado em ambiente hospitalar é capaz de assegurar melhores chances de cuidado à vida e à saúde da parturiente e do nascituro, sendo, portanto, mais seguro. Mesmo na época da epidemia do H1N1, que é muito mais perigoso para a gestante, o parto domiciliar não foi considerado como uma solução. Observa-se ainda que os riscos de um parto domiciliar são muito maiores do que os eventuais riscos de contaminação pelo novo coronavírus em uma maternidade.
Cuidados no puerpério
Não há relato de piora da gravidade nas puérperas com Covid-19. As medidas de prevenção são as mesmas descritas anteriormente. A entrada de acompanhante e de visita com fator de risco, com sintomas respiratórios ou com contato com pessoa sintomática deve ser evitada. A alta mais precoce, desde que as condições maternas e fetais possibilitem, deve ser estimulada para diminuir o tempo de permanência em ambiente hospitalar.
Recomenda-se os cuidados normais de higiene e as práticas de isolamento social definidas pelas autoridades de saúde. A amamentação deve ser realizada normalmente. As mulheres portadoras do Covid-19 que desejam amamentar e estejam em condições, devem ser estimuladas a fazê-lo e tomar as seguintes precauções para evitar a disseminação viral para o recém-nascido:
– Lavar as mãos antes de tocar no bebê, em bomba extratora de leite ou, mesmo, em mamadeira;
– Usar máscara facial durante as mamadas;
– Seguir rigorosamente as recomendações para limpeza das ordenhadeiras após cada uso.
Cuidados adicionais para o puerpério caso a mãe esteja com Covid-19
Como o vírus é altamente contagioso, é extremamente importante que a mãe tome cuidado ao manusear o bebê. Não há contraindicação à amamentação desde que as condições maternas permitirem. No intervalo entre as mamadas, o berço deve permanecer a, pelo menos, dois metros da mãe. Caso a mãe opte por não amamentar, existe a opção de extrair o leite manualmente ou usar bombas de extração de leite após higiene adequada. Um cuidador saudável poderá oferecer o leite ao bebê.
*Dados referem-se a média de internações realizadas nos meses de abril, entre 2010 e 2019, para procedimentos de Parto Normal, Parto Normal em Gestação de Alto Risco, Parto Normal em Centro de Parto Normal (CPN), Parto Cesariano em Gestação de Alto Risco, Parto Cesariano, Parto Cesariano c/ Laqueadura tubária.