Pesquisa da UFRN aponta que 79% dos potiguares não se sentem seguros ao transitar na ponte de Igapó
Por Evelin Monteiro
Fotos: Elias Medeiros
Erguida sobre o estuário do Rio Potengi, a Ponte de Igapó, cujo nome oficial é Presidente Costa e Silva, é a principal via de acesso da população da Zona Norte e de municípios vizinhos, como Ceará-Mirim e Macaíba, às demais zonas da cidade de Natal. Construída há 47 anos, a estrutura de concreto armado não passa por reparos há 27 anos. Embora a cidade conte hoje com um novo equipamento, a Ponte Newton Navarro, que liga os bairros de Redinha e Santos Reis, a Ponte de Igapó continua sendo muito utilizada, atendendo a um grande fluxo de transporte de passageiros. Pelo tempo que foi construída, já foi alvo de especulações sobre um possível desabamento, devido ao desconhecimento de reformas na estrutura.
Sua importância para o sistema de trânsito e os serviços de transporte na capital motivou um estudo realizado pelo Grupo de Pesquisa de Dinâmicas Ambientais, Riscos e Ordenamento do Território (Georisco), vinculado ao Departamento de Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). O trabalho buscou identificar qual a percepção da população potiguar frente ao risco de desastres tecnológicos na ponte e a real condição de conservação do equipamento, com a aplicação de questionário na internet e uma visita técnica com acompanhamento da Capitania dos Portos de Natal e da Marinha do Brasil, no dia 21 de março de 2017. Os resultados do estudo foram apresentados à Coordenadoria Estadual de Proteção e Defesa Civil (CEPDEC) durante o V SEM Desastres, seminário realizado pelo Georisco em outubro. O grupo, também, prepara um novo documento para encaminhamento ao Ministério Público do Rio Grande do Norte.
Com a visita técnica, os pesquisadores constataram danos causadas pela ação natural do meio ambiente, pela ausência de manutenção e pelo impacto de cargas que circulam na extensão da ponte. Entre as rupturas identificadas estão a desagregação do concreto, a oxidação dos pilares e algumas perfurações nas estacas de fundação. A dinâmica da maré e agentes externos como aumento da salinidade, erosões flúvio-marinha e eólica, além das chuvas são, em grande parte, os fatores responsáveis pela corrosão das ferragens da estrutura e desagregação do concreto.
Vinnícius Dionízio
Falta de manutenção e fatores naturais contribuem para a corrosão das ferragens |
“Nós tínhamos o conhecimento da falta de manutenção e queríamos saber se a população percebia isso. Nas visitas, comprovamos que os pilares da ponte apresentam patologias”, afirma o pesquisador Jhonathan Lima Souza. Relatórios do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) e do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea) também foram utilizados para sustentar a pesquisa. “A ponte de Igapó opera em uma capacidade de carga muito maior do que a prevista em seu projeto. Isso implica diretamente nos desgastes das estruturas, que também sofrem influência de agentes naturais erosivos”, explica Jhonathan Lima.
Com relação à percepção das pessoas sobre o equipamento, o estudo foi realizado com 289 que responderam à pesquisa por meio de questionário online e 100% dos entrevistados disseram acreditar que não ocorre nenhum tipo de manutenção periódica na ponte. Os resultados também apontam que 79% não se sentem seguros ao cruzarem o trecho de pouco mais de 500 metros e 88% declararam que já pensaram na possibilidade de desabamento da estrutura.
Dos participantes da pesquisa, 56% residem na Zona Norte de Natal, 22% na Zona Sul, 13% são de municípios vizinhos, 7% vivem na Zona Oeste e 2% moram na Zona Leste da cidade. Destes, 80% afirmaram que seriam prejudicados em uma possível interdição da ponte, o que demonstra a importância da edificação para Natal.
A estrutura tem 606 metros de extensão, 12,6 de largura e recebe um fluxo de 37 linhas de ônibus municipais, 14 linhas de ônibus interurbanos, 13 viagens diárias de trem, além do tráfego de aproximadamente 60 mil veículos diariamente. A última manutenção foi realizada em 1990, segundo o DNIT. Os resultados da pesquisa foram apresentados no IV Congresso Internacional de Riscos, Prevenção e Segurança, na cidade de Coimbra, em Portugal, de 23 a 26 de maio de 2017 e no II Congresso Brasileiro de Redução de Riscos e Desastres, no Rio de Janeiro, realizado de 11 a 14 de outubro.
Vinnícius Dionízio
Equipe fez visita técnica e levantou as causas da atual condição da ponte |
Grupo sugere sistema de gestão para a ponte
De acordo com os pesquisadores, a falta de um Sistema de Gestão aumenta a vulnerabilidade das estruturas da ponte, que somada ao perigo dos agentes naturais do ambiente e ao aumento do fluxo de carga, tornam maior a exposição ao risco de desastres nas estruturas. Dentro do sistema proposto é apontada a necessidade de aquisição de dados periódicos sobre a estrutura, estudos geotécnicos e a capacitação de um corpo técnico para vistorias e reparos.
“A falta de manutenção cria sensação de insegurança. Consideramos importante a prevenção dessas estruturas”, explicou Lutiane Almeida, coordenador do Georisco, grupo responsável pela pesquisa. Ele apontou, ainda, a necessidade de criação de sistemas de monitoramento para evitar acidentes e desastres. Apesar dos indicadores de vulnerabilidade, o grupo alerta que a ponte não corre o risco de cair.
Histórico
A primeira ponte sobre o rio, a Ponte de Ferro, existe há um século e, embora esteja sobre ruínas, resiste ao tempo e embeleza o estuário do Potengi, no trecho de quem entra e sai da Zona Norte de Natal. O equipamento foi construído pelos ingleses, em 1916, para suprir a demanda do fluxo ferroviário, impulsionando o setor exportador das commodities, base da economia extrativista do estado. Naquela época, até meados de 1950, o trem era o principal meio de transporte e servia para o escoamento da produção da cana-de-açúcar vinda de Ceará-Mirim e da produção do sal da cidade de Macau para o porto de Natal.
Com o aumento da frota automobilística, o monumento de ferro foi desativado em 1970 e edificada uma segunda ponte sobre o rio, desta vez de concreto armado, batizada de Presidente Costa e Silva e conhecida popularmente como Ponte de Igapó.
Mais tarde, em 1988, a última parte (sentido Centro-Zona Norte) foi edificada, aumentando a mobilidade, ganhado status de rodoferroviária. A ponte de Igapó continua sendo até hoje a principal via de acesso da zona norte às demais zonas da cidade. Depois dela, está a ponte Newton Navarro, inaugurada em 2007.