Festival Interativo de Música e Arquitetura chega em João Pessoa celebrando os 134 anos do Theatro Santa Roza, dia 3/11, sexta-feira
Com participação da arquiteta Noemia Barradas, trio pessoense formado por Ronedilk Dantas (violino), Leonardo Semensatto, (violoncelo) e José Henrique Martins (piano), fará concerto gratuito dentro da programação da terceira edição do FIMA. O festival nacional acontece até março de 2024, reverenciando importantes teatros históricos do Brasil
Depois de homenagear diferentes monumentos arquitetônicos no estado do Rio de Janeiro (1ª edição) e contemplar importantes palácios e museus Brasil afora (2ª edição), o FIMA – Festival Interativo de Música e Arquitetura, em sua terceira edição, se dedica a homenagear os teatros históricos do Brasil, promovendo uma convergência lúdica entre música e arquitetura em alguns dos mais importantes templos da arte e da cultura brasileira. Desta vez, os eventos acontecerão, até março de 2024, nos estados do Amazonas, Rio de Janeiro, Paraíba, Pará, Minas Gerais, Rio Grande do Norte, e Pernambuco, oferecendo concertos presenciais e virtuais, podcast, websérie, conteúdos interativos, aulas magnas e ações educativas para escolas. Com patrocínio do Instituto Cultural Vale por meio da Lei de Incentivo à Cultura – Lei Rouanet, todas as apresentações do FIMA têm entrada gratuita.
A nova temporada – que se iniciou no dia 5 de outubro, em Manaus, com a Orquestra Amazonas Filarmônica no icônico Teatro Amazonas, e no dia 8, em Niterói (RJ), com a Orquestra Sinfônica Jovem de Berlim no Theatro Municipal de Niterói – desembarga agora em João Pessoa (PB) não apenas para saudar um dos seus monumentos arquitetônicos de maior relevância artística e histórica, como também celebrar os 134 anos do Theatro Santa Roza, inaugurado em 3 de novembro de 1889. Desta forma, no próprio dia 3 de novembro, sexta-feira, às 20h, um trio pessoense de virtuosos irá festejar a data: Ronedilk Dantas, no violino e Leonardo Semensatto, no violoncelo e o pianista paranaense radicado em João Pessoa, José Henrique Martins, promovendo um diálogo entre a música, a arquitetura e a história deste ícone da cultura paraibana. Já os comentários sobre a arquitetura e história deste edifício ficarão a cargo da arquiteta Noemia Barradas.
“Um dos principais objetivos do FIMA é estabelecer uma conexão afetiva do público com importantes patrimônios históricos brasileiros. Nesta nova edição do Festival, alguns dos mais importantes teatros históricos brasileiros serão celebrados. Edifícios que ao longo do tempo testemunharam importantes capítulos da trajetória artística do país. Através da música e da arquitetura, seremos transportados a diferentes momentos de nossa história, criando uma experiência multisensorial que unirá passado, presente e futuro. Uma jornada de reconhecimento e apreciação da rica tapeçaria que compõe a identidade cultural brasileira.” afirma Pablo Castellar, Idealizador, Curador e Diretor Artístico do FIMA.
O Programa e a História do Theatro Santa Roza
O edifício de arquitetura eclética classicista – que evoca todo charme e elegância das construções erguidas no fim do segundo reinado – de exterior imponente e com surpreendente e encantador interior em madeira reverbera, logo na abertura do programa, o segundo movimento “Largo assai ed espressivo” do Trio para Piano e Cordas em Ré maior, Op. 70 nº 1, de Beethoven. A obra, apelidada de Fantasma, pela atmosfera peculiarmente misteriosa e etérea deste movimento, permite ao expectador
lembrar dois episódios históricos que aconteceram nesta casa. O primeiro, em junho de 1900, quando o ilusionista Balabrega e sua companhia artística chegaram à cidade de Parahyba, atual João Pessoa, para se apresentar no Theatro Santa Roza. Durante os preparativos para o espetáculo, o mágico e um membro de sua equipe, Louis Bartelli, tentaram corrigir um problema com um projetor defeituoso. Infelizmente, uma explosão ocorreu, causando um incêndio, a morte de ambos e de um espectador local. O teatro, que já era considerado assombrado, fechou suas portas por um tempo após o incidente. O nome de Balabrega se incorporou ao vocabulário local, usado como sinônimo de “enganador”, em referência à sua habilidade na arte da ilusão. Dizem que até hoje o seu fantasma passeia à noite por esse teatro. O segundo episódio curioso da história deste teatro aconteceu em 1968, quando nele foi apresentado “Macbeth”. A produção contactou a histórica Fábrica de Vinho Tito Silva de João Pessoa para que eles fornecessem vinho suficiente para encher a fonte do teatro. Uma pausa etílica criativa para quebrar a atmosfera pesada e sombria da tragédia inglesa.
Em seguida, as quatro canções de Carlos Gomes (“Analia Ingrata“, “Canta Ancor“, “Conselhos“ e “Rondinella“), o mais importante compositor brasileiro do segundo reinado. Aqui, o programa propõe um diálogo entre a influência italiana clássica na música de Gomes e a arquitetura eclética do teatro. Iniciada em 2 de agosto de 1852 e suspensa em 1882 por falta de recursos financeiros, a obra do Santa Roza foi retomada durante a gestão de Francisco da Gama Roza e inaugurada em 3 de novembro de 1889. Doze dias depois da abertura do teatro, foi proclamada a República no país, e Francisco da Gama Roza perdeu seu mandato, sendo o último presidente do Império no estado.
No início do século XX, o Theatro Santa Roza serviu como cineteatro, tornando-se palco para espetáculos cinematográficos. “Todos ao Cinema Santa Roza!”, clamou o jornal A União em uma publicação datada de 7 de julho de 1914. A fim de reviver a magia daqueles tempos e imergir no espírito daquele emblemático edifício neste período, serão apresentadas obras de compositores cujas músicas foram utilizadas como ferramenta de narração e expressão do cinema mudo. De Scott Joplin, seguem-se “The Entertainer” e “Weeping Willow“, e do brasileiro Ernesto Nazareth, a lendária “Fon-Fon“. Obras que com seus ritmos alegres e cativantes, frequentemente evocavam cenas lúdicas e cômicas que eram projetadas neste teatro.
A próxima peça do programa celebra um dos maiores nomes da música da Paraíba, José Siqueira. Nascido na cidade de Conceição, em 1907, Siqueira desempenhou um papel fundamental na consolidação da identidade musical da Paraíba e do Brasil, tendo sido fundador da Orquestra Sinfônica Brasileira em 1940 e da Ordem dos Músicos do Brasil. Do compositor, será apresentada sua “Suite Sertaneja”, obra que destila a essência do Nordeste brasileiro em uma jornada sonora pelo sertão, indo do ritmo vibrante do baião, passando pelo melódico lamento do aboio chegando ao vigoroso coco de engenho. Siqueira sempre reafirmou sua conexão com sua terra natal, tendo regido e se apresentado diversas vezes neste teatro, inclusive com a própria OSB em 1981.
Para lembrar que em setembro de 1930, no palco Santa Roza, se formulou a bandeira da Paraíba e se alterou o nome da capital para João Pessoa, será tocada um arranjo da música “Anayde Beiriz” de Elon Barbosa. A peça presta uma homenagem à poetisa cuja vida foi marcada pela paixão e à conturbada história política da Paraíba nos anos 1920 e 1930. Anayde era amante de João Dantas, o homem que assassinou em 26 de julho de 1930 João Pessoa, então presidente do estado da Paraíba. O assassinato ocorreu após João Pessoa ordenar uma revista no escritório de Dantas, expondo publicamente sua correspondência privada e suas relações amorosas. O crime desencadeou uma série de eventos que culminaram na Revolução de 1930, levando Getúlio Vargas ao poder. A obra de Barbosa revive não apenas a figura de Anayde Beiriz, mas também evoca esse período significativo e tumultuado da história da Paraíba.
A penúltima peça desse concerto traz uma obra de um dos compositores mais importantes de sua geração, Henrique Oswald. Representante do fim do século XIX e início do século XX, sua obra possui uma complexa interação entre nacionalismo e influências europeias. A peça “Serrana“, embora evocativa em título de paisagens brasileiras, ressoa a tradição romântica europeia, refletindo na música um pouco da sociedade brasileira da época, na qual o Theatro Santa Roza foi inaugurado. Uma sociedade que se voltava para o Velho Continente em busca de modelos de modernidade e progresso. Tendo vivido 35 anos na Itália, Oswald naturalmente infundiu seu trabalho com essa experiência. Uma obra que, assim como este teatro, encapsula a rica interseção cultural do Brasil daquele período.
Finalmente, o programa se encerra com o “Canto do Cisne Negro“, de Heitor Villa-Lobos. A obra permitirá recordar outros personagens importantes da música da Paraíba. Entre eles, Gazzi de Sá, destacado educador musical deste estado, que foi pioneiro ao introduzir o canto orfeônico, consolidando o curso “Soares de Sá” durante a presidência de Antenor Navarro. Seu legado ganhou ainda mais proeminência com sua colaboração com Heitor Villa-Lobos, um dos maiores compositores brasileiros. Em 1952, Villa-Lobos visitou a Paraíba e teve a honra de se apresentar e discursar no Theatro Santa Roza, reforçando ainda sua ligação com a cena musical da região. Após o trágico falecimento de Navarro, Gazzi nomeou a escola de música em sua memória. Complementando esse legado, Ambrasina, esposa de Gazzi, fundou uma renomada escola de dança na região.
Programação
Seguindo no objetivo de construir uma relação afetiva do público com os patrimônios visitados pelo projeto, através de um diálogo cativante e multissensorial, o FIMA – Festival Interativo de Música e Arquitetura, em sua terceira edição, irá celebrar também importantes orquestras brasileiras: a Orquestra Sinfônica do Theatro da Paz (Belém); a Orquestra Sinfônica do Recife; e a Orquestra Acadêmica da Universidade Federal de Juiz de Fora, além da participação especial da Orquestra Sinfônica Jovem de Berlim, reverenciando o Theatro Municipal de Niterói.
Além da programação presencial, o FIMA amplia sua presença digital. Os “Concertos Virtuais FIMA” serão exibidos gratuitamente nas redes sociais do festival, em formatos tradicionais e 360º. A websérie “Obras em Nota” antecipará o que será apresentado levando aos espectadores um entendimento mais claro sobre as escolhas das obras apresentadas em cada local, enquanto o podcast “Diálogos FIMA” trará insights e entrevistas com músicos, palestrantes e convidados especiais.
O FIMA também se dedica à educação musical, oferecendo aulas magnas gratuitas com artistas renomados e o projeto “FIMA na Escola”, uma ação educacional com o objetivo de sensibilizar crianças, estimulando novos caminhos de valorização de suas identidades culturais. Tudo isso para que melhor compreendam a importância do patrimônio histórico de suas comunidades.
Dia 03 de novembro de 2023
Local: Theatro Santa Roza – João Pessoa
Praça Pedro Américo, S/N – Centro, João Pessoa – PB
Horário: 20h
Entrada franca, por ordem de chegada e sujeito à lotação do Teatro.
Classificação: livre
Músicos:
Ronedilk Dantas, violino
Leonardo Semensatto, violoncelo
José Henrique Martins, piano
Palestrante: Noemia Barradas
PROGRAMA
LUDWIG VAN BEETHOVEN (1770-1827)
Trio para Piano e Cordas em Ré maior, Op. 70 nº 1″
II. Largo assai ed espressivo
Duração: 10 min
CARLOS GOMES (1836-1896)
4 Canções
Analia Ingrata 2’52”
Canta Ancor 2’25”
Conselhos 1’33”
Rondinella 1’20”
Duração: 7 min
SCOTT JOPLIN (1868-1917)
The Entertainer
Weeping Willow
Duração: 6 min
ERNESTO NAZARETH (1863-1934)
Fon-Fon
Duração: 3 min
JOSÉ SIQUEIRA (1907-1985)
Suite Sertaneja
I. Baiao
II. Aboio
III. Coco de engenho
Duração: 13 min
ELON BARBOSA (1993-)
Anayde Beiriz
Duração: 4 min
HENRIQUE OSWALD (1852-1931)
Serrana
Duração: 5 min
HEITOR VILLA-LOBOS (1887-1959)
Canto do Cisne Negro
Duração: 7 min
Ronedilk Dantas, violino: Iniciou seus estudos musicais em 1979 na Escola de Música Antenor Navarro em João Pessoa. Em 1980 ingressou no curso de Extensão da Universidade Federal da Paraíba, onde estudou violino sob a orientação do professor Yerko Tabilo, com quem viria finalizar em 1994, seu Bacharelado em Música. Foi vencedor e melhor intérprete de música brasileira no X Concurso de Jovens Instrumentistas de Piracicaba (1989), Também obteve o 1.° Lugar no I Concurso Norte-Nordeste da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Participou como recitalista e professor de violino do Festival de Música de Câmara de Curitiba (2001), dos 26.°, 27.° e 28.° Festival de Inverno de Campos do Jordão, do XIX e XX Curso Internacional de Verão da Escola de Música de Brasília e do XVII, XVIII e XIX Festival Eleazar de Carvalho. Ingressou em 1993 no Quinteto da Paraíba, iniciando uma notável carreira como camerista e divulgador da Música Nordestina e Armorial. Participou de diversos festivais nacionais e internacionais, como o Festival de Flandress. Com o referido conjunto realizou várias tournées pelo exterior, divulgando a Música Brasileira em países da Europa e América Latina, alcançando sempre grande repercussão de público e da crítica especializada. Em janeiro de 2019 realizou junto com o Quinteto uma residência artística na Universidade de Syracuse no estado de Nova York quando teve a oportunidade de realizar master classes, gravações, concertos didáticos e recitais. Atualmente é professor de violino da Escola de Música da UFRN.
Leonardo Samensatto, violoncelo: Natural de João Pessoa (PB), Leonardo Semensatto atualmente é aluno do mestrado em música – Violoncelo, na Universidade de Münster (Westfälische Wihelms Universität), na classe do professor Matias de Oliveira Pinto, na Alemanha. Formado como bacharel pela Universidade Federal da Paraíba na classe do Professor Dr. Felipe Avellar de Aquino, também foi violoncelista na Orquestra Sinfônica Municipal de João Pessoa, na Orquestra Sinfônica da Paraíba, no quarteto Eli-eri e no Quinteto Uirapuru. Leonardo iniciou os estudos com o violoncelo aos 11 anos, sob a orientação da maestrina Norma Romano, na Orquestra Infantil da Paraíba e posteriormente ingressou no curso de instrumento na Escola Estadual de Música Anthenor Navarro, onde permaneceu até sua graduação. Além do ensino formal com seus respectivos professores, Leonardo complementa sua formação no Brasil e na Europa, participando de concursos e festivais de música. Dentre os concursos destaca-se a premiação em 1º lugar no Concurso Nacional de Violoncelos de Ouro Branco, 2023. Nos festivais, destacam-se o 45o Festival de Inverno de Campos do Jordão e a Semana de Música de Câmara Suoni d’Autunno, em Montepulciano, na Itália. Em seus diversos cursos, Leonardo fez aulas com renomados violoncelistas, dentre todos, mais frequentemente com: Johannes-Moser, Matt Haimovitz, Antônio Meneses, Márcio Carneiro, Fábio Presgrave e Hugo Pilger. Paralelamente com a sua carreira acadêmica, Leonardo atua ativamente como professor de violoncelo. Lecionou classes no Instituto Cultural Casa do Béradêro na cidade de Catolé do Rocha (PB), na EEMAN, na 20a e 21a edição do Festival Eleazar de Carvalho na cidade de Fortaleza (CE) e em Masterclass nas Universidades Federais da Paraíba e do Rio Grande do Norte. Atualmente, na Alemanha é professor de violoncelo na Musikfabrik na Cidade de Steinfurt.
José Henrique Martins, piano: Doutor em Piano pela Boston University. Estudou com Henriqueta Garcez Duarte, José Alberto Kaplan, Cristina Capparelli, Anthony Di Bonaventura e Maria Clodes Jaguaribe. Participou de masterclasses com Homero de Magalhães, Olga Kiun, Claude Frank, Yara Bernette, Max Rostal, Charles Rosen e Nelson Freire. Atua como pianista e professor convidado em festivais e cursos de música: Bienal de Música Contemporânea Brasileira (RJ); Festival de Arte e Criatividade (Portugal); Virtuosi Festival de Música (PE); Festivais Internacionais de Música de Campina Grande (PB); Encontro Internacional de Pianistas de Tatuí (SP); Festivais Chopin/Schumann, Liszt/Mendelssohn e Debussy/Albeniz (PE); Civebra (Brasília); Festival Internacional de Música de Câmara do PPGM-UFPB (PB); Encontros de Piano da UFRN e UFAL. Como solista de orquestra atuou sob a regência de Gustavo de Géa, Elena Herrera, Marcos Arakaki, Thiago Santos e Lutero Rodrigues. É professor de piano nos cursos de graduação, mestrado e doutorado da Universidade Federal da Paraíba, desenvolvendo e orientando pesquisas sobre música brasileira para piano e técnica pianística.
Noemia Barradas: Arquiteta e Urbanista formada pela I. M. Bennet (1995), mestre em arquitetura pelo PROARQ-UFRJ (2006) e doutoranda em arquitetura e urbanismo pelo PPGAU-UFF, participou de cursos no Brasil e exterior no campo da Preservação do Patrimônio e Projeto. Desde 1996 leciona em instituições públicas e privadas em cursos de graduação e pós-graduação. Possui larga experiência no campo da Preservação do Patrimônio Cultural, atuando em investigações, ciência da conservação, projetos e obras de conservação e restauro de bens integrados, arquitetura e conjuntos urbanos. Ao longo dos últimos anos tem desenvolvido trabalhos junto aos órgãos de preservação do patrimônio (UNESCO, IPHAN, INEPAC), possuí escritório e é colaboradora em escritórios no Brasil, Colômbia, Espanha e Portugal. Foi Diretora Administrativa do IAB-RJ (2004-2005), e é Conselheira do IAB-RJ e sua representante no Fórum de Entidades em Defesa do Patrimônio Cultural Brasileiro. Atualmente é Conselheira Titular e Vice-presidente do CAU-RJ (Gestão 2021-2023).