Férias escolares para mães solo: sinônimo de felicidade ou sofrimento?
Muitos pais separados dividem as férias dos filhos: metade do período com mãe e outra com pai. E, para algumas mães, o que deveria ser um tempo de descanso e lazer, é sinônimo de sofrimento pela separação dos filhos
Julho é mês de férias escolares. Para algumas mães solo, principalmente, as recém separadas, que vivem com seus filhos, e que acordou com o pai das crianças a divisão dos períodos de férias escolares, esse é um momento de dor por ficarem mais tempo separadas dos filhos. Esse sofrimento pode ter diversas causas: ciúmes da criança com o pai, saudades ou até culpa não só pela separação, mas também caso aconteça algo com o filho enquanto ela não estiver perto. Para a psicóloga Bárbara Couto, essa culpa pode ser fruto da não correspondência à expectativa em relação ao papel da mãe. “É importante reconhecer esses sentimentos e entender que são gerados devido à pressão social sobre o papel da maternidade e toda sobrecarga que recai sobre a mulher. Também ter consciência de que o período de convivência com o pai é extremamente benéfico para o filho. Além disso, saber que o pai é o único responsável pela criação do vínculo com o filho. E, como, na maioria das vezes, os pais estão mais presentes em períodos como de férias, é preciso entender que é também um tempo importante para a criança”, explica ela.
E, as férias dos filhos podem ser um ótimo momento para a mãe começar a se enxergar como indivíduo e não somente no papel que ela própria mais se exige e se coloca: o de mãe. “A maternidade é apenas um dos papeis sociais da mulher. Claro que é natural que toda mãe priorize o filho. O que não é natural é se esquecer de que ela também é uma mulher, um indivíduo, que deve cultivar seus desejos, suas amizades, seus gostos, seu lazer. E, o período de convivência dos filhos com o pai pode ser um momento de quebra de paradigmas, em que ela se veja sem a responsabilidade física com filhos e se dê conta disso. Geralmente, sobre a mãe separada recai uma responsabilidade muito maior da criação das crianças. E ela negligencia sua própria necessidade para atender às demandas dos filhos. Nesse período de respiro, em que as crianças estão com os pais, é importante que a mães olhem para si, se cuidem e encontrem caminhos para recarregar as energias, ter melhor saúde mental, ter melhor autoestima, ter uma sensação de menos sobrecarga, de menos cansaço, e, consequentemente, ter uma maternidade mais leve, ser uma mãe mais afetuosa, mais paciente”, lembra Bárbara.
Férias de ser mãe
A psicóloga esclarece que esse sentimento de extrema cobrança sobre as responsabilidades das mães também acontece com as que vivem com os pais dos filhos. “Já ouvi de muitas mães casadas, em terapia, terem sentimento de inveja de mães separadas, que têm esse período de férias, sem os filhos. Geralmente as mães não abrem para outras esse sentimento, porque elas se sentem culpadas, elas sentem que falharam no seu papel principal. É Preciso entender que todos, inclusive as mães, somos humanos, com necessidades, paixões e acima de tudo, aprendermos a nos tratar, com a mesma gentileza que tratamos quem amamos”, revela Bárbara.
E, em tempos de redes sociais, muitos postam fotos e vídeos de famílias “perfeitas”, e isso também pode influenciar na autocobrança materna. “Um recadinho que eu dou para as mãe é: não se comparem com as mães de redes sociais. É um ambiente de famílias, crianças e pais perfeitos, que causam muito sentimento de inadequação, de fracasso e de culpa. É preciso entender que essa perfeição não existe. Todas as famílias têm seu desafio e cada família funciona de um jeito diferente. Não existe jeito certo ou jeito errado. Existe um jeito que faz sentido para cada situação. Temos que abraçar a nossa realidade e entender que os filhos não precisam de mãe presente 24 horas, mas de uma mãe feliz e que consiga exercer a maternidade dela mais descansada, mais tranquila, menos irritada. E assim ele também vai ser uma criança e, futuramente, um adulto mais feliz”, finaliza Bárbara.
A psicóloga Bárbara Couto
Bárbara Couto é Graduada em Psicologia pelo Centro Universitário de Brasília (UNICEUB) e tem Mestrado em Psicologia Clínica e Saúde pela – Universidad Europea del Atlantico (UNIAtlântico), da Espanha.
Ela também tem Especializações em Terapia Cognitivo Comportamental e Neurociências e em Comportamento, ambas pela PUC-RS e em Neuropsicologia Clínica, pela Capacitar.
Bárbara Couto escreveu dois livros, editados pela Drago Editorial, em versões impressa e e-book. O primeiro “Permita-se”, sobre relacionamentos abusivos e libertação emocional. E o segundo “Aceita-se”, sobre tabus e necessidade da autoaceitação para sobreviver em uma sociedade que tem dificuldade em aceitar.