Projeto de Extensão da UFRN completa 10 anos narrando histórias de comunidade do Estado
Por Lívia Rodrigues
Conhecer lugares novos, novas pessoas, sabores e histórias é uma das melhores sensações da vida. Poder compartilhar momentos e conhecimentos ao longo do tempo e guardar na memória cada um desses detalhes são experiências incalculáveis para quem as vive. E é justamente nessa perspectiva de traçar memórias que surge o projeto Narrativas, Memórias e Itinerários, coordenado pelas professoras Lisabeti Coradini (Antropologia) e Maria Angela Pavan (Comunicação Social) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), juntamente com alunos de graduação, mestrado e doutorado das duas áreas educacionais.
O projeto, que em 2019 completa 10 anos, é uma parceria da UFRN com o Programa de Extensão Universitária (Proext) do Ministério da Educação (MEC) e tem como objetivo principal resgatar a história esquecida dos lugares por onde passa. Além disso, trazer esses registros para a Universidade como um meio de preservá-los, para serem vistos posteriormente, possibilita que outras pessoas venham a ter contato com essas narrativas e essas personagens. “O projeto surgiu como um sonho mesmo, foi uma ideia que a Lisabeti teve na Antropologia e eu tive na Comunicação, só que estávamos sozinhas e, então, nos juntamos para fazer esse trabalho. E para que ele tivesse, de certa forma, um encaminhamento preciso, nós associamos à pesquisa e a outras pessoas que trabalhavam com histórias de vida para poder dar um salto maior e torná-lo real”, diz a professora Pavan.
Por se tratar de uma integração entre pesquisa e ensino, que vem atuando de maneira a aprimorar e discutir a respeito da necessidade de uma ação educativa por meio da imagem, então as produções audiovisuais que são o principal objeto de trabalho nesse projeto. Já foram produzidos vários documentários, fotografias recordatórias e, até mesmo, um CD intitulado Mestre Zorro: o samba canguleiro, contando com a participação de vários outros sambistas da bairro das Rocas, em Natal, onde cresceu um outro projeto centralizado e específico, chamado Samba das Rocas, que tem uma grande importância na comunidade.
Começando na parte central de Natal, já foi se espalhando por toda a cidade e também na região metropolitana. O primeiro trabalho foi com coletoras de mangabas da Vila de Ponta Negra. Depois seguiu para o bairro da Ribeira, onde conta a história do remo, passou pelos pescadores do Canto do Mangue, instalou-se com os sambistas das Rocas e agora chega a Ceará-mirim. Como se trata de um trabalho totalmente subjetivo, a equipe entra em um processo de imersão nas histórias das pessoas, dos lugares, das vivências e culturas por onde vai passando.
Segundo Coradini, para conseguir se aproximar das pessoas, não apenas para ouvir as histórias, mas também conhecer a sua essência, é preciso se entregar por inteiro. Em muitos momentos, usa-se das estratégias da Antropologia. “Quando descobrimos o remo, quisemos resgatar toda aquela história que estava ali por trás e de tanta importância para o nosso estado. Tava muito difícil de conseguir pessoas que dessem depoimento, então, usamos a antropologia para fazer isso. Eu e ngela fomos fazer aula de remo para poder entender o que tinha ali e mostrar uma certa confiança”, explica. O trabalho é tão intenso que a equipe chega a passar cerca de 3 a 4 anos na mesma comunidade, e segundo elas, “ainda assim não são suficientes para expressar a grandeza das histórias encontradas em cada lugar”.
Os registros de todas essas aventuras e um pouco da emoção passada por eles ao longo desses 10 anos de imersão, estão catalogados no blog do projeto. Que foi produzido por alunos e voluntários que tiveram a oportunidade de participar dessa ação de extensão e desse processo de construção da identidade do nosso Estado, além da ajuda das personagens das comunidades, afinal, são as histórias delas que estão sendo contadas.
No último dia 20 de março, foi lançado o livro Narrativas, Memórias e Itinerários, que é voltado para estratégias metodológicas na produção audiovisual e conta com a contribuição de profissionais das áreas de Comunicação Social e Ciências Sociais. As professoras Coradini e Pavan ainda tem o sonho de criar o Museu da História de Vida do Rio Grande do Norte, não apenas para guardar todo esse material de pesquisa, mas também, para ser um lugar onde as pessoas possam ir e contar suas histórias e assim haver uma interação aberta de conhecimento para a população potiguar.