Durante o debate sobre a Proposta de Emenda à Constituição 241/16 – a já aprovada pela Câmara e que tramita agora no Senado como PEC 55/16 – a comunidade educacional foi unânime em reafirmar os prejuízos da proposta para as áreas sociais, especialmente a educação. O debate, que contou também com a presença de vários estudantes participantes do movimento de ocupação das escolas, foi realizado nesta segunda-feira (31), na Comissão de Direitos Humanos do Senado Federal. A audiência pública foi presidida pela senadora Fátima Bezerra, vice-presidente da Comissão de Educação, que, juntamente como os senadores Paulo Paim, presidente da CDH, e Gleisi Hoffman, presidente da CAE, solicitou a reunião.
Segundo Daniel Cara, coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, a educação brasileira precisa de mais recursos dos que os que já estão vinculados na Constituição, para que as metas do Plano Nacional de Educação sejam concretizadas. “A PEC 55, desconstrói o PNE. Deixará o país sem se desenvolver por 20 anos. Se não fosse os estudantes, a sociedade não estaria debatendo essa PEC neste momento”, declarou.
O representante do Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica – CONIF, Carlos Frederico Rocha, lembrou que o ensino superior e o profissionalizante serão os mais afetados pela proposta. “ Em educação superior, nós estamos com um gasto de 0,97% do PIB, que está abaixo da média do gasto dos países desenvolvidos. Se a PEC for aplicada, nós cairemos para 0,58%. É um baita impacto na educação superior”, disse.
Priscila Cruz, coordenadora do movimento Todos Pela Educação, ressaltou que a PEC 241, não só afetará o ensino superior, mas a educação básica, inviabilizando programas como o Proinfância e o Alfabetização na Idade Certa. “Vamos salvaguardar a educação porque entendemos que o crescimento do futuro do Brasil depende do investimento em educação, em quantidade e qualidade. Podemos fazer com que a educação, como eixo central do projeto nacional, realmente vire uma realidade, aproveitando a mobilização da juventude, aproveitando o fato de que a educação entrou no debate nacional e de que, cada vez mais, estamos conscientes do impacto da educação na vida de todo cidadão”, destacou.
Para a senadora Fátima Bezerra, a proposta rompe com o pacto constitucional de 1988, que garante, como função social do Estado brasileiro, a universalização de direitos em áreas essenciais como educação, saúde, assistência social e seguridade social. “Os que defendem a idolatria do mercado não venham aqui nos acusar de que nós não reconhecemos a gravidade da situação fiscal do País, a necessidade de melhoria na eficiência e do controle dos gastos públicos. O que nós discordamos, veementemente, é do diagnóstico e do remédio que eles, o Governo ilegítimo, propõem frente à realidade pela qual passa o País. Essa proposta é extremamente nociva aos interesses da maioria da população”, criticou.
Fátima lembrou ainda que a PEC nº 241, a Medida Provisória nº 746 (reformação no ensino médio) e o projeto da Escola sem Partido são iniciativas que visam a enterrar de vez qualquer esperança de uma educação pública, gratuita, laica, de qualidade e inclusiva para todos e para todas. “Depois de 13 anos de avanços e conquistas na área da educação, norteados pelo acúmulo das Conferências de Educação e pelo amplo debate que resultou na aprovação do Plano Nacional de Educação, uma das agendas mais generosas, mais importantes, mais estratégicas para o País, nós estamos testemunhando retrocessos inimagináveis”, afirmou.
As críticas à repressão às ocupações também foi tema de debate. Para a estudante secundarista Ana Júlia Ribeiro, que participa das ocupações do Paraná e fez um discurso que viralizou nas redes sociais na semana passada, as ocupações refletem o desejo dos estudantes por um ensino público de qualidade. “Somos contra a repressão agressiva. Nós defendemos o direito de eles serem contrários, mas abominamos a repressão violenta. Estamos lá pacificamente e lutando por uma educação pública de qualidade”, lembrou.
A presidente da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas, Camila Lanes, denunciou que o movimento contrário às ocupações nas escolas não respeita o Código Penal. Também afirmou que o Ministério da Educação, em nenhum momento, convidou os estudantes para um diálogo. “Movimentos contrários às ocupações colocam em risco as vidas e a integridade física dos estudantes. O movimento desocupação, que é financiado pelo Movimento Brasil Livre -MBL, tem atacado as escolas com pedras, com ameaças, colocando estudantes contra estudantes”, repudiou.
Participaram também do debate representantes da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação – CNTE , da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, do Sindicato Nacional dos Técnicos de Nível Superior das IFES – ATENS, do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior – ANDES-SN, da Federação de Sindicatos de Trabalhadores em Educação das Universidades Brasileiras – FASUBRA, da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior – ANDIFES, da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimento de Ensino – CONTEE, do Conselho Nacional da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, do Fórum Nacional de Educação e da União Nacional dos Estudantes – UNE.