A “autoajuda” que o mundo precisa
O escritor, consultor e palestrante em desenvolvimento socioambiental, Celso Grecco, cunha o termo autoajuda coletiva. Para Grecco, o ser humano deve procurar satisfação pessoal na busca pelo aprimoramento da vida em sociedade
Num mundo em crise, com problemas de diversas ordens, em que aparentemente todos viram as costas a todos, não é de se estranhar que muitas pessoas, experimentando o sentimento de isolamento e tristeza, tentem encontrar saídas no único lugar em que elas conhecem e acreditam poder confiar: em si mesmas. Assim, ganham destaque conteúdos que falam diretamente à individualidade, mostrando às pessoas que ao quebrar barreiras emocionais e psicológicas, elas podem alcançar o sucesso em todas as esferas da vida e serem finalmente felizes. Estes conteúdos são facilmente encontrados nos chamados livros de autoajuda, os grandes best-sellers de nossa época.
O escritor, consultor e palestrante em desenvolvimento socioambiental, Celso Grecco, pensa diferente sobre o assunto e pretende mostrar isso em seu livro “A decisão que o mundo precisa – 7 caminhos para você sair da indiferença”, editado pela Editora Gente. Para o escritor, o alento, a satisfação pessoal, uma espécie de plenitude existencial, será encontrada em outro lugar: não na busca pelo aprimoramento individual, mas na busca pelo aprimoramento da coletividade.
Não que Grecco ignore ou despreze conteúdos direcionados ao desenvolvimento pessoal. Muito pelo contrário, ele os acha de suma importância, pois eles ajudam seus leitores a decodificar crenças limitantes e barreiras que os impedem de melhorar a autoestima, característica essencial para se bem viver no mundo. Contudo, para o escritor esse tipo de conteúdo peca em não mostrar uma dinâmica essencial à natureza e também ao homem. “Um princípio da biologia, uma espécie de lei que nos rege, desde que os primeiros seres começaram a habitar o planeta terra há bilhões de anos: a interdependência”, explica.
Ou seja, o ser humano necessita se relacionar com os outros, não podendo esquecer-se disso na sua busca pela felicidade. Conforme Grecco, tal propensão à interdependência é explicada pelo próprio organismo humano. “Imagine, por exemplo, seu corpo. Ele se desenvolve e funciona desde que você foi gestado no útero, regido por um sistema biológico que se organiza e seu autorregula o tempo todo, sem a sua interferência”, diz. Do mesmo modo, funciona a natureza. “As plantas, as florestas, os rios, mares, também são seres vivos organizados por um sistema biológico que rege o funcionamento sem que seja necessária a intervenção humana”, complementa.
Organismo humano e natureza atuam de maneira espontânea, interligando seus múltiplos componentes, para que o todo funcione com equilíbrio. Quando esse trabalho em conjunto se desmantela, o equilíbrio desaparece e o corpo e a natureza adoecem. Grecco acredita que a vida em sociedade atua nos mesmos moldes de um organismo vivo, buscando o equilíbrio do todo, através do funcionamento harmônico de suas partes. “Contudo, ao contrário do nosso organismo ou da natureza que funcionam sem que precisemos interferir, em sociedade temos de tomar decisões individuais e coletivas o tempo todo para que as coisas funcionem bem”, argumenta.
Todos os dias, pelos noticiários ou por experiência própria, percebe-se que o tecido social se esgarça, ou seja, as decisões individuais para que a vida social funcione com equilíbrio estão sendo tomadas de maneira equivocada. Inteligência coletiva é o conceito utilizado por Grecco para explicar a força que a impele o organismo a se autorregular. O problema, conforme o escritor, é que, enquanto membros de uma sociedade “somos cada vez mais ensinados a encontrar saídas individuais que nos protejam, na medida em que nosso país ou o mundo parecem seguir o caminho de um futuro incerto, ou pior, de um colapso”.
A consequência desse tipo de comportamento pode ser devastador para o equilíbrio social. A tendência é que surja uma geração de pessoas que busque satisfação pessoal ou profissional a qualquer custo. “Um dos mais perversos efeitos colaterais de agirmos sem pensar no outro é acabarmos nos tornando cada vez mais incapazes de nos sensibilizarmos com a dor do outro. De exercitarmos empatia, de nos colocarmos nos lugar do outro”, diz Grecco. Ao perdermos esse sentimento de que somos interdependentes, será cada vez mais comum, conforme o escritor, vivermos em uma sociedade onde prevaleça a lei do mais forte: aquela que faz acreditar que quem não se adaptar terá reduzidas ou, simplesmente, anuladas as chances de uma vida digna.
O antídoto para esse tipo de comportamento individualista, Grecco encontra no conceito de inteligência espiritual, traduzida pela capacidade de termos um sentimento do mundo e de fazermos algo a respeito. O consultor e palestrante em desenvolvimento socioambiental explica que a inteligência espiritual, como entendida por ele, não está relacionada com religião ou crenças de qualquer espécie. Ao contrário, diz respeito à essência humana, à inteligência coletiva que alerta a todos a não buscarmos o isolamento social, porque ele nos adoece individualmente e como sociedade.
Recorrendo à história e à biologia, Grecco esclarece porque a solidão concretamente faz mal ao ser humano. Desde que viviam em cavernas, os homens passaram a se organizar em grupos, com único e simples objetivo: segurança. Juntos, eles ficavam bem menos vulneráveis ao ataque de animais predadores, por exemplo. Assim, progrediram: de bandos a comunidades; de famílias à sociedade, aprimorando a necessidade que tinham de estar unidos. Do ponto de vista biológico, ainda hoje o homem entende a solidão como um risco, o que leva o ser humano que está desamparado a aumentar seu nível de cortisol, o hormônio do estresse, no organismo, que, por sua vez, gera ansiedade, depressão, enfraquecimento do sistema imunológico.
Dessa forma, pensar em si mesmo apenas, torna-se realmente uma questão de vida ou morte para o indivíduo. E se as pessoas são levadas a crer que a melhor forma de se viver no mundo é apenas por meio do cuidado de si, outro problema também impede que soluções a partir da união sejam buscadas: a sensação de impotência. Não é difícil constatar que, enquanto indivíduos, nosso raio de ação é bem pequeno e que algumas pessoas, bem poucas por sinal, são muito mais influentes que muitos de nós juntos. “Talvez por essa razão, inconscientemente somos levados a pensar que cabe a alguém, que não a nós, a solução daquilo que nos incomoda’, argumenta Grecco.
É neste ponto que o conceito de autoajuda coletiva apresentado por Grecco ganha seu pleno sentido. O consultor e palestrante em desenvolvimento socioambiental afirma que é possível tomar uma atitude para melhorar o mundo, mesmo diante de nossa fragilidade individual. “Se tantas vezes você se pega pensando que gostaria de fazer algo, mas não sabe o que nem por onde começar, então você está pronto para dar o primeiro passo na direção de uma transformação pessoal que vai ser boa para você, mas vai ser muito melhor para as tantas pessoas que se beneficiarão da sua decisão”, enfatiza.
Conforme Grecco, é muito difícil mudar o mundo, o que talvez faça muitas pessoas desistirem de dar até o primeiro passo. Entretanto, é bem mais fácil mudar a forma como nos relacionamos com o mundo. “É possível fazer algo que vai mudar nossa percepção e aumentar o nosso grau de satisfação pessoal. É possível fazer parte da construção de uma ética para o novo milênio e criar um legado”, diz. Nesse sentido, Grecco exorta as pessoas a agirem, mesmo que suas ações não causem impacto em muita gente. Tanto melhor, se conseguirem se engajar em uma causa social ou ambiental, promovida por ONGs. O importante é deixar a indiferença de lado, sair da imobilidade.