* Dr. Clay Brites é pediatra, neurologista infantil e um dos fundadores do Instituto NeuroSaber
Em 2007, a ONU (Organização das Nações Unidas) declarou a data de 2 de abril como o Dia Mundial da Conscientização do Autismo. Essa iniciativa ocorreu para chamar a atenção da sociedade e ajudar milhões de pessoas que têm o transtorno ou àquelas que ainda sequer foram diagnosticadas. O objetivo é levar informação à população para reduzir a discriminação, preconceito e negligência contra os indivíduos que apresentam o Transtorno do Espectro Autista (TEA).
O TEA afeta habilidades de percepção social e prejudica em intensidades diversas áreas do neurodesenvolvimento motor, cognitivo, sensorial e de comunicação social do autista que se manifesta diferente em cada pessoa. Desde muito cedo existem alguns padrões de comportamento bem conhecidos, pré-definidos, que podem ser observados pelos pais desde o nascimento, especialmente antes dos 16 meses. De acordo com o Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) e com diversas evidências científicas, os pais podem e devem começar a notar os primeiros sinais de TEA antes mesmo dos 3 anos de idade.
Alguns sinais que podem ser percebidos antes dos 12 meses são: desatenção à voz do adulto; não balbuciar; o olhar não procura a mãe quando ela se afasta; não estende os braços para pedir colo; falta de contato visual com a mãe no momento da amamentação; não responde com imitação ações como sorrir ou mostrar a língua.
Se até os 16 meses seu filho não der “tchauzinho” com as mãos; ausência da fala ainda perpetua; não procura com o olhar; não gosta de ser tocado; tem locomoção atípica, como andar nas pontas dos pés, pouca reciprocidade ao ser tentado interações com elas, atraso ou regressão de fala e comportamentos repetitivos devem ser os principais sinais de alerta. Na suspeita, deve-se procurar por um especialista (pediatra, neuropediatra ou psiquiatra infantil) deve ocorrer quando esses atrasos aparecem de forma significativa e incomodam o convívio com elas.
A partir do momento em que essa dúvida surge, a visita a um médico ou profissionais de saúde familiarizados com o tema deve ser urgente e indispensável pois, a partir da triagem, a criança poderá ser encaminhada a profissionais especializados e poderá começar um tratamento precoce. O diagnóstico do autismo deve ser feito por profissionais especializados na área e realizados a partir da observação direta da criança, entrevistas com os pais e pelo uso de questionários e instrumentos direcionados.
Após a confirmação do autismo, os pais devem seguir as orientações do grupo de profissionais de várias áreas como pediatria, neuropediatria, terapeutas ocupacionais, psicopedagogos, entre outros. São eles que vão trabalhar a intervenção e o desenvolvimento da criança junto à família e à escola. Neste processo, o mais importante é o diagnóstico precoce para que se comece a estimulação o mais cedo possível numa fase da vida muito mais sensível e com evidências de intervenção terapêutica eficaz. Com isso, o desenvolvimento neurológico da criança pode ser mais rapidamente preservado e obtermos resultados mais efetivos.
(*) Dr Clay Brites é Pediatra e Neurologista Infantil (Pediatrician and Child Neurologist); Doutor em Ciências Médicas/UNICAMP (PhD on Medical Science); Membro da ABENEPI-PR e SBP (Titular Member of Pediatric Brazilian Society); Speaker of Neurosaber Institute.
A médica Mirian Revers Biasão também ministra um curso sobre autismo em adultos pela Escola Internacional de Desenvolvimento Escola Internacional de Desenvolvimento
A médica Mirian Revers Biasão também ministra um curso sobre autismo em adultos pela Escola Internacional de Desenvolvimento
A médica psiquiatra e docente da Escola Internacional de Desenvolvimento (EID), Mirian Revers Biasão, teve o reconhecimento da revista científica Scientific Report, uma das publicações da Nature, uma das mais importantes do mundo, na última edição. A revista publicou o artigo “Computer-aided autism diagnosis based on visual attention models using eye tracking” – em português Diagnóstico de autismo pelo computador utilizando o rastreamento ocular baseado em modelos de atenção visual – no qual a especialista analisa o diagnóstico não invasivo com suporte computacional em diferentes níveis funcionais e de idades, podendo ser uma ferramenta para facilitar o diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista (TEA).
“Não há exames para detectar o autismo, o diagnóstico é clínico. Por isso é fundamental que haja profissionais capacitados para identificar os sinais e sintomas do TEA e o respaldo da tecnologia pode facilitar um diagnóstico certeiro. O reconhecimento da revista Nature é importante para projetar os avanços que a tecnologia de rastreamento ocular pode trazer aos pacientes”, afirma Mirian Biasão.
A doutora Mirian Revers Baisão atua há 11 anos em psiquiatria focada na infância e adolescência, com formação pela Universidade Estadual de Maringá, residência em psiquiatria pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), residência em psiquiatria da infância e adolescência pela PUC-Campinas, mestrado pela Universidade de São Paulo (USP) e também foi assistente de pesquisa no KIND-Karolinska Institutet, em Estocolmo, Suécia. Atualmente ministra o curso “O essencial para compreender o autismo em adultos”, voltado a profissionais da saúde e áreas biológicas, e parte da grade da Escola Internacional de Desenvolvimento. O curso acontece de forma remota e as vagas estão abertas pelo site https://psicologia.e-eid.com/cursos/o-essencial-para-compreender-autismo-em-adultos.html
Essa síndrome é geralmente diagnosticada já na primeira infância
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma síndrome que afeta o sistema nervoso caracterizada por problemas de comunicação, interação e comportamento. O alcance e os sintomas vão variar de pessoa para pessoa, mas as mais comuns são: dificuldade de comunicação, dificuldade com interações sociais, interesses obsessivos e comportamentos repetitivos.
O diagnóstico do TEA geralmente é feito já na primeira infância, como explica a psicóloga e coordenadora da área do TEA do Núcleo Paraense de Recuperação Motora Cognitiva e Comportamental (NUPA), Giulianna Victoria Yoshie Kume (CRP08/17797). “ Um dos critérios diagnósticos do Transtorno do Espectro Autista refere-se à presença dos sinais ou sintomas ainda na infância. Muitos deles, podem ser observados ainda antes dos 02 anos de idade, por isso é muito importante ficar atento”.
Nos bebês sintomas comuns são: baixo contato visual; pouco interesse por brinquedos e brincadeiras; alterações sensoriais como sensibilidade a sons, texturas, odores; irritabilidade; alterações de sono. Já nas crianças, os pais ou responsáveis devem observar pouca interação com crianças de mesma idade, não atender ao nome, atraso na comunicação e fala, interesse ou uso incomum de brinquedos e objetos, seletividade alimentar, dificuldade nas rotinas entre outros.
O diagnóstico e intervenção precoce, ou seja, antes dos 03 anos de idade é muito importante na redução dos atrasos e melhora na qualidade de vida dos indivíduos com TEA. “Os pais têm que estar atentos a presença de qualquer sintoma, quanto antes as terapias começarem, melhor será para a criança, reduzindo os sintomas, e oferecendo a ela um pilar de apoio ao seu desenvolvimento e à aprendizagem, melhorando sua qualidade de vida como um todo”, finaliza Giulianna.
Sobre oNúcleo Paraense de Recuperação Motora Cognitiva e Comportamental (NUPA)
A clínica é referência no atendimento a pacientes com danos neurológicos e possui equipe especializada em diversas áreas, como: Fisioterapia, Fonoaudiologia, Musicoterapia, Neuromodulação e Terapia Ocupacional. O do NUPA está nos métodos de tratamento avançados, como Theratogs, PediaSuit, Bobath, Integração Sensorial, Contensão Induzida, ABA e DENVER. Para mais informações, acesse as redes sociais Facebook @nupa.belem e Instagram @nupa.belem
Professor deve estar ciente do seu papel e preparado para criar estratégias diferenciadas de ensino
A Lei de Inclusão da Pessoa com Deficiência, aprovada no Brasil em 2015, garante ao indivíduo com necessidades especiais o direito e acesso à Educação. Apesar disso, garantir a inclusão do aluno autista em sala de aula ainda é um desafio não apenas para famílias, mas também para escolas e professores. Como o Transtorno do Espectro Autista (TEA) possui níveis e intensidades bastante amplos, fazendo com que o indivíduo possua características, sintomas e comportamentos variados e distintos, em boa parte das vezes os educadores se sentem despreparados para lidar com as situações que surgem quando são desafiados a trabalhar com um aluno autista.
A inclusão de um estudante com autismo exige adaptações e estratégias diferenciadas que a escola só consegue implantar, de fato, quando o tema é amplamente discutido dentro do ambiente escolar, com a propagação de todas as informações necessárias para que todos se sintam preparados para lidar com a questão. Além da sensibilização de docentes e colaboradores da escola, e da troca constante de experiências sobre o assunto, fatores como diagnóstico precoce, contato próximo com a família e o apoio de profissionais especializados que atendem a criança também contribuem para o processo.
De acordo com a gerente pedagógica da Conquista Solução Educacional, Aldrey Freitas, praticar a inclusão não é inserir um aluno com TEA em sala de aula e ter a expectativa de que ele participe e responda como os demais. “Esperar do indivíduo com autismo comportamentos socioafetivo e acadêmico iguais ao de alunos sem a ocorrência do transtorno pode, inclusive, exacerbar problemas comportamentais nessa criança”, alerta Aldrey. Segundo a educadora, é preciso, antes de tudo, buscar entender as razões que fazem com que aquele aluno grite, morda ou se recuse a permanecer sentado ou dentro de uma sala. “O professor só vai conseguir lidar de forma bem sucedida com a situação quando tiver a compreensão de que falta a esse aluno as competências necessárias para uma reciprocidade social, para o cumprimento daquilo que se espera dele, como a compreensão de regras sociais e a capacidade de se colocar no lugar do outro”, acrescenta.
Aldrey diz ainda que se faz necessário, dentro desse processo de inclusão, repensar alguns termos que às vezes são colocados, como, por exemplo, dizer que a criança autista não respeita regras. “É preciso conscientizar toda a comunidade escolar, começando pelos professores, de que tais comportamentos ocorrem porque o autista tem uma deficiência na área da sociabilidade – e não apenas classificar a criança ou jovem como portador de problemas comportamentais”, ressalta. Ela explica que essa consciência só ocorre a partir da abertura de um amplo debate escolar que envolve destacar quais os sinais do transtorno, quais os comportamentos nos diferentes graus de autismo, e, acima de tudo, debater sobre quais medidas precisam ser tomadas para auxiliar esse aluno a compreender essas regras sociais e como o professor pode ajudá-lo a desenvolver melhor as competências que se espera dele.
Algumas práticas podem auxiliar escolas e professores no processo efetivo de inclusão. São elas:
Criação e manutenção de rotinas
Crianças e jovens com autismo se sentem mais seguros quando têm uma rotina previsível. A repetição de processos e atividades em sala de aula contribui muito para a aprendizagem.
Adaptação ao ambiente
Antes de iniciar a experiência em uma escola ou turma nova, é bastante produtivo que o aluno autista conheça previamente a instituição e os ambientes que irá frequentar. Isso vai deixá-lo mais familiarizado com o espaço quando as aulas começarem.
Evitar barulhos altos em sala de aula
Algumas crianças com autismo têm hipersensibilidade a ruídos altos que podem incomodá-la. O ideal é que o autista chegue à escola um pouco antes das outras crianças, assim ele vai se acostumando gradualmente com os barulhos que irão se formando em sala de aula.
Explorar os interesses da criança
As crianças autistas podem ter interesses em temas específicos e demonstrar enorme fascínio por tudo que se relaciona a eles. Pode-se aproveitar isso para inserir esses temas em atividades de sala de aula e atrair a atenção do aluno, fazendo com que ele se concentre nas tarefas por mais tempo.
Não diferenciar conteúdos
Todos os alunos precisam aprender o mesmo conteúdo em sala de aula, ainda que seja necessário fazer algumas adaptações na forma como ele será apresentado e trabalhado com cada um. Fazer diferenciações de conteúdo não ajuda na inclusão do autismo em sala de aula.
Usar recursos visuais
Procurar falar de forma clara e objetiva ao dar orientações a fim de facilitar a compreensão do que deve ser feito e usar recursos visuais para ilustrar o que está pedindo. Imagens, símbolos e fotos podem ser usados.
Promoção de atividades coletivas
As atividades coletivas são muito importantes para a interação dos alunos. Sempre que possível, realizar tarefas, atividades, jogos e brincadeiras em grupo, incluindo o aluno com autismo.
Sobre a Conquista Solução Educacional
A Conquista é uma solução educacional que oferece aos alunos da Educação Infantil, do Ensino Fundamental e do Ensino Médio uma proposta de educação e futuro que integra a família, a escola e a comunidade. Com diversos recursos, material didático completo e livros de Empreendedorismo e Educação Financeira, o objetivo da solução é ajudar, de forma consistente, os alunos no processo de aprendizagem e estimular o desenvolvimento de suas capacidades. Atualmente, mais de 1700 escolas de todo o Brasil utilizam a solução.
O Dia Mundial de Conscientização do Autismo é lembrado anualmente em 2 de abril. A data foi criada pela ONU com o intuito de chamar a atenção da sociedade para o diagnóstico e o tratamento do transtorno
Por algum tempo, a falta de conhecimento, pesquisas e informações a respeito do autismo, foram consideradas grandes barreiras no tratamento do transtorno. Felizmente, hoje, com o avanço da medicina, é possível obter bons resultados. A intervenção precoce pode garantir qualidade de vida e até mesmo mudar o futuro de pessoas com transtorno do espectro autista.
O tratamento adequado, bem como o entendimento da situação, apoiado por uma boa relação da família, amigos, professores e conhecidos tem impacto significativo e podem ser cruciais para que os pacientes tenham uma vida adulta independente.
O autismo ou Transtorno do Espectro Autista (TEA), segundo os novos manuais do Código Internacional de Doenças (CID), se caracteriza por dois pilares, os déficits qualitativos e persistentes da comunicação e da interação social; e o que diz respeito aos padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades.
De acordo com Roberta Caramico Pinto, neuropediatra e médica convidada da indústria farmacêutica Prati-Donaduzzi para falar sobre o transtorno, “exemplos dos déficits qualitativos da comunicação e da interação social, são alterações de comunicação verbal ou não verbal”.
Em relação aos padrões comportamentais restritos e repetitivos, existem quatro principais traços:
– Estereotipias: podem ser motoras ou verbais, portanto, pode ser um comportamento como andar nas pontas dos pés, repetir uma frase ou palavras;
– Adesão a rotinas e rituais: ser adepto a uma rotina inflexível, ou seja, qualquer experiência fora do costume gera desconforto;
– Interesses fixos e altamente restritos: interesse por um assunto ou objeto que se manifesta de uma forma muito profunda, deixando a pessoa monotemática;
– Questões sensoriais, hiper ou hiperatividade a estímulos sensoriais: alterações sensoriais que afetam o cotidiano, por exemplo, hipersensibilidade ao barulho ou a luz, causando reações extremas até de ordem fisiológica, como o vômito.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que, em todo o mundo, uma em cada 160 crianças tenha o transtorno.
Graus de autismo
O autismo pode ser dividido como leve, moderado e grave, porém, dentro de cada grupo existem outras divisões, como um grau bem leve ou um leve mais para moderado. “É daí que vem o nome espectro. Uma maneira de enxergar como uma régua, em que há vários pontos, e não só 1cm, 2cm, e assim por diante”, afirma a neuropediatra. Existem crianças que apresentam sintomas leves de autismo, e que são diagnosticadas em torno dos 2 ou 3 anos de idade.
Diagnóstico
Normalmente, o diagnóstico acontece quando a criança ingressa na escola e passa a ter contato direto com outras, é quando os primeiros sinais aparecem, ou seja, problemas na comunicação, dificuldades em se sociabilizar e alterações no comportamento.
O diagnóstico do TEA é baseado nos critérios clínicos determinados por especialistas e descritos no Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. Atualmente, não existe um marcador biológico que possa acusar o TEA, ou seja, não há exames laboratoriais que identificam a doença, como o exame de sangue, de imagem ou genético. A forma mais precisa de chegar ao diagnóstico é por uma avaliação multidisciplinar realizada por profissionais com experiência na área.
“Não existe idade mínima para se fazer o diagnóstico de TEA. Podemos observar sinais de alarme antes mesmo de a criança completar o primeiro ano de vida. Estudos mostram que é possível realizar o diagnóstico de TEA de forma precisa em crianças com menos de dois anos de idade”, afirma a neurologista Flora Brasil Orlandi, também convidada pela Prati-Donaduzzi.
Tratamento
Estudos científicos mostram que o tratamento do TEA deve se basear em terapias de alta intensidade com equipe multiprofissional especializada e qualificada, especialmente nas técnicas baseadas na Análise de Comportamento Aplicada (ABA).
Além da terapia ABA, que geralmente é conduzida por psicólogos, dependendo da necessidade, pacientes que têm o transtorno tendem a necessitar de terapia com o apoio de fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, psicopedagogos, dentre outros profissionais, além do uso de fármacos. “É possível utilizar medicamentos para auxiliar no manejo de sinais e sintomas associados ao TEA, como agitação, agressividade, impulsividade, muitas vezes ajudando no aproveitamento dos pacientes na terapia”, ressalta Orlandi.
*Este conteúdo é elaborado pela indústria farmacêutica Prati-Donaduzzi, com o objetivo de levar mais informações sobre saúde à população. A empresa também oferece para médicos, de forma exclusiva, o acesso a conteúdos sobre diversas patologias, entre outros materiais no website: https://www.evolucaoparavida.com.br/.
SOBRE A PRATI-DONADUZZI
A Prati-Donaduzzi, indústria farmacêutica 100% nacional, é especializada no desenvolvimento e produção de medicamentos. Com sede em Toledo, Oeste do Paraná, produz, aproximadamente, 12 bilhões de doses terapêuticas por ano e gera mais de 4,5 mil empregos. A indústria possui um dos maiores portfólios de medicamentos genéricos do Brasil e desde 2019 vem atuando na área de Prescrição Médica.
Por meio de uma linguagem simples, o livro “Desatando os Nós do Transtorno do Déficit de Atenção – TDA”, de Margarete Chinaglia, fala sobre as características principais do transtorno, traz exemplos reais, curiosidades e ensina como lidar com as situações nas diferentes faixas etárias.
Segundo a autora, a proposta é oferecer um suporte para as aflições, além de mostrar a realidade do transtorno e apresentar possíveis caminhos para se encontrar soluções. “Por exemplo, falo sobre a importância de transformar o Transtorno do Déficit de Atenção (TDA) em aliado. O objetivo é transformar os ‘Nós’, ou as dificuldades, em laços ‘frouxos’ para garantir a qualidade de vida”, comenta Margarete.
A obra é voltada para todos os públicos: leigos, para quem tem TDA, familiares e profissionais como psicólogos, neuropsicólogos, pedagogos, psicopedagogos e professores.
Segundo livro sobre o tema
“Desatando os Nós do Transtorno do Déficit de Atenção – TDA” é o segundo livro que Margarete lança sobre o tema. O primeiro, intitulado “Transtorno do Déficit de Atenção – TDA: sob o ponto de vista de uma mãe”, tinha como objetivo compartilhar a vivência pessoal com sua filha que tem TDA, mostrando os desafios de todas as fases da vida, da infância à idade adulta. “O atual já é mais técnico, com conteúdo informativo sobre o TDA e exemplificações reais da vida cotidiana.”
Chinaglia comenta ainda que a obra traz um histórico sobre o TDA, quando surgiu e quando chegou no Brasil. Fala sobre regiões do cérebro que o transtorno atinge, patologias que podem se associar ao TDA/TDAH, descreve os sintomas em cada faixa etária.
Apresenta ainda formas de lidar e agir com crianças, adolescentes e adultos com TDA/TDAH, tratamentos disponíveis atualmente no país, curiosidades, mitos e verdades entre outros assuntos.
Pesquisa e vivência
A escritora conta que estudou e pesquisou o assunto a fundo para ajudar sua filha e precisou aprender a lidar com o TDA para driblar os sintomas e as consequências do transtorno.
O prefácio da obra foi escrito pela própria filha. A ideia é que a visão dela possa dar um significado no modo de viver e de sentir o transtorno em todas as manifestações e, principalmente, nas escolhas durante a vida.
– O livro traz um suporte como agir, ou como driblar, as características e os obstáculos sem se deixar dominar. Ao contrário disto, usar o TDA a seu favor – conclui.
Com o aumento do home office, novos obstáculos foram encontrados no dia a dia do trabalhador e na forma como as empresas olham para eles. Mesmo no trabalho à distância, é preciso identificar absenteísmo e presenteísmo e, mais do que isso, identificar suas causas.
O presenteísmo é o fato de estar de corpo presente no ambiente de trabalho, mas não ter produtividade, ou seja, é como estar com a mente em outro lugar. Além de desmotivação, esse fenômeno pode ocorrer por diversas causas e até mesmo por transtornos do indivíduo.
Com isso, as empresas passam a olhar mais para as essas possibilidades e o TDAH, o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade passa a ser mais falado dentro dos ambientes. Você sabe do que se trata? Tire suas dúvidas sobre ele agora mesmo!
O que é o TDAH?
O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade é um transtorno neurobiológico que tende a aparecer na infância e, frequentemente, acompanha o indivíduo por toda a sua vida.
Esse transtorno se caracteriza por sintomas de desatenção, inquietude e impulsividade e é reconhecido oficialmente por vários países e pela Organização Mundial da Saúde, a OMS.
Geralmente, o TDAH é percebido durante a infância, até os 12 anos, no período de fase escolar. Porém, muitas pessoas vivem com o transtorno e não são diagnosticadas corretamente em nenhum momento da sua vida.
Muitos especialistas afirmam que as pessoas já nascem com o transtorno, mas outra parte da comunidade científica acredita que é possível desenvolver o TDAH até mesmo depois de adulto.
Essa síndrome pode ser classificada em três níveis:
TDAH com predomínio de desatenção.
TDAH com predomínio de hiperatividade e impulsividade;
TDAH combinado.
Em todas as idades, os portadores do transtorno estão sujeitos a desenvolver outras doenças como ansiedade e depressão e é justamente por isso a importância do diagnóstico e tratamento.
Quais os sintomas do TDAH?
Os sintomas e consequências do TDAH podem refletir no convívio social e familiar, afetando também desempenho escolar ou profissional dos portadores.
Os sintomas se manifestam a partir do nível da síndrome. O TDAH com predomínio de desatenção faz com que os portadores tenham dificuldades de concentração, problemas na organização de atividades, dificuldades em seguir instruções, deixam tarefas inacabadas, entre outros.
Essas pessoas se distraem com facilidade, esquecem o que tinham para fazer, perdem suas coisas, não conseguem ter atenção a detalhes, demoram para iniciar e terminar tarefas e podem cometer erros por descuido ou distração.
Nos casos em que prevalece a hiperatividade, os indivíduos com TDAH são inquietos, agitados, falantes e têm problemas para manter o silêncio, até mesmo em momentos necessários. É destaque também para impulsividade, o agir sem pensar, dificuldade em ouvir perguntas e respostas até o fim, precipitação para falar, entre outros.
Como é o diagnóstico do TDAH?
O diagnóstico da síndrome é inteiramente clínico, feito por psiquiatras, neurologistas ou até mesmo pediatras, na fase infantil, com base nos sintomas e histórico do paciente.
Não basta estar desatento para se diagnosticar com TDAH, é preciso investigar histórico clínico, infância e os sintomas devem se manifestar pelo menos em dois ambientes diferentes, seja escola, casa, lazer ou trabalho, de forma contínua por, pelo menos, seis meses.
Existe tratamento para TDAH?
O tratamento para a síndrome se baseia na intervenção multidisciplinar envolvendo saúde física, mental e pedagógica. Podem existir associações com medicamentos, que devem ser prescritos por profissionais.
É importante, seja em empresas, em casa ou em qualquer ambiente, admitir que o TDAH é uma síndrome e não uma “falha de comportamento” do indivíduo. É preciso que os gestores e empresas entendam sobre a doença, conheçam sobre as necessidades do portador e saibam que problemas de produtividade não são simples má vontade, mas sim dificuldades reais em organização e planejamento.
É importante acompanhamento e compreensão para que os portadores do TDAH não se sintam excluídos ou rejeitados no ambiente de trabalho, afinal, são profissionais perfeitamente capazes como qualquer outro.
Você já conhecia sobre esse Transtorno? Como sua empresa lida com os diferentes perfis de pessoas e portadores de qualquer comorbidade? Repense suas políticas e inclua os mais diferentes profissionais no ambiente!
O livro conta com dicas de como as pessoas que convivem com a síndrome podem encontrar a própria identidade Créditos: Divulgação
Sem medo de falar a verdade, Leonardo Bertolli Kriger, de 20 anos de idade, conta como é lidar com o preconceito e como criou coragem para contar sua história por meio das palavras
A Síndrome de Asperger muda a forma como as pessoas percebem o mundo e interagem com outras pessoas. É tratada como um dos perfis do autismo, chamado de Transtorno do Espectro Autista (TEA). Segundo uma pesquisa desenvolvida pelo Centro para o Controle e a Prevenção de Doenças do Governo dos Estados Unidos, cerca de 1% da população mundial tem algum tipo de transtorno. No recém-lançado livro “Você sente o que eu sinto?”, o estudante de Direito Leonardo Kriger conta sua história, desde o nascimento, passando pelo diagnóstico da Síndrome de Asperger, pela descoberta da superdotação, até os desafios que enfrenta nos dias atuais, aos 20 anos de idade.
No prólogo do livro, a psicopedagoga Liziane Pinho Bertolli Kriger, mãe do Leonardo, explica como é ter um filho especial. “Quando ele tinha 12 anos, resolvi levá-lo a uma neurologista, que nos deu o diagnóstico de Síndrome de Asperger. Juntamente com essa notícia vieram a incerteza, o medo, o pavor, mas o mais importante não nos faltou: o amor maior. Se já o amávamos, a partir desse dia, passamos a amá-lo muito mais”, relembra.
Na obra, Leonardo conta como a arte da escrita se tornou uma função terapêutica extremamente importante, fazendo com que ele conseguisse externalizar suas frustrações e anseios. O curitibano também dá detalhes minuciosos de toda a sua vida e, a cada página, traz um aprendizado diferente. “Dou algumas dicas de como as pessoas que convivem com a síndrome podem encontrar a própria identidade”, explica o autor.
Numa das passagens, ele lembra que foi submetido a testes psicológicos que revelaram sua superdotação. Os testes mostraram que ele estava muito acima dos índices considerados normais para aquela faixa etária. “Se esse ‘super’ fosse um adjetivo para herói, meu ‘superpoder’ seria a peculiaridade. Portanto, ouvir que eu tinha superdotação foi algo que, no meio de tanta angústia, acabou por se tornar um farol que me ilumina até hoje”, ressalta.
Atualmente, Leonardo é estagiário de um renomado escritório de advocacia, onde, segundo ele, redescobriu a sua essência. “Demorei para descobrir que não sou Asperger, sou superdotado. Vivi como Asperger e, como Asperger, senti todas as dificuldades que eles enfrentam. Por isso, precisamos entender que precisamos nos amar mais e julgar menos”, finaliza.
Criado pela Organização das Nações Unidas (ONU), o dia 02 de abril é o Dia Mundial da Conscientização do Autismo. Apesar de não ter cura, é possível conviver com o transtorno e superar os desafios do Autismo durante a vida. Para isso, é fundamental discutir sobre o tema e mostrar para as famílias a importância do diagnóstico precoce e do tratamento correto.
Afinal, o que é o Transtorno do Espectro Autista (TEA)? O autismo é uma condição entendida como uma síndrome comportamental que leva a inabilidade, incapacidade ou desinteresse de interação social, problemas para comunicar-se com os outros e comportamentos repetitivos e interesses fora de contexto, todos resultantes de fatores genéticos e ambientais. Ele acontece em diferentes graus: leve, moderado e severo.
Trata-se de um transtorno do neurodesenvolvimento com características que podem ser observadas nos primeiros meses de vida até os dois anos pelos pais ou cuidadores e confirmada por meio de uma consulta a um especialista a fim de permitir um diagnóstico precoce.
A intensidade é definida a partir do grau de autonomia, dos atrasos de problemas de linguagem e da incapacidade de se integrar e conduzir atividades sociais no dia a dia. Geralmente, apresentam problemas na interação, na comunicação e no comportamento em todos os ambientes que frequentam. Entretanto, mesmo diante de todas as dificuldades, é possível ajudar o filho a superar os desafios do TEA e conviver com o transtorno em família, com amigos e na escola.
Para isso, é essencial descobrir o autismo o mais cedo possível! Isso permite que intervenções sistematizadas e intensas sejam realizadas logo nos primeiros meses ou anos. Nesse período, o cérebro está mais permeável e aberto para ser modificado. Dessa forma, é possível reduzir os sintomas, diminuir os atrasos de desenvolvimento e corrigir os desvios de linguagem e de comportamento.
Um dos indícios do autismo em bebês são ausência ou pequeno contato visual, pouca resposta ao chamado da mãe, preferência por querer permanecer no berço com pouco ou nenhum interesse social, ausência de balbucia até os seis meses de vida, hiperfoco nas mãos das pessoas ou em objetos, irritabilidade e choro frequentes.
Na infância ou na juventude, o autista tem uma dificuldade de percepção das formas regulares e naturais do rosto, gerando um incômodo muito grande, uma dificuldade de compreensão e percepção a partir de gestos faciais e corporais. Ocorre que as áreas do cérebro responsáveis pela empatia voltada para o contato visual também são deficitárias. Muitas vezes, esse paciente não sente necessidade de olhar nos olhos.
Na vida adulta mais de 85% dos autistas tem algum problema psiquiátrico associado e/ou outras comorbidades. Tanto a genética quanto a biologia feminina são fatores de proteção para o desenvolvimento do autismo e, muitas vezes, é mais fácil de ser mascarado, pois se misturam ao perfil mais afetuoso das meninas.
O tratamento é multidisciplinar. Muitas vezes, é necessário o acompanhamento pelo neurologista infantil, psicólogo, fonoaudiólogo, entre outros profissionais. As terapias são muito importantes para que, ao longo dos anos, a sociabilização e a comunicação aconteçam da melhor forma possível.
É essencial que profissionais das áreas da saúde e da educação busquem mais conhecimento e compreendam melhor todo o transtorno para tentar amenizar as dificuldades provocadas pelo TEA. Assim, conseguiremos tratar essa condição de maneira mais adequada e responsável. Quanto mais informações sobre a condição as pessoas tiverem, menor será o preconceito e mais fácil sua identificação.
(*) Dr. Clay Brites é pediatra, neurologista infantil e um dos fundadores do Instituto NeuroSaber.
Michelli Freitas alerta para o diagnóstico precoce de autismo: fiquem atentas aos sinais
“Cada criança tem seu tempo de desenvolvimento”. Essa é uma frase muito comum entre as mães, que acaba acalentando o coração para qualquer atraso que o filho possa vir a ter, mas também pode tirar um alerta: até que ponto é comum um atraso no desenvolvimento infantil?
Michelli Freitas, pedagoga, psicopedagoga, analista do comportamento e diretora do IEAC (Instituto de Educação e Análise do Comportamento), foi mãe pela primeira vez aos 24 anos. Tudo ocorria como deveria ser. “Nós íamos ao parque pela manhã, ele tinha todos os estímulos que precisava, atenção, carinho, eu fui mãe bem jovem e era saudável. Não havia nenhum agravante para pensar que meu filho poderia ser diferente de outras crianças”.
Durante a festa de um ano, a mãe conta que fez todos os preparativos e aguardava ansiosa pelo dia que acabou sendo repleto de choro e desconforto do filho. Diogo Filho era uma criança mais reservada, não falava, e nenhum desses sinais alertou os pais. “Hoje eu tenho consciência de que é preciso estar atenta a cada passo do desenvolvimento de uma criança”, explica Michelli Freitas.
Foi no aniversário dela, em 2014, quando estava grávida do segundo filho que recebeu o diagnóstico. Após a sugestão de uma amiga de buscar saber se a criança teria deficiência auditiva, a Michelli fez várias pesquisas pela internet até se deparar com a informação sobre autismo. “Eu fiquei desesperada, perdi o chão. Primeiro levamos Diogo à fonoaudióloga, depois neuropediatra, e depois de um tempo veio o diagnóstico”. Freitas, assim como várias mães, desconhecia o autismo e como proceder para ajudar o filho. Iniciou então um processo de busca profissional, do que deveriam fazer para ajudar o filho e se depararam com a falta de preparado de muitos deles.
A mãe estudou muito, foi para o exterior entender como poderia melhorar a qualidade de vida do filho, e então se especializou em ABA, se formando em analista do comportamento. Ela e o marido decidiram que seriam, a partir de então, um apoio para essas famílias desassistidas e fundaram o Instituto de Educação e Análise do Comportamento (IEAC), onde atuam na formação de pais e profissionais para o desenvolvimento de crianças autistas. Hoje já são mais de 20 mil alunos, dentre pais e profissionais de saúde e educação, que passaram pelo IEAC.
A psicopedagoga alerta para pontos importantes que as famílias devem perceber nas crianças. “Existem algumas formas dos pais ficarem atentos aos sinais. Assim como na introdução alimentar que existem etapas, no desenvolvimento social também. Então, perceber se a criança tem atraso na fala, se chora muito, principalmente quando está próxima à muitas pessoas. Se ela consegue se comunicar apontando objetos; como é a interação dela com o mundo ao redor”, ressalta a psicopedagoga.
Ainda hoje se tem poucas informações oficiais sobre autistas no Brasil. É pouco divulgado, discutido e por isso muitas vezes motivo de desapontamento dos pais e também o preconceito por um todo. “Precisamos ter uma comunidade fortalecida para ajudar nossos filhos autistas. Precisamos de informações, de terapias corretas, de profissionais atentos e que façam diagnóstico certo, quanto mais cedo possível”, finaliza.
Obra traz abordagem abrangente sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA) e mostra que desmistificá-lo é o primeiro passo para a verdadeira inclusão
Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), o Transtorno do Espectro Autista (TEA) atinge 1 em cada 160 crianças no mundo. Entretanto, a condição ainda gera dúvidas e discriminações, de acordo com especialistas, pois o autismo não se resume a uma característica única.
O TEA se refere a uma série de condições caracterizadas por algum grau de comprometimento no comportamento social, na comunicação, na linguagem e por uma gama estreita de interesses e atividades que são singulares para o indivíduo e realizadas de forma repetitiva. O transtorno começa na infância e tende a persistir na adolescência e na idade adulta. Na maioria dos casos, as condições são aparentes durante os primeiros cinco anos de vida.
O livro “Autismo: um olhar por inteiro”, lançado pela Literare Books International traz uma abordagem abrangente sobre o transtorno do espectro autista, entrelaçando conceitos relacionados aos desafios iniciais do desenvolvimento infantil com visões práticas e teóricas sobre as dificuldades vivenciadas pelo autista e por sua família em todas as fases da vida, nos contextos acadêmico, profissional e sexual.
Psicólogos, educadores, neuropsicólogos e profissionais de diversas áreas apontam caminhos para que o autista tenha uma vida integral e saudável, discorrendo sobre o papel da educação na vida das crianças autistas, a prática de intervenções alternativas, o desenvolvimento de habilidades sociais, a entrada no mercado de trabalho, entre outros assuntos. Relatos de mães inseridas nesse contexto compõem esse vasto manual sobre o transtorno.
A obra possui artigos dos seguintes profissionais: Adriana Assis, Amanda Machado de Magalhães Peixoto, Ana Carolina Porcari, Ana Cordeiro, Ana Nossack, Andrea Lorena Stravogiannis, Andreza Aparecida Oliveira Santos, Caroline Loezer, Célia de Fátima Macagnan, Cilene Maria Cavalcanti, Claudia Moura, Daisy Miranda, Débora Fukuoca, Edilaine Geres, Eliziane da Silva Lima, Erika Reggiani Lavia, Ester Melo, Fabio de Oliveira Santos, Flávia Cavalcanti, Gabriela A. Cruz, Glicéria Martins Cleter, Hannah Iamut Said, Jacineide Santos Cintra Silva, Jacqueline Menengrone, Jaqueline Silva, João Miguel Marques, Karen Thomsen Correa, Lenice Silva Munhoz, Liana Vale dos Santos Marques, Lídia Silveira, Luanda Garcez Ranha, Luciana Garcia de Lima, Milene Rocha Lima, Nadia Giaretta, Neli Maria Tavares, Osmarina Montrezol de Oliveira, Paula Adriana Zanchin, Priscila Sorrentino, Ricardo Schers de Goes, Simoni Hoffmann, Suzana Kelly Soares Lara, Talita Nangle, Tatiane Hollandini, Tito Lívio De Figueiredo, Virna Valadares, Viviane Mattos Battistello, Wilson Candido Braga e Yuri Riera Nicolau.
Sobre a coordenadora editorial Andrea Lorena Stravogiannis – Doutora e mestre pela Faculdade de Medicina da USP. Neuropsicóloga pelo CEPSIC-HC-USP; Neuropsicóloga no Hospital Sírio-Libanês; Supervisora e professora no curso de pós-graduação em Neuropsicologia no Hospital Albert Einstein. Coordenadora dos setores de pesquisa e tratamento do Amor Patológico e Ciúme Excessivo do Ambulatório Integrado dos Transtornos do Impulso (PRO-AMITI) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (IPq-HC-FMUSP). Especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental pelo Ambulatório de Ansiedade no IPq-HC-FMUSP. Especialista em Dependência Química pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).
Sobre o livro Autismo: um olhar por inteiro
Coordenação editorial: Andrea Lorena Stravogiannis Editora: Literare Books International Formato: 15,8 x 23 cm – 1ª edição – 336 páginas ISBN: 9786586939620 Loja Literare Books: http://bit.ly/autismo-inteiro-literare À venda nas principais lojas físicas e e-commerce
Terapeutas relatam casos de sucesso e explicam como alinhar as expectativas durante a relação amorosa com um indivíduo com TEA
Romantic relationship concept as two hearts made of torn crumpled paper on weathered wood as symbol for romance attachment and exchange of feelings and emotions of love. – Foto Divulgação
Conhecer profundamente o TEA (Transtorno do Espectro Autista) é o primeiro passo para as pessoas que desejam estabelecer um vínculo amoroso com um indivíduo autista.
A pessoa com autismo apresenta o desenvolvimento de seu organismo com os mesmos marcadores entre a infância, adolescência e vida adulta de uma pessoa que não é autista. O que muda para esses indivíduos é o repertório comportamental para lidarem com as relações.
O TEA é descrito pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V) a partir de duas categorias centrais:
Categoria A)
– déficits persistentes na comunicação e na interação social em múltiplos contextos – como dificuldade para iniciar ou responder a interações sociais;
– déficits nos comportamentos comunicativos não verbais usados para interação social;
– problemas para desenvolver, manter e compreender relacionamentos.
Categoria B)
– padrões restritos e repetitivos de comportamentos, interesses ou atividades, exemplificados por movimentos motores, uso de objetos ou fala estereotipados ou repetitivos;
– insistência nas mesmas coisas, adesão inflexível a rotinas ou padrões ritualizados de comportamento;
– hiper ou hiporreatividade a estímulos sensoriais ou interesse incomum por aspectos sensoriais do ambiente.
Para exemplificar na prática, indivíduos com déficits nos comportamentos comunicativos e na interação social possuem dificuldades na comunicação e na interpretação das relações, sendo mais um agravante para manter vínculos duradouros e trocas emocionais bem interpretadas.
Pessoas com TEA, dependendo do grau, podem processar as informações em partes, o que limita a sua capacidade de perceber uma situação como um todo. Ou ainda, podem possuir dificuldades de desenvolver raciocínios subjetivos ou abstratos e, por isso, entendem o que está sendo falado de forma literal.
Um outro exemplo também é que um indivíduo com TEA pode ter a característica de captar os estímulos do mundo de forma hipersensível ou hipossensível e, assim, ter menos ou mais tolerância para escutar um volume de som mais alto, ou ainda pode sentir mais ou menos dor que o esperado, quando é machucado.
Esses são apenas alguns exemplos de características comuns presentes em pessoas com autismo, mas é importante ressaltar que os indivíduos manifestam os sintomas de maneiras diferentes entre si. Atualmente, há três classificações baseadas em suas necessidades para melhor compreensão dos diferentes graus do autismo:
1) exigindo apoio muito substancial
2) exigindo apoio substancial
3) exigindo apoio
De acordo com Larissa Aguirre – Psicóloga e Analista do Comportamento – Supervisora ABA do Grupo Conduzir:
“Independentemente do grau do TEA, suas características refletem diretamente em seus relacionamentos amorosos, porém em diferentes níveis de intensidade. Quanto maior o nível de apoio (exigindo apoio muito substancial), maiores serão os desafios em relação a esse aspecto.
Os estudos indicam que os déficits em habilidades sociais, de comunicação, os interesses restritos e repetitivos e a hipersensibilidade são possíveis fatores limitantes do desenvolvimento sexual nas relações amorosas. Alguns dados apontam para a identificação de desejos sexuais voltados especialmente a vivências solitárias da sexualidade e menor frequência de práticas sexuais com outra pessoa, em comparação à população como um todo”, reforça Larissa Aguirre.
Alinhando expectativas durante o relacionamento
As principais dificuldades encontradas pelas pessoas com TEA durante um relacionamento amoroso estão relacionadas com habilidades que são pré-requisitos para a vivência da sexualidade, como:
– iniciar interação social;
– dosar o uso do humor;
– habituar-se melhor às mudanças inesperadas;
– desenvolver um equilíbrio entre o falar e o ouvir;
– compreender que seu interesse por assuntos específicos pode não ser compartilhado por outros etc.
O envolvimento social com amigos e colegas desempenha também um papel importante e está diretamente relacionado ao nível de dificuldade em se engajar em relações amorosas. Entender os fatores e as características do autismo são pontos-chaves de empatia para ajuda-los nessas situações.
Por essa razão, para se relacionar amorosamente com uma pessoa autista, é essencial ter paciência e compreensão. É fundamental que a pessoa que se relaciona explique claramente como se sente e o porquê de suas emoções.
Outra peculiaridade do autismo é a importância que a rotina tem para essas pessoas. Devido à hipersensibilidade à mudanças, o indivíduo pode apresentar desconforto diante de modificações nos costumes e atividades. Por isso, ao se relacionar com pessoas com autismo, é importante respeitar o tempo e espaço demonstrados por elas e fazer mudanças graduais.
É necessário dizer que não temos um manual para se relacionar com um indivíduo autista. Estaríamos, mais uma vez, reforçando o preconceito social em relação ao estereótipo popular criado.
Portanto, não há dicas generalizadas com rituais comuns para se relacionar, e assim também se aplica a indivíduos com TEA. As relações amorosas entre pessoas se dão de diferentes formas, e dependem de aspectos pessoais que determinarão a longevidade e intensidade dessa relação.Renata Michel, que é BCBA (Board Certified Behavior Analyst), Mestre e Doutoranda em Análise do Comportamento e coordenadora do Instituto de Pesquisa Conduzir, explica um pouco mais sobre sua vivência em consultório sobre o fato:
“Já houve situações na minha vida profissional, nas quais o comportamento a ser trabalhado foi desde uma dificuldade de comunicação de sentimentos (característica bastante comum ao quadro de TEA), até a existência de comportamentos ritualizados. Muitos comportamentos humanos impedem os indivíduos de se relacionarem de forma mais feliz – e isso não é exclusivo do autismo.
No entanto, posso afirmar que na minha experiência, a dificuldade mais comumente encontrada é a comunicação com o parceiro. Esse déficit normalmente afeta mais a comunicação de sentimentos e expectativas – aquilo que é mais abstrato tende a ser mais difícil para um indivíduo com autismo compreender. A terapia comportamental e cognitivo comportamental individual é o que hoje temos como a melhor forma de desenvolver tais habilidades.”
O que dizem as pesquisas – tratamento e oportunidades para a vida adulta
“Os estudos, em geral, apontam para a escassez de programas educativos específicos sobre sexualidade, para a privação de direitos e de experiências sexuais, para o pouco acesso às informações, e consequentemente, para a grande vulnerabilidade com relação à violência sexual.”Ottoni, A. C. V., & Maia, A. C. B. (2019) –Considerações sobre a sexualidade e educação sexual de pessoas com transtorno do espectro autista. Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação.
Esse dado demonstra, mais uma vez, sobre a necessidade de fomento de pesquisas e informação com qualidade para inserir socialmente indivíduos com TEA. A privação de direitos sexuais é uma realidade, e a vulnerabilidade em relação à violência nessa área aponta um vácuo esquecido pelas autoridades que têm o dever de promover o bem de todos, garantindo o pleno desenvolvimento da pessoa, o exercício da cidadania.
“Temos hoje poucas pesquisas que investigam essa questão, e é um desafio que busquemos essa ampliação. Quanto mais base científica houver para nos mostrar quais caminhos são melhores, teremos a resposta que nos permite proporcionar um serviço que gere melhores resultados,” reforça Renata Michel.
É esperado e possível que um indivíduo autista tenha independência na vida adulta, tratando-se de relacionamentos amorosos. Como por exemplo, casar e ter filhos, caso seja esse um desejo dele, desde que o indivíduo tenha acesso ao tratamento adequado para alcançar tal nível de independência.
O que é de conhecimento dos especialistas que atendem e lidam com pessoas com TEA é que a intervenção precoce – indicada pela OMS (Organização Mundial da Saúde), chamada ABA (Análise do Comportamento Aplicada) – é a comprovada e indicada para o desenvolvimento de habilidades de autistas. ABA é a ciência que estuda maneiras de intervir e modificar o comportamento de qualquer indivíduo, e que apresenta significativas contribuições para o desenvolvimento de habilidades necessárias para melhorar a qualidade de vida de pessoas com autismo – independente do grau de autismo:
“Importante ressaltar que o profissional que aplica ABA, chamado de Analista do Comportamento, que se proponha a realizar tal trabalho e endereçar tais questões, deve possuir experiência teórica e prática para que a aplicação da ABA seja, de fato, capaz de gerar resultados significativos para a vida do paciente – algo que vemos cotidianamente em nossos atendimentos clínicos”, comenta a coordenadora do Instituto de Pesquisa Conduzir, Renata Michel.
Cidadania e inclusão –informar para inserir
Devemos desmistificar o TEA e lembrar que cada indivíduo é único e cada um se desenvolve de acordo com os estímulos recebidos e características próprias. Qualquer generalização acerca das habilidades de um indivíduo autista retira a possibilidade de análise de cada um de forma única. O diagnóstico de TEA prevê comportamentos que identificam o transtorno, mas que podem e variam muito para cada indivíduo. A melhor maneira de desconstruir preconceitos é justamente tratar cada um em sua singularidade. Assim como explica Renata Michel:
“Não existe uma correlação direta entre graus de autismo e a habilidade para o desenvolvimento de relacionamentos amorosos, uma vez que cada indivíduo é único e deve ser assim analisado. No entanto, podemos observar que indivíduos com autismo severo acabam desenvolvendo habilidades que pouco provavelmente propiciarão esse tipo de vínculo afetivo. Já os indivíduos com autismo de alto funcionamento podem apresentar menos dificuldades, mas isso não garante que não terão grandes desafios em suas relações.”
O importante é que os responsáveis e também os profissionais que trabalham com pessoas com TEA e/ou outras deficiências não limitem sua visão aos estereótipos e preconceitos e reflitam continuamente sobre suas ideias e ações. Não tirem conclusões precipitadas e preconceituosas, perguntem sobre seus desejos e intenções e trabalhem ao máximo para que eles se concretizem. Intervenções eficazes abrem portas para a independência e para o conhecimento dos direitos à educação, trabalho, vida em família, afetiva e sexual.
Para finalizar, Renata Michel comenta o caso de um paciente:
“Certa vez, em um atendimento ainda como terapeuta, recebi um cliente que tinha 18 anos e um grau de autismo classificado como leve. Ele recebeu Intervenção em ABA desde os 12 anos e desenvolveu muitas habilidades. Aos 18, como qualquer adolescente, ele queria conhecer e namorar uma menina. A grande dificuldade dele era entender se a menina que ele gostava estava interessada nele – exatamente pela dificuldade de interpretação dos comportamentos dela. Trabalhamos essa habilidade em terapia e ele descobriu que ela não estava interessada nele, mas essa habilidade o tornou capaz de reconhecer, alguns meses depois, que uma colega de escola poderia ter tal interesse. Ele não apenas aprendeu a interpretar o comportamento que chamamos de “flerte”, mas conseguiu sua primeira (de muitas) namoradas.”
CONTATOS PARA ENTREVISTAS (podem ser feitos também de maneira remota):
A Get Comunicações disponibiliza para a imprensa os seguintes contatos:
Fonte Renata Michel – BCBA (Board Certified Behavior Analyst), Mestre e Doutoranda em Análise do Comportamento, coordenadora do Instituto de Pesquisa Conduzir
Fonte Larissa Aguirre – Psicóloga e Analista do Comportamento – Supervisora ABA do Grupo Conduzir
INFORMAÇÕES – GRUPO CONDUZIR
O Grupo Conduzir possui uma equipe especializada de profissionais das áreas de Psicologia, Fonoaudiologia, Terapia Ocupacional e Educação (Pedagogia e Psicopedagogia) que oferece um atendimento multidisciplinar, sempre com base teórica, treinamento e supervisão analítico-comportamental. Proporciona aos seus clientes o desenvolvimento de suas habilidades por meio de práticas baseadas em evidência.
O foco de trabalho da equipe de profissionais do Grupo Conduzir é o atendimento de crianças, adolescentes e adultos com transtornos do neurodesenvolvimento leve, moderado ou grave, sobretudo as que se enquadram nos Transtornos do Espectro Autista (TEA).
Será que autistas podem praticar esportes? Será que eles conseguem se sair melhor que os outros? Geralmente, os autistas são pessoas que conseguem ter grandes ganhos ou grandes conquistas naquilo que fazem por serem hiper focados e altamente interessados. Por outro lado, tem pouca assertividade ou pouca flexibilidade social, pouca empatia e não sabem lidar muitas vezes com situações que exigem automaticamente uma boa percepção social.
Normalmente, autistas não têm boa performance motora, espacial e executiva para cumprimento de atividades que envolvam esportes. Então, ele só vai ter vantagem se for fascinado, hiper focado naquele esporte.
Os benefícios da prática esportiva são vários. O primeiro é ajudar o indivíduo a se socializar. A grande maioria dos esportes são sociais, exigem o compartilhamento, exigem estratégia que depende do outro, isso traz benefícios de estimulação de interação social e a melhora no comportamento social.
Melhor ainda, pois faz o autista se movimentar, porque normalmente eles não gostam de fazer exercícios. Preferem ambientes fechados, restritos, silenciosos e que envolvam tecnologias. Isso faz com que eles se restrinjam a atividades sedentárias e eleve o risco de, na fase adulta, desenvolver processos crônicos causados por sedentarismo, aumento do colesterol, maior risco de diabetes e hipertensão e, consequentemente, pode vir a ter problemas de maior exposição a eventos ou distúrbios que são gerados por esses problemas como AVC e infarto.
Muitos questionam, mas eles precisam ter cuidados ao praticar esportes? Não há especificamente nenhum cuidado que o autista tem que ter. Ele só precisa entender e ser explicado que a prática de esportes requer cumprir regras e seguir uma rotina. Ele vai ter que trabalhar determinadas atividades esportivas juntos com os outros, compartilhando jogadas, compartilhando interesses, compartilhando um espírito de equipe. Isso para o autista é muito difícil.
Os cuidados que os profissionais têm de ter com o autista é saber que ele tem dificuldades de entender linguagem de duplo sentido. Tem também dificuldade de organizar dentro dos pensamentos dele a sequência de uma jogada ou a sequência compartilhada de um processo social. Além disso, em uma jogada, eles têm menos coordenação motora. Por isso, vão precisar de um pouco mais de compreensão do educador físico para trabalhar a parte da psicomotricidade.
Uma coisa importante de dizer é que quem tem autismo tem pavio curto, na maioria das vezes são indivíduos que mudam de humor de uma hora para outra e não toleram muito passar por disparates ou situações onde eles são contrariados. O esporte que eu sugiro para o autista é aquele que o agrada, o que traga menos estímulos indesejáveis. As recomendações de esportes são os que ajudam a melhorar a capacidade de percepção social como os esportes jogados em grupo.
(*) Pediatra e Neurologista Infantil (Pediatrician and Child Neurologist); Doutor em Ciências Médicas/UNICAMP (PhD on Medical Science); autor de livros sobre educação e transtornos de aprendizagem, Membro da ABENEPI-PR e SBP (Titular Member of Pediatric Brazilian Society); Speaker of Neurosaber Institute.
Com milhões de visualizações na internet, Matheus defende a música como aliada do tratamento que realiza desde 2014, quando foi diagnosticado com transtorno do espectro autista.
Vídeo do jovem autista Matheus Cuelbas – interpretação da música “Baba O’Riley”, da banda The Who. Arquivo pessoal
Vídeo do jovem autista Matheus Cuelbas – interpretação da música “Baba O’Riley”, da banda The Who.
Após postar nas redes sociais o vídeo em que interpreta a música “Baba O’Riley”, da banda The Who, Matheus Cuelbas, de 20 anos, atingiu milhões de visualizações e o compartilhamento de grandes páginas do cenário nacional do rock e de notícias positivas. Nos perfis do jovem autista no Facebook e Instagram, os milhares de compartilhamentos e comentários divulgaram uma parte do trabalho desenvolvido por ele.
“Posso dizer, com absoluta certeza, que a música é o que me mantém vivo, é a minha bússola em dias em que me encontro perdido e sozinho”, afirma. Atualmente, o canal no YouTube “David Sue”, nome artístico escolhido por ele, conta com mais de 30 mil visualizações e um EP autoral, lançado em 2019, que tem mais de mil ouvintes mensais no Spotify.
Amante da música nacional e internacional, de Beatles a Raul Seixas, ele explica que a canção foi gravada com a câmera do celular, durante uma habitual aula de canto. Após elogios do professor e alguns ensaios, a música da banda britânica foi a escolhida para a gravação no dia.
“Fico com um sorriso no rosto de ver tanta gente encontrando alguma coisa positiva na minha voz, até porque eu nunca gostei dela, o timbre, tudo me parecia muito infantil. No começo deste ano, comecei a aceitar melhor meu instrumento de trabalho. Vejo também um lado de mães e pais de autistas que me veem como uma esperança. Teve gente comentando: ‘meu filho tem autismo também, espero que ele consiga ser como você’.
O professor de música do jovem há seis anos, Fabiano Negri, afirma que o reconhecimento do talento era uma questão de tempo. “Eu já havia dito pra ele ‘um dia as pessoas vão prestar atenção na sua voz’, e esse dia chegou! A música gravada foi um trabalho comum que a gente faz em sala de aula, com vídeo, e com as canções. Já fizemos várias músicas, várias vezes, de forma diferente. Essa foi mais uma delas. E calhou de ser aquela em que as pessoas se identificaram e começaram realmente a viralizar”. Apesar de apoiar o crescimento profissional do jovem, a preocupação inicial foi de saber como Matheus reagiria à exposição. “Não posso negar o medo em saber como ele iria encarar tudo isso, já que estamos falando de milhões de pessoas vendo o vídeo, mas ele está com o pé no chão, sabendo levar a situação de uma maneira muito bacana”, conta.
Diagnóstico do autismo
“Os pés no chão” do Matheus, em relação aos vídeos postados na internet, também fazem parte do tratamento que realiza desde 2014. O jovem foi diagnosticado com Síndrome de Asperger aos 14 anos – Transtorno do Espectro Autista (TEA) – que afeta a capacidade de se socializar e de se comunicar com eficiência. Segundo ele, o diagnóstico era um resumo da sua adolescência, período em que teve grande dificuldade de interação social.
Matheus Cuelbas durante ensaios das aulas de canto e baixo – Foto: arquivo pessoal
Arquivo pessoal
Matheus Cuelbas durante ensaios das aulas de canto e baixo – Foto: arquivo pessoal Arquivo pessoal
Matheus Cuelbas durante ensaios das aulas de canto e baixo – Foto: arquivo pessoal
Além de tomografias e outros exames, os médicos também constaram, na época, sintomas de depressão. Junto ao resultado clínico, ele iniciou o tratamento com especialistas e as aulas de violão. “Quando saí da escola que estive por nove anos da minha vida, mudei minha terapia convencional para a terapia ABA. Muitos tópicos que trabalhei no tratamento são os pilares da carreira musical que estou desenvolvendo, como não querer fazer tudo sozinho, ouvir instruções de profissionais e não criar expectativas muito altas. Acredito que o emocional e o profissional são pontos que devem estar em equilíbrio”, diz Matheus.
Os desafios do convívio social
Ao assistir a desenvoltura do jovem músico nos vídeos publicados nas redes sociais, não se imagina os desafios que existiam no início do tratamento. De acordo com a mãe de Matheus, Cláudia Cuelbas, as sessões de terapia e as aulas de música auxiliaram no enfrentamento dos medos, que, hoje, permitem que ela comemore pequenos momentos em família.
“Quando ele começou a terapia, foi muito difícil, pois ele não queria de forma alguma, ficava emburrado e nervoso. Quem vê o Matheus agora nem acredita. A intervenção em ABA foi o que aconteceu de melhor na nossa vida porque os terapeutas são ótimos e têm muita paciência”.
Cláudia lembra que as aulas de violão, realizadas em uma escola perto de casa, eram a forma encontrada pelo jovem de expressar seus sentimentos. No quesito profissional, o professor Fabiano aponta a timidez e a falta de confiança como as principais barreiras nas primeiras aulas. Com o tempo, as conversas entre professor e aluno foram além do âmbito musical, possibilitando o crescimento e os resultados, como o vídeo viralizado.
Os sintomas no começo do tratamento foram os mesmos constatados pela psicóloga e analista comportamental do Grupo Conduzir, Larissa Aguirre. “Matheus chegou até nós por indicação de sua fonoaudióloga, que conhecia sobre a terapia ABA e sua eficácia. No início da terapia, as principais dificuldades eram de relacionamento social, de lidar com um grande sofrimento emocional e de realizar tarefas do dia a dia com independência”.
Modelo de tratamento – ABA
Há três anos, o tratamento do Matheus segue o modelo da Análise Comportamental Aplicada, conhecido pela sigla ABA – Applied Behavior Analysis. Trata-se de uma ciência usada para a compreensão do comportamento que vem sendo amplamente utilizada no atendimento a pessoas com desenvolvimento atípico, como o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA). A ABA deriva do behaviorismo, que tem como finalidade o estudo do comportamento por meio científico.
De acordo com a terapeuta, as principais funções e atividades desenvolvidas pelo músico ao longo dos anos envolvem habilidades de controle financeiro, repertório de autocuidado e autonomia, tolerância em aceitar opiniões divergentes, empatia, aquisição de repertório para conversar sobre temas variados (capacidade antes exclusiva no campo da música), identificação das situações e suas consequências, autoestima, autoconfiança e atenção compartilhada. A psicóloga que acompanha o caso de Matheus comemora:
“Foi incrível ver o reconhecimento das habilidades do Matheus. É emocionante acompanhá-lo conseguindo generalizar e utilizar as habilidades aprendidas em contexto natural de maneira adequada. Nós sempre acreditamos no desenvolvimento dele, até mesmo quando para ele era difícil acreditar. E vê-lo recebendo esse carinho e reconhecimento das pessoas é muito emocionante.”
Para Matheus, a rede de apoio formada por familiares, amigos e os professores de música é o que o ajuda a realizar os sonhos e insistir em projetos profissionais. “Acho que eles foram as lanternas que iluminaram minha mente escura para novos horizontes e também aqueles que tiraram um momento da aula para ouvir meus lamentos pessoais. Tive sorte de ter uma família fantástica e de ter achado as pessoas certas para construir uma amizade verdadeira”.
Autismo de Alto Funcionamento
O Transtorno do Espectro Autista (TEA), conhecido como autismo, engloba diferentes condições e graus de dificuldade no desenvolvimento neurológico. De acordo com os dados do Center of Deseases Control and Prevention, CDC, o autismo afeta 1 a cada 54 pessoas no mundo. Assim, a estimativa é que no Brasil existam cerca de 2 milhões de autistas.
Os graus de autismo são classificados do mais leve ao mais severo. O diagnóstico proferido ao Matheus em 2014 determinou uma disfunção de Nível 1, a Síndrome de Asperger, também chamada de “autismo de alto funcionamento”, caracterizada pelo atraso na comunicação e na interação social, além do interesse restrito por temas do cotidiano, como a obsessão pela música, que o impedia de conversar e conhecer outros assuntos.
“Para dar um exemplo, seria o caso da criança que apresentou pouco ou nenhum atraso da fala em si, mas que possui dificuldade em comunicar seus sentimentos, emoções e fazer ou manter relacionamentos de amizade com seus pares”, exemplifica a mestre e doutoranda em Análise de Comportamento, coordenadora do Instituto de Pesquisa Conduzir, Renata Michel.
A especialista ainda explica que, se um indivíduo tem déficits e/ou excessos comportamentais típicos do diagnóstico, a abordagem em ABA, aplicada por um profissional capacitado, pode reverter o quadro por meio de tratamentos corretos que irão aumentar ou diminuir os sintomas, a depender do objetivo, para que sejam apresentados comportamentos mais próximos aos esperados para pessoas da mesma faixa etária.
Apesar de ainda ser tema de estudos neurológicos, já é possível afirmar que o funcionamento do cérebro dos autistas é diferente e, por isso, tem uma compreensão distinta de atividades, o que poderia explicar melhores habilidades de foco e memória visual, entre outras características:
“Não podemos afirmar que os autistas de alto funcionamento são mais propícios ao desenvolvimento de habilidades focadas, mas sim que o autista de alto funcionamento que possui QI (Quociente de Inteligência) normal ou acima da média pode desenvolver habilidades muito significativas. Apenas 1% da população total de indivíduos com TEA possui o chamado “savantismo”, que considera o desenvolvimento de habilidades extraordinárias”, explica a especialista Renata Michel.
CONTATOS PARA ENTREVISTAS (podem ser feitos também de maneira remota):
A Get Comunicações disponibiliza para a imprensa os seguintes contatos:
– Personagem Matheus Cuelbas – cantor, autista, 20 anos
– Personagem Cláudia Cuelbas – mãe do Matheus
– Larissa Aguirre – Psicóloga e Analista do Comportamento – Supervisora ABA do caso Matheus
– Fonte Renata Michel – BCBA (Board Certified Behavior Analyst), Mestre e Doutoranda em Análise do Comportamento, coordenadora do Instituto de Pesquisa Conduzir
– Personagem Fabiano Negri – professor de música do Matheus
INFORMAÇÕES – GRUPO CONDUZIR
O Grupo Conduzir é formado por equipe de profissionais especializada em Análise do Comportamento Aplicada (ABA), proporcionando um atendimento capaz de oferecer uma interface entre a área clínica e educacional.
Também conta com profissionais da área de Psicopedagogia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional, que atuam sempre com a base e supervisão de um Analista do Comportamento, otimizando os resultados a serem atingidos.
O foco de trabalho da equipe de profissionais do Grupo Conduzir é o atendimento de crianças, adolescentes e adultos com transtornos do neurodesenvolvimento leve, moderado ou grave, sobretudo as que se enquadram nos Transtornos do Espectro Autista (TEA).
Presidente da frente parlamentar em defesa das pessoas com TEA é coautor da proposta
Presidente da Frente Parlamentar em Defesa das Pessoas com Transtorno do Espectro Autista, o deputado Célio Studart (PV-CE) conseguiu, em trabalho conjunto com o deputado Otto Alencar (PSD-BA), apoio para tramitação, em regime de urgência, de projeto de lei em benefício da população com TEA. Líderes de partidos dos mais diversos espectros políticos, como PSL e PT, assinaram o requerimento.
Apresentado em julho, o PL 3768/2020 de autoria dos dois deputados estabelece que as Operadoras de Plano de Assistência à Saúde prestem cobertura integral de todas as especialidades terapêuticas prescritas pelos médicos às pessoas com TEA. A proposição determina, ainda, que os tratamentos terapêuticos multidisciplinares não estarão sujeitos a limitação do número de sessões terapêuticas anuais.
Somados, os líderes partidários e os parlamentares que subscreveram o pedido de urgência representam 333 dos 513 integrantes da Câmara dos Deputados. Caso a urgência seja pautada e aprovada em Plenário, a proposição pode votada sem passar pelas comissões temáticas.
Estima-se que haja no Brasil cerca de dois milhões de pessoas com transtorno do espectro autista. As negativas de procedimentos, interrupções e suspensões no fluxo das sessões terapêuticas anuais tem sido uma constante nos tratamentos terapêuticos multidisciplinares das pessoas com autismo.
“O tratamento terapêutico multidisciplinar de pessoas com transtorno do espectro autista é sempre designado por prazo indeterminando, não podendo sofrer suspensões ou interrupções, sob pena de involução prognóstica e até de regressão neurológica”, alertam os deputados.
Ainda de acordo com os autores, o PL não cria novas despesas, “pois se trata de responsabilidade de cobertura geral, ampla e irrestrita a ser atribuída para as Operadoras de Planos de Assistência à Saúde, nos casos de tratamentos terapêuticos multidisciplinares de pessoas com autismo”.
A renda de muitas famílias diminuiu e autistas recebem doação de cestas de alimentos e produtos de higiene e captação de recursos através de Campanha on-line
O transtorno do espectro do autismo (TEA) é um transtorno do neurodesenvolvimento que se caracteriza, principalmente, pelo comprometimento das habilidades de comunicação e linguagem do indivíduo e pela presença de comportamentos repetitivos e estereotipados em diferentes níveis, resultando, em geral, nas dificuldades de interação social e mudanças na rotina. O Brasil não possui números oficiais sobre quantas pessoas são autistas. Segundo dados do Centro de Controle de Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, 1 em cada 59 crianças tem diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA). Estima-se que 1% da população mundial esteja enquadrada no espectro.
Em tempos de pandemia, os desafios e as dificuldades aumentam. As alterações no cotidiano, rotina e limitações impostas têm difícil aceitação, principalmente entre as pessoas autistas. Outro fator que as famílias brasileiras que possuem algum membro com TEA vêm enfrentando é o desemprego e a diminuição da renda familiar. Isso independente da flexibilização da quarentena, é uma situação que tende a perdurar por um tempo indeterminado.Em muitos casos apenas o pai é o provedor do lar, já que muitas mães acabam se dedicando em tempo integral para o filho.
Esse é o caso da Andrea Moura, mãe do Lucas, 17 anos, diagnosticado com autismo aos 4 anos. Ela precisou deixar o emprego para cuidar do filho. O marido está trabalhando apenas 15 dias no mês e o corte na renda está sendo bem difícil. O filho necessita de alguns remédios e tem uma alimentação com restrições. Já teve crises causadas pelo stress do isolamento social, e possui também problemas respiratórios e cardíacos, fazendo parte do grupo de risco. Com a pandemia, as terapias foram suspensas e ele passou a realizar todas as refeições em casa:
“Quando recebi a cesta básica, fiquei muito emocionada e percebi o quanto essa solidariedade é importante. Essa ajuda é de grande valia porque o meu filho agora está em casa o tempo todo. Antes já era difícil e agora com a pandemia está ainda mais. Meu marido recebe por comissão e estamos pagando só as contas básicas”, conta Andrea.
Lucas foi diagnosticado com autismo aos 4 anos. Ainda está se adaptando à nova rotina na pandemia.
Cristina Naldoni é mãe da Giulia, 17 anos, que possui autismo leve a moderado e foi diagnosticada aos 2 anos. Ela comenta que a filha estranhou bastante a questão do isolamento social, isso porque já estava acostumada com as atividades da rotina de tratamento:
“A situação está difícil. Estou dentro de casa com a Giulia desde 13 de março e o pai dela está desempregado e não estamos recebendo pensão. Estou revezando o pagamento das contas para não ter nenhum corte. Eu cuido dela 24 horas por dia. A doação da cesta básica foi muito bem-vinda e em boa hora porque nós todos estamos passando por dificuldades”, conta.
Giulia adora brincar com as bonecas e conta no calendário os dias para voltar para a escola
Ajuda na pandemia para as famílias de autistas
Diante dessa situação o Grupo Conduzir, composto por profissionais na área de Psicologia, Fonoaudiologia, Terapia Ocupacional e Psicopedagogia, resolveu se engajar e doar cestas básicas contendo alimentos e produtos de higiene para 142 famílias de baixa renda que possuem filhos autistas e são atendidos pela AMA (Associação de Amigos do Autista),entidade sem fins lucrativos. A psicóloga e Analista do Comportamento Marina Ramos Antonio, diretora do Grupo Conduzir explica que o grupo tem projetos ativos para informar e incentivar o acesso ao tratamento, bem como, dar suporte às famílias que passam por algum tipo de necessidade:
“Nesse período não poderíamos agir diferente. Nós fizemos doações para algumas ONGs e, para fechar com chave de ouro, optamos pela doação voltada às famílias que tem em seu núcleo familiar uma pessoa autista. Por fazermos parte deste universo, sabemos das dificuldades do dia a dia e dos gastos que essas famílias têm. Com a instabilidade atual, muitas têm precisado de suporte básico, por isso aqui estamos e convidamos todos à doarem também, através de uma corrente do bem”, diz.
Grupo Conduzir realiza doação de cestas básicas para a Associação dos Amigos Autistas (AMA)
A superintendente da AMA (Associação de Amigos do Autista), entidade beneficente e sem fins lucrativos, Ana Maria Serrajordia Ros de Mello conta que esta parceria foi muito bem-vinda porque a vida de mulheres que têm filhos com autismo já não costuma ser fácil, e nesta época da pandemia, as dificuldades atingem um nível muito alto:
“O apoio, além da evidente ajuda da cesta básica, traz um outro componente que é o conforto de ver que algumas pessoas se preocupam com outras, e o nome disso é solidariedade. As famílias assistidas por esta Campanha estão passando por dificuldades financeiras e, para elas, o gesto de apoio, além de ajudar a suprir suas necessidades básicas também traz um alento de coragem e força”.
Como doar
A AMA (Associação de Amigos do Autista) é a primeira associação de autismo no Brasil e completará 37 anos no mês de agosto oferecendo atendimento especializado e gratuito a mais de 300 crianças, jovens e adultos com autismo por meio de convênios com a Secretaria de Estado da Saúde e Educação. Esses convênios não cobrem todos os gastos e investimentos da associação. É necessário arrecadar recursos para a compra de alimentos, de material pedagógico, para a manutenção dos equipamentos e dos imóveis, além dos programas de capacitação dos funcionários.
Para contribuir com as famílias de pessoas autistas, A AMA disponibiliza no site a Aba “Colabore”, através do link https://ama.org.br/colabore/. É possível encontrar formas de doação única e mensal, através de boleto bancário, cartão de crédito e captação de doações automáticas da Nota Fiscal Paulista.
CONTATOS PARA ENTREVISTAS (podem ser feitos de maneira remota):
A Get Comunicações disponibiliza para a imprensa os seguintes contatos:
– Marina Ramos Antonio (Psicóloga, Analista do Comportamento, Consultora e Supervisora ABA do Grupo Conduzir)
– Personagem Andrea Moura, mãe do Lucas, 17 anos, autista
– Cristina Naldoni, mãe da Giulia, 17 anos, autista
– Ana Maria Serrajordia Ros de Mello, superintendente da AMA (Associação de Amigos do Autista)
INFORMAÇÕES – GRUPO CONDUZIR
O Grupo Conduzir é formado por equipe de profissionais especializada em Análise do Comportamento Aplicada (ABA), proporcionando um atendimento capaz de oferecer uma interface entre a área clínica e educacional.
Também conta com profissionais da área de Psicopedagogia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional, que atuam sempre com a base e supervisão de um Analista do Comportamento, otimizando os resultados a serem atingidos.
O foco de trabalho da equipe de profissionais do Grupo Conduzir é o atendimento de crianças, adolescentes e adultos com transtornos do neurodesenvolvimento leve, moderado ou grave, sobretudo as que se enquadram nos Transtornos do Espectro Autista (TEA).
A psicopedagoga e especialista em educação especial, Ana Regina Caminha Braga, dá dicas para famílias que precisam manter as terapias realizadas com os autistas dentro de casa
A chegada do novo coronavírus ao Brasil lançou um desafio extra aos pais e responsáveis que precisam lidar com crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Como agir e manter uma rotina de cuidados específicos dentro de casa? Devido à medida restritiva de isolamento social, grande parte das famílias se encontram sem alternativas para complementar a rotina dos pequenos, que antes tinham uma agenda cheia com atividades escolares e terapias presenciais.
Esta falta de rotina pode refletir em instabilidade emocional e agressividade cada vez com mais frequência em crianças autistas. Entretanto, apesar de parecer que estamos vivendo um momento de crise e instabilidade, é possível levar esse período de forma equilibrada e saudável. De acordo com Ana Regina Caminha Braga, psicopedagoga e especialista em educação especial, saber usar a criatividade e se reinventar é essencial para que pais e responsáveis consigam manter o tratamento das crianças. Quando falamos sobre confinamento, o ideal é que as famílias tentem seguir a rotina do autista o máximo possível, criando atividades similares àquelas vivenciadas em situações normais.
“Faça um cronograma de todas as tarefas a serem desenvolvidas durante o dia, siga corretamente o calendário. Todo ser humano necessita de rotina para cultivar uma mente saudável, principalmente as crianças autistas”, explica a especialista. Isso serve, também, para terapias e acompanhamentos com profissionais. Sempre que possível, os pais e responsáveis devem manter os atendimentos de forma online, a fim de receber as devolutivas terapêuticas para prosseguir o tratamento em casa. “Se a criança faz uso de medicamento, é ainda mais importante que ela mantenha contato com o médico para verificar a dosagem e a evolução da criança”, aponta a psicopedagoga.
De acordo com a especialista, oferecer um ou dois brinquedos diferentes, para que a criança possa explorá-los de forma significativa, é muito importante para continuar o desenvolvimento psicológico do autista em casa. “Caso a criança desregule, é possível utilizar um pedaço de tecido para brincar com ela sem verbalizar e deixá-la à vontade. A criança senta no tecido e você pode segurar duas pontas do tecido e puxá-la com movimentos pelo ambiente em que esteja”, complementa Ana Regina. Apesar das dificuldades, o mais importante em um momento de isolamento social é manter a criança regulada e estável, a fim de preservar a saúde psicológica dela e da família. Como última orientação, a psicopedagoga aconselha os responsáveis a se atentar aos gestos e movimentos das crianças de forma consciente e sem culpabilidade. “É possível vermos autistas com dificuldade para se comunicar e se expressar da forma verbal. Por isso, é relevante que os pais tenham um olhar diferenciado, atento e ainda mais carinhoso com eles neste momento”, finaliza a especialista.
Muitos pais ficam com dúvidas sobre como o novo coronavírus (COVID-19) pode ser perigoso ou não para quem tem o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA). É importante deixar claro que pelo diagnóstico de autismo em si, essa pessoa não estaria no grupo de risco. O transtorno não aumenta as chances dela de ter problemas em relação ao Covid-19. Entretanto, a pessoa com autismo pode estar mais suscetível à doença caso tenha alguma comorbidade médica que possa representar maior exposição aos perigos da infecção.
Quem tem TEA costuma ter mais alergias, bronquite, asma, ou seja, cerca de 30% deles têm algum tipo de condição alérgica associada. Outros têm, além do autismo, uma síndrome genética associada que pode ter correlação, dependendo do tipo de síndrome, com alguma imunodeficiência, tratamento recente de alguma neoplasia, de algum câncer, ou pode apresentar alguma malformação que envolva o sistema respiratório ou a deixe mais exposta a complicações intestinais, renais ou cardíacas. Então, com a presença de algumas dessas particularidades clínicas, ele passa naturalmente a ser do grupo de risco.
Os autistas gostam de ter uma rotina e mantê-las. O isolamento acabou mudando a rotina das famílias e dos profissionais. Isso passou a ser difícil para a estabilidade mental e comportamental destas pessoas. Entretanto, ao se criar condições dentro de casa para manter uma rotina específica e oferecer coisas que ela gosta de fazer, pode-se ajudar a amenizar os problemas, pois ela acaba desenvolvendo um hiperfoco e motivação que aliviará as instabilidades.
Neste processo, são indicadas atividades pedagógicas, lúdicas e visuais que ela goste de fazer. É uma forma da família continuar a estimulação, não só social, mas a acadêmica dessa criança também. Aproveitar para ajeitar horários, não deixá-la dormir ou acordar muito tarde para manter a rotina de antes. Assim, quando retomarmos a volta às aulas, ela já estará com essa rotina praticamente inalterada.
O isolamento pode deixar a criança com autismo mais agressiva, com crises de ansiedade e quadros depressivos. Mas vale ressaltar que ela vai estar com a família, dentro de um ambiente em que já está habituada a ficar, com os sons e os processos visuais e auditivos de sua preferência.
Os pais de autistas podem ajudá-los a se conscientizar sobre todo esse trabalho de prevenção do Covid-19, através de desenhos, figuras, vídeos e músicas, mostrando para ela como proteger a mão e o porquê de não colocar a mão na boca. Tudo o que for visual, concreto, com informações simples e sequenciais, são recursos que a criança com autismo tem mais facilidade em assimilar.
É muito importante o tratamento deles ser mantido pela família durante todo esse período. Mesmo que ela venha a ficar doente e precise tomar anti-inflamatórios, ou tomar remédio para a febre, ou até mesmo tomar antibióticos, as medicações que normalmente toma para o controle do seu comportamento devem ser mantidas e as consultas também. A tecnologia ajuda com as consultas e manejos online preservando seu tratamento.
(*) Dr. Clay Brites é Pediatra e Neurologista Infantil (Pediatrician and Child Neurologist); Doutor em Ciências Médicas/UNICAMP (PhD on Medical Science); Membro da ABENEPI-PR e SBP (Titular Member of Pediatric Brazilian Society); Speaker do Instituto NeuroSaber.
O filósofo, psicanalista e especialista em estudos da mente humana explica o que é autismo e o seu tratamento
Abril é o mês do autismo, representado pela cor azul com o intuito de abordar O Dia Mundial do Autismo, que é comemorado no dia 02/03. A data, celebrada há 12 anos, foi criada pela ONU (Organização das Nações Unidas). Por isso se vir algo decorado com a cor azul já sabe o motivo.
Procuramos o filósofo, psicanalista e pesquisador Fabiano de Abreu para nos contar mais sobre o autismo pois, como membro da Mensa e especialista em estudos da mente humana, já deparou-se e estudou diversos casos de autismo e sabe como identificá-los.
“O número de autistas é bem maior do que podemos imaginar, inclusive, quem está lendo este artigo pode conhecer algum e não saber. Um autista é uma pessoa com transtornos no desenvolvimento do cérebro, mais conhecido como TEA (Transtornos de Espectro Autista). Levando em consideração que no grau evolutivo ninguém é igual a ninguém então, o autista pode não ser tão diferente assim de uma pessoa que se diga normal já que não há um padrão normal. O grau de autismo varia e pode ser difícil a sua identificação algumas vezes.”
Abreu diz que se deve identificar a diferença entre os diferentes graus de autismo e as suas nuances específicas. O desconhecimento e as más informações podem dificultar na ajuda. Ou seja, sem elementos fiáveis muitas vezes pensamos estar a ajudar mas estamos a fazer precisamente o contrário.
“Li um artigo num grande site de notícias que dizia que a ativista Gretta Thunberg era muito inteligente já que tinha a Síndrome de Asperger e geralmente pessoas com essa síndrome são inteligentes. Isso é uma informação falsa e induziu muitos leitores ao erro. Pessoas com esta síndrome podem ter um tipo de inteligência bastante acentuada mas focal. E a sua cognição, que está ligada à inteligência, tende a não ser tão desenvolvida. Por outras palavras, ela pode ter um tipo de inteligência desenvolvida mas não terá a capacidade total, faltará a versatilidade, flexibilidade, abstrações e etc.”
Abreu diz que podemos fazer sobressair o melhor do autista para que seja um bom profissional.
“Devemos observar as crianças e os seus comportamentos, eu sempre digo que temos que ver o lado bom de tudo na vida. Uma criança autista pode ter habilidades únicas e se o ajudarmos a desenvolvê-las, podem tornar-se grandes profissionais. Sinais como falta de interesse em se relacionar com pessoas, ausência do contato visual a que chamo de desfoque, atenção exagerada a objetos, ou incomodo com toque, sons e textura de alimentos são os traços mais comuns. No entanto tudo depende do grau de autismo que pode ser avaliado como leve, médio e grave.”
O psicanalista diz qual o tratamento caso seja constatado autismo.
“Não há remédio para o autismo, portanto, se faz necessário uma terapia e geralmente em grupo para estimular a socialização. É bom que o autista seja acompanhado desde cedo para que possa ter uma vida normal quando adulto, principalmente ao nível profissional. Trabalham-se as relações afetivas, atividades motoras, aprimora-se a comunicação e o incentivo a realizar atividades diferentes. Muitas vezes os pais não conseguem ensinar devido à questão emocional que naturalmente interfere. Tudo deve ser feito de acordo com o tipo de autismo e o grau que ele representa para que o mesmo possa ter uma vida funcional e laboral satisfatória. Que trabalhe desde cedo a conquista de autonomia e independência “.
Fabiano de Abreu é membro da Mensa, associação de pessoas mais inteligentes do mundo com sede na Inglaterra conseguindo alcançar o maior QI registrado com 99 de percentil o que equivale em numeral a um QI acima de 180. Especialista em estudos da mente humana, é membro e sócio da CPAH – Centro de Pesquisas e Análises Heráclito, com sede em Portugal e unidades no Brasil e na Holanda.
Autismo: um olhar a 360º tem o intuito de desmistificar vários temas acerca desse transtorno
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é caracterizado pelo comprometimento na comunicação social como a linguagem verbal e não verbal deficitários, e os padrões de comportamentos restritos e repetitivos. O TEA manifesta-se na infância e, na maioria dos casos, até os cinco anos os sinais já podem ser vistos.
Um caminho que, muitas vezes, familiares e amigos de quem possui o TEA trilham com muitas dúvidas e medos. Assim, Tatiana Serra reuniu no livro Autismo: um olhar a 360º, lançamento pela Literare Books International, profissionais (médicos, psicólogos, terapeutas e educadores), com o intuito de desmistificar vários assuntos acerca desse transtorno. Os capítulos abordam desde a caracterização do transtorno, os problemas de comportamento decorrentes disso ao funcionamento do cérebro, e explicam sobre fatores de comunicação, direitos, inclusão familiar e escolar.
Tatiana Serra, que além de coordenadora editorial do livro é psicóloga e especialista em Terapia Comportamental, ressalta a importância dessa visão ampla e esclarecedora que a obra possui. “Mães e familiares de pessoas autistas chegam até nós confusos, cheios de sentimentos ambíguos, muitas vezes sem esperança e se sentindo fracassados. Por outro lado, realizados pelo sonho de ter uma família, um filho, que pode não ter sido sonhado previamente, mas que, ao receber a criança, o sonho despertou junto com a realização”, afirma a psicóloga.
Para a coordenadora, o objetivo do livro Autismo: um olhar a 360° é que as pessoas consigam encontrar uma direção mais clara nessa jornada sem aviso prévio para começar e prazo para finalizar. Tatiana ainda explica que não só os pais e familiares vivem situações desafiadoras, terapeutas e outros profissionais que lidam com essa área também enfrentam dificuldades, mas que o desafio em ajudar essas famílias se torna uma missão sólida em suas vidas.