Foto: Cícero Oliveira/ Desde quando nasceu, em 1958, até os dias atuais, a UFRN tem sido um agente de inegável alteração no contexto multicultural do estado
Uma colossal estrutura de concreto, saberes, histórias, lutas e transformações. Desde quando nasceu, em 1958, até os dias atuais, a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) tem sido um agente de inegável alteração no contexto multicultural do Rio Grande do Norte. Suas produções científicas e contribuições sociais, por meio da formação de uma significativa base dos profissionais que fazem a engrenagem do estado girar, podem ser consideradas um marco para a história potiguar. No ano que se aproxima, 2018, essa imensa instituição, que abraça o RN em cinco polos, completa 60 anos de existência.
Ao longo de tantos anos, muitas mudanças aconteceram na estrutura da universidade. A expansão do alcance aconteceu de forma gradual. Hoje, além do Campus Central, em Natal, a UFRN possui mais quatro Campi no interior do estado, em cidades como Caicó, Currais Novos, Macaíba e Santa Cruz. Segundo dados da Pró-Reitoria de Planejamento e Coordenação Geral da UFRN (Proplan), o censo de 2016 calculou que a UFRN oferece 115 cursos de graduação, sendo 104 presenciais e 11 à distância, possui 4.644 servidores, divididos entre efetivos (3.119) e terceirizados (1.525), além de ter em seu quadro 2.927 professores, somando os profissionais efetivos, visitantes e afastados. O montante de alunos chega a 28.396.
Teremos comemorações
Arte: Jaime Azevedo/Expansão da Universidade aconteceu de forma gradual
Apesar do momento de contenção de gastos e menor investimento por parte do Governo Federal nas instituições federais, a UFRN já tem uma programação encaminhada para comemoração dos sessenta anos. Principal evento da universidade, a Semana de Ciência, Tecnologia e Cultura (Cientec) terá mudanças para o próximo ano. A feira, que expõe os principais projetos e atividades científicas, tecnológicas e culturais da UFRN à sociedade norte-riograndense, se realizará na última semana do mês de junho, concomitantemente com o Congresso Brasileiro de Extensão (Cebeu) e com o Fórum de Pró-Reitores de Extensão das Instituições de Educação Superior Brasileiras (Forproex).
“A Cientec 2018 será algo atípico dentro do atípico. Ou seja, além da nova realidade menos favorável aos investimentos, a Feira do próximo ano faz parte de uma série de eventos que acontecem em comemoração ao aniversário da universidade. Nos últimos anos, com o encolhimento de recursos, o maior desafio foi tentar manter a qualidade acadêmica do que fazemos. Com uma estrutura menor, o trabalho de garimpo foi aumentado, fazendo com que a Cientec seja cada vez mais a vitrine que expõe o melhor do melhor do que é feito na UFRN”, explica Leonardo Mendes, membro da coordenação da Cientec.
Todas as edições da Cientec acontecem sob a perspectiva de um tema geral. Em 2017, o evento teve Equações criativas, soluções para a vida como temática. “O tema é uma síntese do que a sociedade vive, e também uma maneira de propor uma reflexão sobre a realidade atual. Buscamos neste ano mostrar quais são as equações criativas que já estão em ação na comunidade acadêmica. Creio que alcançamos nosso objetivo, principalmente no sentido de gerar inquietação, estimular o pensar diferente e mostrar que esse pensamento não deve ser somente restrito aos gestores, mas sim a sociedade como um todo”, explica o coordenador.
Para 2018, as temáticas dos três eventos que acontecem concomitantemente conversam entre si, tendo como abordagem principal os desafios de gerir as universidades em momentos delicados financeiramente. O Cebeu tem como tema Extensão e sociedade, contexto e potencialidades, o Forproex acontece sob a temática Gerir desafios, gerar resultados e a vigésima quarta edição da Cientec aborda o tema UFRN e RN do ontem ao amanhã – 60 anos de evoluções.
Atores históricos
Pelo menos 40 dos 60 anos de história da UFRN foram vivenciados de perto pela antropóloga Conceição Almeida, professora aposentada e que atualmente segue na UFRN como colaboradora voluntária. Formada em Sociologia e Política pela Fundação José Augusto, mestre em Ciências Sociais e Antropologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC), Conceição atua nos programas de pós-graduação em Educação e Ciências Sociais da federal potiguar.
E foram esses mesmos programas que a trouxeram para Natal no final dos anos 70, mais precisamente no dia 1° de novembro de 1977. Em decorrência da popularização da pós-graduação nas universidades brasileiras, Conceição foi convidada pelo então reitor da UFRN, Domingos Gomes de Lima, a ingressar no quadro da universidade. A ideia do reitor, segundo ela, era reunir profissionais, entre mestres e doutores, para transformar a UFRN em um polo do segmento no país.
Foto: Anastácia Vaz/Antropóloga Conceição Almeida, professora aposentada e atualmente colaboradora voluntária, atua na UFRN há 40 anos
Conceição lembra com carinho do momento de efervescência política dentro da universidade em sua entrada. Lembra também, com orgulho, da participação importante que teve na criação da Associação de Docentes da UFRN (ADURN) e, talvez mais importante, da sua batalha, junto aos colegas da época, pela democratização das eleições internas da universidade, por meio da instauração do voto direto em todos os níveis de gestão.
A professora participou de projetos como o grupo de pesquisa que estudou a problemática da seca no Rio Grande do Norte por meio de uma perspectiva multidisciplinar, não tão comum na época. Foram 11 anos dedicados ao grupo. No entanto, o projeto na Lagoa do Piató, em Açu, interior do Rio Grande do Norte, é o que mais mexe com Conceição. Foi trabalhando na lagoa que conheceu Francisco Lucas da Silva, um pescador simples e generoso que mudou seu jeito de pensar o mundo tanto quanto o antropólogo, sociólogo e filósofo francês Edgar Morin, seu grande inspirador pessoal e acadêmico.
“Eu gosto desse lugar. Eu gosto daqui, por isso pedi a religação como voluntária. A UFRN é como a minha pele mais interna. É díficil manter uma instituição dessas. Temos nossos defeitos, mas nunca quis sair daqui, mesmo tendo oportunidade. Sempre quis permanecer para contribuir com a minha parte”, conta Conceição Almeida.
Inquieta e ferrenha estudiosa sobre as diversas formas de aprendizagem humana, a professora é autora de obras como Ciências da Complexidade e Educação, além de Complexidade, Saberes Científicos e Saberes da Tradição. Para ela, o papel do educador é fazer a sua parte a sua maneira. Conceição entende que a sociedade talvez precise repensar a demanda atual de modelo universitário, sendo necessário reduzir a disciplinaridade e aumentar a interligação constante entre os campos de saberes tradicionais e científicos.
“O educador deve ser um incendiário de sonhos que estejam na contramão da ordem. Lamentavelmente, as universidades, em contexto geral, tem se prendido por uma questão de sobrevivência as atuações quantitativas. As produções estão voltadas para avaliação, seja de artigos ou órgãos superiores, e o papel do educador que na minha visão é aquele de deslocar os alunos do atual lugar onde estão e fazê-los ter contato com as diversas áreas do conhecimento, se perde aos poucos”, explica a antropóloga.
O futuro da UFRN
Reitora da UFRN desde 2011, a professora Angela Paiva Cruz revela quais são os planos para o amanhã da universidade. “O foco da UFRN é permanecer na busca da excelência acadêmica e consolidar a ampliação da sua responsabilidade social, com um Plano de Desenvolvimento Institucional avaliado e construído para cada década futura tendo por base as agendas internacionais que visam o desenvolvimento sustentável e a educação superior inclusiva, de qualidade e gratuita. Essa é uma construção que acontece desde sempre. É preciso realçar que a UFRN passou por processos de planejamento que garantiram uma transformação gigantesca desde sua criação em 1958”, afirma a Reitora.
Impacto regional
Foto: Cícero Oliveira/Reitora Angela Paiva Cruz acredita que a universidade tem sido uma alavanca para o desenvolvimento social e econômico do RN
Sobre a influência histórica e transformadora da UFRN no Rio Grande do Norte, Angela Paiva Cruz acredita que a universidade tem sido uma alavanca para o desenvolvimento social e econômico do RN. “Os estudos, a pesquisa e a extensão da UFRN são motivados pelas demandas dos contextos locais ou regionais, na sua maior parte, e buscam discutir e construir propostas de soluções para problemas sociais ou tecnológicos. Os Campi do interior consolidados oportunizam a formação de pessoas para contribuir com o desenvolvimento dos municípios”, explica a professora.
A UFRN continua em expansão
O momento não muito favorável aos investimentos faz surgir a necessidade de reinvenção. Na UFRN, os projetos de expansão científica e cultural estão em crescimento. O número de parcerias internacionais cresce e projetos de extensão, como o Trilhas Potiguares, que teve sua última edição realizada em Moçambique, na África, se expandem para além das fronteiras brasileiras.
“A universidade busca sempre a troca de saberes, de tecnologias e a construção do conhecimento sem fronteiras. Com essa estratégia é possível formar cidadãos comprometidos com os desafios do seu tempo e do seu contexto. As experiências vividas com as parcerias internacionais, que estão em crescimento, como no caso de Moçambique, elevam o significado da formação acadêmica. Os participantes desses projetos transformam e revalorizam o significado da vida e do conhecimento”, complementa a Reitora da UFRN.