Estamos vivendo uma época de mudanças rápidas. Quem diria que agora o seu smartphone teria mais poder computacional que a Nasa tinha quando o homem foi à lua? Ou, que daqui 20 anos, se smartphones como são conhecidos hoje existirem, eles terão 524.288 vezes mais poder de processamento, de acordo com a Lei de Moore?
Já reparou que muita coisa virou um aplicativo? Antes você precisaria de vários equipamentos para fazer o que um smartphone faz hoje. Mas eles se desmaterializam, se digitalizaram e agora o GPS, a câmera, o gravador de voz, a TV, o videogame, estão dentro de seu celular e são acessados por um ícone na área de trabalho.
Antes, para ser uma empresa de sucesso era preciso trabalhar duro por décadas e investir em estruturas pesadas, parrudas e caras. Agora, grandes negócios podem nascer de uma só pessoa ou de um pequeno grupo usando quase nada de investimento ou até ser baseado em trabalho remoto a distância.
Passamos de um momento em que o crescimento de uma empresa era linear e demorado, para um cenário em que, dependendo de como o negócio for projetado, acontece uma disrupção e o crescimento se torna exponencial. Ou seja, ele vai duplicando de período em período e quando esse crescimento passa a barreira dos números inteiros, se torna muito mais visível – e até “assustador”.
O Instagram, por exemplo, em menos de dois anos e com pouco mais de uma dezena de funcionários, teve um salto no número de downloads, usuários e quantidade de fotos postadas. Ao alcançar 30 milhões de usuários revelou-se uma ameaça e foi comprado pelo Facebook.
Muitos destes novos negócios construíram seu modelo em torno dos ativos alavancados. Isto é, Uber não precisou de carros próprios e AirBnB não precisou de quartos próprios para crescerem, eles trouxeram para perto pessoas que queriam participar daquela economia compartilhada e então o céu se tornou seu limite. O mesmo acontece com o Waze, ele usa os smartphones de usuários para capturar informações sobre o trânsito e otimizar a si próprio.
Alguns dados nos mostram como o mundo está realmente mudando a uma velocidade assustadora. De acordo com a Cornell University, de 2015 a 2020 o ranking da Fortune 500 será totalmente renovado. Na época de 1920 o tempo de vida médio de uma empresa na lista das 500 maiores da S&P era de 67 anos, agora é de apenas 15, de acordo com a Yale University, dado que destaca a importância de negócios se renovarem continuamente se não quiserem ficar para trás. Outro dado da Cornell University que merece destaque é que um estudante que está no ensino médio trocará de carreira em média 5x em sua vida. E aqui chegamos ao core deste artigo, sobre o futuro breve da educação.
O mundo mudou tanto nos últimos anos que a graduação deixou de ser o único caminho para alguém trilhar um futuro profissional. Assistimos garotos criando canais no Youtube que os tornaram grandes nomes, sem nunca terem feito um curso superior. Eles influenciam e impactam pessoas, que se identificam com seu estilo. O poder de voz chegou a todos com as mídias sociais, a informação não está mais centralizada em um ou outro e até mesmo uma pessoa comum pode vir a ter um blog com mais alcance e acesso que um veículo de mídia tradicional.
Novas profissões surgiram a partir do avanço das tecnologias e tantas vezes não foram encontrados cursos que preparariam aquela pessoa para exercer aquela função. Foi preciso estudar aqui e ali para aprender como fazer.
Além disso, muita gente passou a abrir mão de grandes empresas ou cargo para se aproximar de seus propósitos, indo trabalhar em startups ou empreendendo, mesmo que isso significasse, em alguns casos, abrir mão de salários altos. Muitas delas passaram a valorizar mais a flexibilidade, o home-office, o tempo para projetos pessoais do que apenas uma conta bancária e um único foco.
Com tantas necessidades não atendidas pela academia, que nem sempre consegue acompanhar o ritmo do mercado, será que estamos caminhando para o fim dos diplomas? Será que finalmente a educação e as instituições de ensino, sofrendo esse chacoalho, vão finalmente se transformar? Afinal, muita coisa mudou, mas as escolas, em sua grande maioria, ainda funcionam como há décadas atrás, apostando em alunos enfileirados e o professor no centro do saber.
Uma coisa é certa, daqui em diante as pessoas vão querer cada vez mais trabalhar “com” pessoas, não “para” pessoas e isso por si só vai modificar drasticamente modelos e estruturas. Se a tecnologia permite que muitas funções sejam executadas de qualquer lugar do mundo, não fará mais sentido reunir funcionários todos os dias em um espaço. E novas dinâmicas exigirão horários alternativos de trabalho, fora do padrão conhecido como horário comercial.
Tudo que é novo costuma assustar. Quando falamos em inovação há um termo cunhado por Shumpeter que diz sobre a “destruição criadora”, porque a princípio para que algo novo possa ser colocado em prática, primeiro as estruturas são sacudidas, o mercado é ameaçado de alguma forma e inicialmente aquela novidade não parece fazer sentido. Tudo isso está bastante relacionado com o choque entre as gerações, porque por mais que tentemos nos manter frescos e jovens, acabamos, em tantos casos, pensando como sempre pensamos. E é exatamente ai que começamos a ficar velhos, quando adotamos a postura de “isso não pode ser assim”. Por que não? Quem sou eu para dizer que um Youtuber está errado em fazer disto uma profissão? Que um influenciador que trabalha com tantas marcas diferentes não tem mérito porque não cursou um curso na educação formal?
Um artigo da Você S/A de agosto de 2017 falou sobre o fim do diploma. Na matéria a ultraespecialização foi citada como uma tendência para os próximos anos, de modo que cada aluna possa construir uma trilha de aprendizado personalizada, combinando cursos formais com informais, bebendo daqui e dali.
Além disso, em um mundo que muda tão rápido, fazer um único curso e dar-se por satisfeito não vai funcionar mais, será preciso passar a vida se atualizando. Tudo isso porque novas e específicas áreas vão precisar de conhecimentos muito específicos. As universidades precisarão se reinventar, oferecendo cursos customizados, flexíveis e responsivos às necessidades dos profissionais, como afirma o reitor da Universidade Northeastern, de Boston (EUA), Joseph E. Aoun, na matéria da revista.
Neste sentido já existem instituições apostando por meio de um consórcio chamado Five College. O aluno não segue uma grade preestabelecida e pode fazer aulas disponíveis em qualquer uma das cinco escolas. Na Universidade de Tampere, na Finlândia, os alunos não apenas aprendem, mas lidam com problemas reais, atuando na prática para a solução do problema. E em um mundo tão conectado e com tanta informação disponível, até mesmo o papel do professor muda, ele passa a atuar como um facilitador, um coache. Além disso, os nanodegrees devem crescer, escolas como Coursera e Udacity já apostam neste modelo e trabalham soft skills.
Todas estas transformações na educação exigirão também um novo olhar das empresas. Será preciso cada vez mais valorizar certificações e atualizações, não apenas o curso ou o nome da instituição em que o candidato se graduou. De acordo com Joseph E. Auon, da Universidade de Northeastern, muitos empregos vão desaparecer por conta da robótica e da inteligência artificial, a graduação precisará se modificar para transformar os alunos à prova desses robôs. Para isso, a educação continuada será essencial. E no meio de tudo isso precisaremos aprender que a melhor forma de lidar com a transformação tecnológica será educar as pessoas a se adaptarem a ela, passando a enxergar a educação como um processo, não como uma etapa a ser cumprida para iniciar a vida adulta e o trabalho.
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Fonte: Flavia Gamonar – Docente • Doutoranda • Cofounder OQMOM