Trabalhar sempre em excesso, apesar de parecer uma prática honrosa, é um problema que precisa ser considerado e discutido pelas empresas. Confira mais sobre o tema Workaholic.
Se antes os trabalhadores já podiam se estender em demasia nos horários extras, agora, com a tecnologia facilitando a conexão entre os profissionais e as empresas, ficou ainda mais fácil trabalhar além da conta, e muitas vezes sem perceber, ainda mais em home-office.
O trabalho sempre excessivo, apesar de ser muitas vezes encarado como um fato gerador de benefícios empresariais, é, na verdade, um problema para si mesmo e para toda a empresa.
O que, na superfície, se mostra um trabalhador dedicado, pode estar ocultando, em seu interior, uma série de outros problemas psicológicos e emocionais. Para saber mais, acompanhe o texto a seguir. Boa leitura!
Workaholic, o que é?
De origem norte-americana, a palavra “Workaholic” foi cunhada pela primeira vez em 1971, pelo psicólogo e educador religioso Wayne Edward Oates, para designar uma pessoa compulsiva, com uma necessidade incontrolável de trabalhar incessantemente.
Ainda hoje, é um termo discutido por psicólogos e especialistas em saúde mental, pois não se sabe ao certo se o “workaholismo” seria melhor definido como uma doença ou como um sintoma de outros problemas e possíveis doenças — o que é mais consensual.
O fato é que ainda não consta na Classificação Internacional de Doenças (CID), e que é dizer comum se tratar de um vício, como o alcoolismo, que necessita de tratamento o quanto antes e que pode se agravar com o passar dos anos.
Profissional esforçado ou workaholic?
Há uma confusão frequente que se faz entre os workaholics e os profissionais esforçados, mas não se pode levar um pelo outro.
Entre os pontos que caracterizam um workaholic, estão os seguintes:
1. O trabalho como único propósito
Enquanto para os outros profissionais, o trabalho é um meio de ganhar a vida, para um workaholic, o trabalho é, em si mesmo, a própria finalidade da sua existência.
Em uma distorção, ele acaba delegando toda a sua energia e tempo para o ofício, e deixa de lado todas as outras áreas da sua vida, prejudicando assim suas relações familiares, de amizade, relacionamentos, etc.
Como consequência, o dinheiro também deixa de ser importante. “Se um workaholic ganhasse na loteria, ele não pararia — ele não está fazendo isso pelo dinheiro”, afirma Diane Fassel, PhD, consultora organizacional em Boulder, Colorado (EUA).
2. A necessidade compulsória
Antes do expediente e depois do expediente: um workaholic chega mais cedo e sai mais tarde que os outros colegas de trabalho. E quando chega em casa, se sente ansioso por não estar trabalhando.
É um trabalhador que não gosta de pausas, mas não só isso — ele as evita. Prefere trabalhar com qualquer coisa do que descansar quando necessário.
3. O poder e o controle
Se um profissional com esse perfil obsessivo for promovido a um cargo de maior poder dentro da empresa, são grandes as chances de ele se tornar um controlador prejudicial para o time sob sua gestão.
Como está constantemente trabalhando à exaustão, também força subordinados além do necessário, e os julga quando não trabalham na mesma quantia abusiva.
As causas do trabalho excessivo
Uma das principais causas para o vício em trabalho é o desejo de afastamento de outros problemas.
Segundo Fassel, autora de Working Ourselves to Death, a “enorme ansiedade e problemas psicológicos não resolvidos são mantidos à distância pela atividade incessante do viciado em trabalho”.
Assim como pessoas com problemas alcoólicos bebem “para esquecer”, como é comum ouvir, os workaholics trabalham para tirar o foco de outras questões.
No fundo, o que se deseja é uma desconexão com a realidade psicológica, esta que muitas vezes se mostra cruel e difícil de bem suportar.
Não se trata de um problema físico, mas, nas palavras de Fassel, de uma “doença da alma, uma doença espiritual”. Quem muito trabalha, pouco tempo tem para contemplar o vazio de sentidos que às vezes ronda a própria vida.
E embora este “saber sobre si mesmo” fosse necessário, ele é também, para muitas pessoas, assustador.
Acrescentando as palavras de Jeffrey P. Kahn, MD, psiquiatra de Manhattan (Nova York) e consultor do comitê de psiquiatria na Associação Americana de Psiquiatria, sobre workaholismo:
“Muitas vezes, é um sintoma de uma variedade de problemas emocionais, incluindo transtornos de ansiedade e depressão subjacentes, moldados por traços de personalidade obsessivo-compulsivos”.
As consequências do trabalho excessivo
Apesar do problema principal ser de base psicológica, mental, é inegável que a exaustão contínua na prestação de serviços causará sérios danos à saúde física do profissional.
Muito trabalho e pouco descanso geram grandes quantidades de estresse que, no decorrer dos dias, funcionam como uma bomba no corpo do trabalhador.
Quando o corpo ultrapassa esses limites — como uma máquina fazendo por muito tempo algo que não deveria fazer — ele quebra.
O resultado são ataques cardíacos, acidentes vasculares cerebrais, colapsos devidos a outras doenças originadas pelo sobrecarregamento diário, muitas vezes terminando em morte ou incapacitação do trabalhador.
Importante lembrar que, sendo o trabalho o único foco, os amigos e a família da pessoa viciada ficam abandonados, e se enfraquecem e até se quebram essas relações.
Além desses males para a pessoa e seus familiares, é também um golpe para as coisas da empresa, que perde um de seus funcionários depois do agravamento do quadro, e que, mesmo quando o profissional ainda está a trabalhar, perde na questão da eficiência e da produtividade, pois o trabalhador compulsivo leva muito mais horas para fazer aquilo que seus colegas fazem no tempo normal do expediente.
A prevenção
Com respeito à lei, seguir a jornada de trabalho prevista na CLT, de no máximo 8h diárias, com poucas horas extras de vez em quando, já seria suficiente para evitar os piores casos.
O setor de Recursos Humanos da empresa, caso perceba que um dos profissionais está a exagerar frequentemente nas suas jornadas diárias, deve chamá-lo para uma séria conversa, inclusive colocando a possibilidade de demissão na falta de futuras mudanças.
Quanto ao chefe do trabalhador viciado, deve entender que essa obsessão compulsória não é digna de aplausos ou bonificações, mas que necessita cuidado e atenção. No médio e longo prazo, a empresa tem mais a perder do que a ganhar com essa postura irresponsável.
Como cuidar desse vício?
E ao citado workaholic, trabalhador-tema deste artigo, é recomendável que procure grupos de ajuda mútua, psicólogos e/ou psiquiatras.
No tratamento, é fundamental que a pessoa passe a reservar tempo para seus amigos, seus familiares, e também para si mesma. Ela deve tentar, pouco a pouco, se sensibilizar com as próprias emoções e sentimentos, refletir sobre os problemas que lhe acometem.
A meditação é um método famoso que pode ajudar na diminuição da ansiedade, do estresse, e aumentar a conexão da pessoa consigo mesma e com seu tempo presente.
Workaholic: trabalho digno ou problema sério?