No Dia Mundial da Água, neste 22 de março, há pouco o que comemorar, diz o ambientalista Carlos Bocuhy
Pesquisa recentes mostram um agravamento na oferta mundial de água. Se a situação hídrica se mostrava preocupante nos primórdios da criação do Dia Mundial da Água, em 1992, em 22 de março, que lembramos no dia de hoje, passados quase 30 anos ganhamos um componente exponencial: as mudanças climáticas.
“As preocupações anteriores com o aumento populacional e sua concentração em pequenos espaços geográficos, poluição e alterações no uso da terra, que invadia mais e mais ecossistemas essenciais à produção hídrica, encontraram, na virada do século XXI, um forte agravante”, afirma o ambientalista Carlos Bocuhy, presidente do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental (Proam).
Recente pesquisa do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), divulgada no dia 18 de março e apresentada à ONU, revela que há uma fragilização global nos ecossistemas produtores de água. Estima-se que um quinto das bacias hidrográficas do mundo está passando por flutuações dramáticas na disponibilidade de água e que mais de 3 bilhões de pessoas convivem com a escassez ou se encontram em alto risco acesso à água, além de sujeitas a doenças por veiculação hídrica.
Segundo o ambientalista, no Brasil, há hoje uma nova realidade para os mananciais.
“A metrópole de São Paulo vivencia a redução anual dos índices de reservação do Sistema Cantareira, que já conta com um processo histórico de disputa pelo uso da água entre a bacia hidrográfica do Alto Tietê, no planalto de Piratininga, com a bacia do Piracicaba, Capivari e Jundiaí, situada ao norte”, afirma Bocuhy.
Ele lembra que na crise que hídrica, que ocorreu entre 2014-2016, o conflito se ampliou para o leste, com a retirada de água da bacia do rio Paraíba do Sul, que também abastece a cidade do Rio de Janeiro.
“Há uma instabilidade social subjacente à escassez de água. Mesmo sem fortes desdobramentos na realidade brasileira, essa instabilidade no cenário internacional é preocupante. É preciso ressaltar que a garantia de acesso aos recursos naturais essenciais tem forte relação com a paz. Água deve ser um elemento de cooperação entre as comunidades para sua preservação — e não de disputa”, afirma o ambientalista.