Astrônomos observam 198 estrelas em primeira missão observacional remota da UFRN
Após nove noites de trabalho contínuo, a primeira missão observacional remota da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) junto a um observatório astronômico foi concluída com sucesso na manhã desta quarta-feira, 24 de fevereiro. Conduzidas pelos professores Izan de Castro Leão e Bruno Leonardo Canto Martins, do Departamento de Física (DFTE) do Centro de Ciências Exatas e da Terra (CCET), as atividades observacionais foram realizadas com um telescópio de 3,60m do European Southern Observatory (ESO), localizado em La Silla, no Deserto do Atacama, Chile.
Graças às condições atmosféricas favoráveis, com céu límpido e estável, em cerca de 95% do tempo útil, foram observadas 198 estrelas, com uma média de 22 estrelas por noite, como parte de quatro programas de pesquisa dedicados à busca por planetas extrassolares, também chamados de exoplanetas. Desses programas, um é conduzido pelo professor José Renan de Medeiros e tem como foco principal a busca por planetas em torno de estrelas parecidas com o Sol, hospedeiras de cinturões de asteroides. Os outros três programas, também dedicados à busca por planetas extrassolares, são conduzidos por cientistas da Universidade de Torino, na Itália, Pontifícia Universidad Católica de Chile e University of Warwick, Inglaterra.
Nas observações realizadas a partir do campus da UFRN, foi aplicada a técnica da Espectroscopia Doppler, também conhecida como o método da velocidade radial, que envolve a busca de manifestações do efeito Doppler no espectro da estrela observada, provocadas por companheiros planetários. Os dados coletados são imediatamente liberados para o cientista-chefe de cada projeto, ficando embargados, no entanto, por um ano, por respeito à propriedade intelectual.
A expectativa dos professores Renan, Bruno e Izan é de que os dados coletados mostrem um número relevante de novos planetas extrassolares, inclusive dentro do programa científico conduzido pela UFRN, uma vez que muitas das estrelas observadas já estão em estudos há cerca de dois anos. Tal fato pode ser confirmado em até seis meses, uma vez que vários artigos estão em processo de submissão para diferentes periódicos internacionais.
Durante a missão observacional, houve também uma preocupação com a formação de estudantes, sendo que dois doutorandos do Programa de Pós-Graduação em Física (PPGF/UFRN), Márcio Assunção Teixeira e Yuri da Silveira Messias, passaram por treinamento e aprenderam a preparar dados estelares para as observações e a manusear instrumentos. Todo o processo observacional foi realizado por meio do laboratório de observações remotas do Núcleo de Astronomia Observacional e Instrumental da UFRN, e, como um teste decisivo para a qualidade das observações, contou com extrema estabilidade elétrica e de comunicação via rede durante toda a missão.
O reitor da UFRN, professor José Daniel Diniz, a diretora do CCET, professora Jeanete Alves Moreira, e o vice-diretor, professor Claudionor Gomes Bezerra, visitaram o laboratório durante as operações observacionais, testemunhando que, além do marco científico e tecnológico, tal missão observacional representa um passo sólido para a consolidação do processo de internacionalização da Instituição.
A vida lá fora
Os professores José Renan, Bruno e Izan participaram da descoberta de 17 planetas extrassolares nos últimos 15 anos. Os exoplanetas, ou seja, planetas situados fora do Sistema Solar e que não orbitam o nosso Sol, foram descobertos com a participação direta desses pesquisadores na realização de observações e pelo uso de tempo-telescópio aprovado para seus projetos.
Encontrar planetas que possuam condições físicas e químicas de habitabilidades similares à Terra é o principal objetivo de inúmeros satélites e instrumentos instalados em telescópios por todo o globo. Um desses satélites, o TESS (Transiting Exoplanet Survey Satellite), lançado em 2018 pela NASA, foi idealizado especificamente para a busca por planetas do tamanho da Terra orbitando estrelas próximas.
A missão do TESS irá se estender até 2022 e conta com o apoio dos astrônomos da UFRN. O grupo já identificou cerca de duas mil estrelas hospedando objetos com características de planetas e, através do monitoramento, poderá apontar quais estrelas oferecem uma melhor perspectiva de estudos sobre as características físico-químicas de seus sistemas planetários, incluindo suas potenciais condições de habitabilidade.
Em artigo publicado em 2020 no periódico americano Astrophysical Journal Supplement Series, os astrônomos da UFRN anunciaram um diagnóstico pioneiro sobre as características físicas de metade dessas estrelas observadas pelo TESS, incluindo medidas de períodos de rotação, identificação de erupções e pulsação e possíveis níveis de atividade magnética. O artigo foi assinado junto a um grupo de cientistas brasileiros e pode ser acessado nos sites Filtergraph e Iopscience.