Keillha Israely
Assistente Social – Casa Durval Paiva
CRESS/RN 3592
Aquela velha premissa de que ouvir é diferente de apenas escutar, é deverás importante, pois, ouvir remete apenas ao processo mecânico do sentido da audição, ou seja, é algo além do nosso querer. Enquanto que escutar é para além de ouvir, requer atenção para as palavras, expressões e diversas maneiras de comunicação, é estar atento ao que o outro quer nos passar.
A escuta qualificada é um importante instrumental utilizado e regulamentado no serviço social, pois é por meio dela que conseguimos identificar demandas e necessidades. Entende-se que a escuta qualificada é uma ferramenta essencial para que o usuário seja atendido na perspectiva do cuidado como ação integral, já que, por meio dela, é possível a construção de vínculos, a produção de relações de acolhimento, o respeito à diversidade e à singularidade. Ou seja, trata-se de um processo necessário diante das demandas e exigências do cotidiano, e vai para além da dinâmica agitada de qualquer setor, pois, o ato de parar e não só ouvir, mas escutar o paciente, e/ou acompanhante diante das muitas dúvidas, angústias e inquietações, e buscar entender, traduzir o que nos é passado, é fundamental para nossa intervenção.
As famílias quando recebem o diagnóstico de câncer e são encaminhadas para a Casa de Apoio são acolhidas no setor de serviço social e, muitas vezes, a escuta qualificada é o nosso primeiro e mais importante meio de viabilizar um acolhimento e atendimento qualificado. Pois, é nesse primeiro contato que apreendemos as mais diversas demandas e necessidades, e iniciamos a construção de um vínculo fundamental durante o processo de tratamento. Um momento onde a família chega aflita, com dúvidas e medo, e o falar é desafiador para muitos. Assim, é por meio da escuta qualificada no primeiro atendimento, que começamos a entender quem é esse paciente, em qual família ele vive, qual a sua rede de apoio e principais demandas.
As histórias relatadas são diversas, assim como as configurações e os arranjos familiares, e em determinadas situações, precisamos buscar entender até o silêncio, pois, não é fácil falar sobre nós mesmos, e diante de uma notícia tão difícil, que é carregada de medo e angústia, muitos pais e acompanhantes se calam, e é nesse momento que estes necessitam ser de fato acolhidos. Buscamos ir além desse contexto das palavras e informações não ditas, apreendendo as demandas, as diversas expressões da questão social, e realizando os devidos encaminhamentos para a equipe multidisciplinar, bem como, para a rede de atenção psicossocial.
Os espaços utilizados para essa escuta qualificada são os mais diversos, não se restringe apenas a sala de atendimento. Muitas vezes, as conversas nos quartos, nos espaços de convivência, refeitório, nas visitas domiciliares, onde temos a oportunidade de conhecer as casas, os irmãos e demais parentes, proporcionam momentos ricos, onde podemos identificar e até mesmo traduzir as diversas demandas, que muitas vezes permanecem veladas.
Em suma, o simples fato de parar para escutar as histórias, dúvidas, medos e inquietações se revela como um meio importante para o fazer social, e esse ato de parar não apenas para ouvir meramente, mas para escutar, e decifrar o que muitos deles têm dificuldade de dizer é rico, salutar e necessário para o nosso fazer profissional.