Para o filósofo e pesquisador Fabiano de Abreu, pesquisador do tema, a cognição e a capacidade de surpreender são os principais diferenciais entre as inteligencias
A tecnologia já faz parte da nossa rotina. Especialistas por todo mundo apontam que o uso de ferramentas digitais serão ainda mais recorrentes na próximas gerações. E apesar da premissa da facilidade, a quantidade de informações disponíveis na rede mundial de computadores está modificando negativamente a capacidade cerebral.
Com características de plasticidade — capacidade de adaptação a diferentes situações e ambientes—, o cérebro acaba desenvolvendo mecanismos que buscam reproduzir o funcionamento automatizado, igualmente visto em inteligências artificiais. O resultado disso? O ser humano vem perdendo capacidade cognitiva.
Fabiano de Abreu, filósofo e pesquisador do tema aponta que o volume de conteúdo consumido tem feito com que dados essenciais não sejam armazenados da maneira naturalmente designada. “Estamos a transpor o limite natural da nossa mente. A memória da máquina é limitada. Hoje nosso cérebro usa a internet como uma espécie de HD externo e existe uma dependência nas informações ali armazenadas, que já não são retidas na nossa mente”.
Vocabulários, endereços e nomes já não nos vem à mente com facilidade. Esse é um dos efeitos colaterais que têm reforçado a dependência e submissão existente na população conectada. “A perda cognitiva é real. A busca pela leitura e escrita é cada vez menor, o que resulta na perda de vocabulário, compreensão e consequentemente nossa capacidade de raciocínio. Nesse ritmo, vamos criar uma nova forma de vida humana, não seremos mais homosapiens e sim homodigitais”.
Outra área do cérebro que pode ser acometida é o sistema límbico— conjunto de estruturas cerebrais envolvidas nos processos emocionais. A medida que a vida real é baseada nas interações digitais, o que se tem é a busca pelos padrões inatingíveis das máquinas. “Estamos a criar projeção adoecidas do que se entende por vida real. O dinheiro é o centro do mundo, o corpo precisa ser perfeito, a sua rotina precisa ser reproduzida nas redes sociais. E quando tentamos reproduzir esses padrões idealizados, os resultados são frustrações que acabam por produzir gatilhos para depressão e ansiedade”, aponta Fabiano.
De acordo como a teoria do filósofo, é necessário filtrar o melhor que as máquinas podem oferecer sem danificar as competências que fazem com que a inteligência humana seja única e indispensável para o bom funcionamento social e científico. “Somente os seres humanos são capazes de atingir tamanha complexidade e discernimento. O diferencial do homem é justamente a sua não-linearidade, ou seja, a capacidade de criar e surpreender. Nós somos dotados de algo que a máquina não tem: emoção e cognição”, observa.