Enquanto um pequeno espaço para um caixão custa R$ 939 mil, um apartamento pode valer até a metade desse preço
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“Por metro quadrado, é mais caro viver do que morrer”, disse o presidente da Associação de Negócios Funerais de Hong Kong, Kwok Hoi Pong, ao jornal The Guardian. “Um espaço para uma urna em um columbário privado e em uma boa localização no cemitério custa R$ 939 mil. Isso é um fenômeno em Hong Kong”, continuou.
Segundo ele, uma tumba inteira pode chegar a valer R$ 1,5 milhão, ainda sujeito a não encontrar disponibilidade: o cemitério da cidade está abarrotado. Um lugar é tão escasso que 90% das cerca de 48 mil pessoas que morrem por ano em Hong Kong são cremadas. Cada vez mais encontrar um espaço no cemitério local é uma missão impossível.
Um pequeno lugar no columbário público custa R$ 1,4 mil — mas a espera por uma vacância dura, em média, quatro anos. Aqueles que não estão preparados para esperar devem pagar muito mais por um nicho em um columbário próprio — um espaço não muito maior do que uma caixa de sapato. Com a propriedade mais cara vendida em um leilão de imóveis por R$ 94 mil o metro quadrado, é de fato mais caro morrer do que viver.
Há ainda as chamadas tumbas verdes, uma das opções mais pragmáticas, e ainda assim lotadas, disponíveis para os habitantes. Não é, de fato, uma alternativa popular. Segundo Kwok, o problema disso é que os costumes tradicionais chineses são de guardar os restos mortais dos ancestrais, não de queimá-los, como muita gente está se vendo obrigada a fazer agora. “Um lugar físico em que a gente possa prestar nossas condolências, fazer rituais e dar bênçãos é sagrado para nós. Muitos chineses ainda são conservadores nesse sentido”, disse ele.
Preocupado com o fato dos operadores de columbários privados da cidade estarem explorando pessoas desesperadas para guardar os restos mortais de seus entes queridos, o governo criou uma lei há dois anos para regular a indústria. Agora, as empresas devem pedir licença estatal a cada ano e seguir padrões estritos.
Apesar disso, os custos não baixaram para os clientes em potencial. “Dado que apenas alguns columbários privados vão seguir os requisitos para ter a autorização do Estado, eu acredito que os preços dos nichos vão aumentar, porque é um mercado livre”, disse Kwok ao The Guardian. “Nós estimamos que os preços de gavetas, por exemplo, vão subir cerca de 30% quando os columbários privados receberam a licença”, completou.
A imprensa de Hong Kong estima que cerca de 200 mil restos mortais estão esperando um lugar na cidade — muitos deles estão guardados de forma improvisada em funerárias por um valor entre R$ 150 e R$ 420 ao mês.
Para lidar com a demanda, os arquitetos estão precisando ser criativos. Em 2012, uma consultoria propôs uma linha oceânica dentro de um cemitério chamado Floating Eternity (“Eternidade Flutuante”) com 370 mil espaços para restos mortais. Há três anos, uma proposta semelhante procurou por investidores com o plano de converter um navio de cruzeiros em um columbário flutuante com restaurantes, hotel e um espaço para 48 mil urnas. O governo, porém, tem preferido promover as “tumbas verdes”.