Incêndio que atingiu catedral parisiense não destruiu estátuas dos 12 apóstolos e dos quatro evangelistas do Novo Testamento porque elas foram retiradas do telhado uma semana atrás
(Crédito: divulgação)
Por anos, especialistas em restauração se preocuparam com a fragilidade das estátuas de cobre que ornavam a torre do século XIX da Notre-Dame, em Paris, que poderiam cair lá do alto no chão.
Ao invés disso, em um milagre do tempo, as esculturas dos 12 apóstolos e os quatro evangelistas do Novo Testamento escaparam do fogo que atingiu a catedral parisiense porque foram retiradas dias antes do incêndio, na segunda-feira (15). É um pequeno motivo de celebração depois que a tragédia destruiu dois terços do telhado da igreja e fez a agulha onde elas estavam desmoronar.
Os parisienses também estão ansiosos para ouvir que os pedaços da cruz de Cristo, a coroa de espinhos e as famosas rosáceas do templo estão salvos, mas já é um alívio contemplar que o destino das esculturas, que estavam no teto da Notre-Dame há 160 anos, foi diferente de outra tradição que estava nela: o galo — a ave que ficava no topo da agulha e representava o símbolo extraoficial da França, antiga Gália — foi severamente danificado.
As estátuas de cobre manchadas pela umidez, com suas cabeças retiradas dos corpos para o transporte, estavam em um armazém na região de Dordogne, no sudoeste da França, na terça-feira (16). Os especialistas estavam se preparando para limpá-las e restaurá-las, dando-lhes novamente a cor de cobre, antes de retornarem a Paris, em 2022.
Agora, os planos são outros: segundo o jornal estadunidense New York Times, a empresa contratada para a restauração deixou as estátuas de lado e voltou a Paris para ajudar a proteger outras peças famosas da igreja: as gárgulas que ficavam no teto e foram seriamente prejudicadas pelo fogo. Segundo o chefe da Socra, restauradora das esculturas, Patrick Palem, o novo foco é a “reconstrução e renovação da Notre-Dame, que pode levar de 10 a 20 anos, provavelmente ao custo de vários milhões de euros”. Os sistemas de imóveis das corretoras da Île de la Cité já contabilizam mudanças nos preços das propriedades do entorno um dia depois do incêndio.
As 16 esculturas, cada uma pesando cerca de 220 quilos, foram removidas na semana passada, delicadamente sobrevoando o céu de Paris e transportadas de avião para a central da empresa em Dordogne. Elas estavam no teto da Notre-Dame desde a grande reconstrução feita no século XIX pelo arquiteto Eugène Viollet-le-Duc, cujo rosto foi o modelo para uma das figuras, a do apóstolo São Tomás.
Viollet-le-Duc era um arquiteto entusiasta do gótico que ficou famoso na França por suas restaurações criativas, introduzindo novas peças aos edifícios em que trabalhava. No caso da Notre-Dame, ele agregou as gárgulas, que serviam como saídas da água da chuva no telhado — elas aparentemente sobreviveram ao fogo. Ele foi muito atacado durante a carreira, principalmente na obra da catedral, e acusado de “vandalizar a história”. Ainda assim, ele restaurou a fachada da igreja e a nave, incluindo 60 novas estátuas.
O plano original da Socra era restaurar as esculturas dos efeitos do tempo e da poluição, que modificaram muito os formatos originais. A estratégia era soldar as rachaduras e limpá-las para expor a cor original marrom do cobre que fora coberta por um verde calcário da umidade da chuva. No entanto, eles se viram diante do pesadelo do incêndio uma semana depois. “Para mim, é como perder um grande amigo, como se seus avós tivessem morrido”, disse ao jornal francês Le Monde.
“Quando a agulha caiu queimando, eu tive a mesma sensação de quando vi o World Trade Center colapsando”, finalizou.