Por Hellen Almeida

Banda Braille Ponto Positivo é um projeto de extensão universitária da Escola de Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
“Nós podemos fazer música ou qualquer outra arte de nosso interesse, basta termos vontade”. Essas palavras são de Sebastião Francisco de Lima, ou simplesmente Tião, como gosta de ser chamado. Ele tem cegueira total desde três anos de idade, quando teve uma infecção.
Essa deficiência visual não foi obstáculo para que ele tocasse bateria e percussão e se tornasse integrante da Banda Braille Ponto Positivo, projeto de extensão universitária da Escola de Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (EMUFRN).
Sebastião entrou no projeto em 2014 e já tinha experiência anterior, pois havia estudado percussão e bateria. Para ele, a Banda Braille representa uma oportunidade de mostrar o seu talento e estar na ativa. “Queremos mostrar que dá para os deficientes apresentarem seus trabalhos na arte, na música. Para mim é uma oportunidade de estar sendo visto no mercado da arte, está sendo mostrado, estar em evidência”, complementa.
Assim como seu Tião, a superação e dedicação levaram outras pessoas com deficiência visual a participar da Banda Braille, que surgiu 2014 dentre de um projeto maior de inclusão da EMUFRN – o Esperança Viva.
Uma dessas pessoas que superaram barreiras para ser músico é Francisco Dalvino, ou Chiquinho, que perdeu a visão já adulto. Ele tinha tido uma experiência em tocar teclado, mas nada profissional. “Eu tinha conhecimentos técnico, mas a leitura de partituras comecei a aprender com o projeto Esperança Viva”, destaca.
Dalvino, que é vocalista da Banda Braille acredita que para conseguir se profissionalizar em música, basta querer e ter força de vontade. “Eu percebi que não é tão fácil ser músico com técnicas, é preciso ter conhecimento teórico, assistir aulas de canto para aperfeiçoar a voz e cantar de maneira exata. Pretendo fazer novos cursos e aperfeiçoar meus conhecimentos”, revela. Para ele, cantar é fazer as pessoas felizes e trazer alegria para o público.
Experiência
Os ouvidos atentos a cada melodia procuram chegar a harmonia e ritmo corretos para acompanhar os outros músicos. Tocar em conjunto é a grande experiência vivenciada por Sidney Soares Trindade, tecladista, ao participar da Banda Braille. O músico, que tem cegueira, faz parte do grupo desde a criação e chega a ser chamado sócio-fundador da banda.

Entre os objetivos do projeto Banda Braille estão o de desmistificar preconceitos e estereótipos com relação ao fazer musical das pessoas com deficiência e fortalecer a inclusão através das ações promovidas pelo grupo
“Toquei muito tempo na noite, mas era apenas sozinho com um teclado. A Banda Braille Ponto Positivo dá a oportunidade de ter a prática de tocar com outras pessoas, a prática de conjunto”, destaca. Sidney acrescenta que a prática adquirida no projeto vem trazendo aperfeiçoamento para seus conhecimentos musicais. “Eu não tinha conhecimento teórico e acesso à musicografia braille, o que estou aprendendo agora”, atesta.
Quem também já tinha contato com música desde cedo, aos 16 anos, é o acordeonista do grupo, José Ivanaldo da Silva. Ele começou a participar do projeto Esperança Viva em 2011, quando começou a ter aulas de flauta doce. “Para mim, o projeto serviu para enriquecer o meu conhecimento”, afirma. Atualmente, tocando sanfona na banda, Ivanaldo declara que “se tirasse a música de perto de mim eu me considerava um homem sem vida, porque eu vivo pela música. Ela dá o meu sustento”.
História
A Banda Braille é formada por sete componentes, entre pessoas que têm deficiência visual e as que não têm, que são os alunos monitores da Escola de Música, tendo como coordenador musical o professor Ticiano D’Amore. Fazem parte do grupo, Francisco Dalvino (voz), Magna Luana Farias (voz), Sidney Trindade (teclado), Sydney Xavier (Guitarra), Allyson Freire (Baixo), Sebastião Francisco de Lima (bateria) e José Ivanaldo da Silva (Acordeon).
Entre os objetivos do projeto Banda Braille estão o de desmistificar preconceitos e estereótipos com relação ao fazer musical das pessoas com deficiência e fortalecer a inclusão através das ações promovidas pelo grupo. Para a coordenadora geral do projeto Esperança Viva e da Banda Braille, professora Catarina Shin Lima de Souza, uma única disciplina em um curso de graduação é pouco para capacitar e para abranger todo o universo de pessoas com deficiência, que se refere à educação especial.
“O projeto não é só para as pessoas com deficiências, é também para a formação dos nossos alunos de graduação, para que já saibam como atuar em uma sala de aula com inclusão. Nossos alunos têm a possibilidade, por meio do Esperança Viva e da Banda Braille, de terem essa experiência prática já no processo de formação”, ressalta a professora.

Banda se apresenta em diversos eventos, sendo a maioria ligados à inclusão
Os ensaios da Banda Braille acontecem semanalmente em um dos estúdios da Escola de Música da UFRN, toda quinta-feira, das 10h às 12h. A cada encontro, novas músicas são experimentadas, ampliando o repertório do grupo.
Segundo o coordenador musical da Banda Braille, Ticiano D’Amore, a proposta é estender o projeto além da extensão e virar uma banda que toque em outras situações. “Queremos trabalhar de uma forma particular também, de virar uma empresa, para que os músicos possam receber cachês e que agreguem as suas rendas ao trabalho que desenvolvem na Banda Braille”, explica.
A banda se apresenta em diversos eventos, sendo a maioria ligados à inclusão. De acordo com D’Amore, o nome Banda Braille faz referência às bandas que animam bailes com músicas dançantes e românticas. “Tocamos xote, pop, axé, forró, com um repertório vasto mais popular que façam as pessoas dançarem. Fazemos show com 40 a 45 minutos, mas temos repertório para até duas horas de show”, afirma.
Fotos: Anastácia Vaz