Por Eloisa Alexsandra Lopes
Dentista – Casa Durval Paiva
CRO/RN 3663
A higiene bucal deficiente ou a pré-existência de focos infecciosos aumentam o risco de infecção bucal durante a quimioterapia. As crianças em tratamento contra o câncer assistidas na Casa de Apoio são examinadas pela cirurgiã-dentista tão logo tenham sua doença diagnosticada, sendo o tratamento odontológico iniciado, preferencialmente, antes do tratamento oncológico. Acompanhadas também durante a fase aguda da doença, ou seja, o período de hospitalização.
Tanto no consultório, como no hospital, os pacientes são atendidos para tratamento e orientação de alguma lesão que possa aparecer como consequência de tratamentos contra o câncer. Daí a importância da integração entre o dentista e o médico oncologista, para manter o paciente com um bom nível de higiene bucal, minimizando o risco de complicações sistêmicas e locais.
Dentre as lesões bucais estão a mucosite, cárie, candidíase (sapinho) e xerostomia. A mucosite é uma resposta inflamatória da mucosa bucal às altas doses de quimioterapia, caracterizando-se pelo aparecimento de áreas avermelhadas, seguidas de feridas inflamadas, sangramento e inchaço. Acompanhado de intensa dor, que gera severo desconforto, resultando em má higienização oral, dificuldade de engolir os alimentos, diminuição da qualidade de vida, distúrbios do sono e fraqueza no corpo do paciente.
As lesões orais costumam desaparecer sem cicatriz a não ser que a mucosite seja agravada por infecção ou diminuição da produção de saliva. A manifestação mais precoce da mucosite é uma coloração esbranquiçada na mucosa (assoalho bucal, língua, bochecha e palato mole), sendo substituída gradativamente por áreas vermelhas e inchadas, favorecendo o desenvolvimento de áreas inflamadas, com a formação de uma membrana superficial amarelada e removível.
A xerostomia é definida como a secura da boca, produzida pela secreção insuficiente de saliva, sendo considerada uma alteração frequente nos pacientes em tratamento oncológico, cessando logo após o término do tratamento, complicando a deglutição do bolo alimentar, além de trazer a sensação de queimação na boca, alterações no paladar e mau hálito.
Como a criança tem mais dificuldade para comer, acaba optando por alimentos pastosos e líquidos ricos em carboidratos que fermentam na boca, facilitando o aparecimento da cárie. Como prevenção para o controle da placa podem ser utilizados “géis” e “soluções com flúor”, para fortalecer o dente.
A candidíase oral chamada popularmente de “sapinho” é uma infecção causada pelo excesso de fungo Candida albicans na boca, que se desenvolve quando a resistência imunológica encontra-se enfraquecida. Os sintomas são ardência e placas esbranquiçadas na boca, língua ou garganta, dor ou dificuldade para engolir. Comuns em pacientes imunossuprimidos, esse fungo tem cura e o seu tratamento deve ser orientado por um clínico geral ou dentista, sendo feito com enxaguantes bucais, antifúngicos e correta higiene oral.
Mediante o acompanhamento odontológico às crianças assistidas, durante e após o tratamento oncológico, tentamos controlar os problemas bucais, reduzir a possibilidade de dor, promover a cicatrização mais rápida de lesões como a mucosite, prevenir as infecções, favorecer a alimentação por via oral e reduzir ou evitar o tempo de internação hospitalar, melhorando assim a qualidade de vida posterior ao tratamento.