Viva a índia da Aldeia Velha
Por Walter Medeiros – Jornalista
Na realidade longínqua do Século XVII, o Rio Grande do Norte tinha uma vida nativa, com movimentação de índios potiguares na destacada área de Aldeia Velha – antigo nome do bairro natalense de Igapó. Naquele local, às margens do belo rio Potengi, conforme pesquisas e relatos de grande número de historiadores, nasceu uma índia que teria um papel importante para o Brasil e o mundo, pois viveria na época em que os portugueses que ocupavam estas terras teriam muito trabalho para defendê-las de invasores estrangeiros.
Aquela índia foi instruída por padres jesuítas, que lhe proporcionaram uma visão de mundo diferente do que seria natural nos tempos em que as tribos viviam somente dos componentes geográficos do seu habitat. Ela se casou com o chefe da tribo, índio que também teria papel importante na história e tiveram uma vida de muitos desafios e muitas lutas, pelo que hoje são lembrados e citados como grandes exemplos de heroísmo.
Sabem que me refiro a Clara Camarão e seu marido, Felipe Camarão, que participaram ativamente, em vários estados do nordeste, de batalhas em defesa do Brasil. Destacadamente durante as invasões holandesas em Olinda, no Recife e em Porto Calvo, no estado de Alagoas. Relatam que Clara lutava armada de espada e broquel, montada a cavalo, e foi vista nos conflitos mais arriscados, merecendo admiração dos holandeses e aplausos dos nossos. Ela sabia também como usar o arco, flecha, tacape e lança, além de cavalgar bem.
Clara liderou um grupo de mulheres que ficou conhecido como Heroínas de Tejecupapo, pequena aldeia da zona da mata pernambucana, palco de uma das batalhas ocorridas contra a dominação holandesa. Conta a História que os holandeses sitiados em Olinda haviam superado os índios e ao chegarem à aldeia encontram um grupo organizado de mulheres guerreiras lideradas por Clara Camarão e foram por elas derrotados. Os feitos corajosos de Clara Camarão proporcionou-lhe o direito concedido pelo rei Felipe IV, de receber o tratamento de Dona, enquanto o seu marido passou a ser tratado pela Coroa como Dom Felipe Camarão.
Aquela corajosa índia potiguar é considerada uma das precursoras do feminismo no Brasil, pois rompeu barreiras acabando com a divisão de trabalho na tribo ao se afastar de afazeres domésticos. Em função dos seus feitos, pela primeira vez uma mulher, e ainda por cima índia, era considerada heroína no Brasil. Assim, Dona Clara Camarão imortalizou-se como heroína. Em 24 de agosto de 1649, depois da primeira batalha e vitória dos Guararapes, Dom Antônio Felipe Camarão morreu, vítima de febre. Depois desse momento Clara teve uma vida discreta e não se sabe ao certo a data da morte da heroína da luta contra a invasão holandesa.
Neste 8 de Março de 2016, quero homenagear as mulheres em seu Dia Internacional, através dessa merecida reverência àquela índia que se antecipou e impôs uma nova realidade na sua aldeia, nos campos de batalha e nas trincheiras que usou em defesa do seu povo e da causa que considerou justa. Que seu nome continue a instigar as lutas por melhores dias; e que Clara Camarão viva além das homenagens que lhe prestam como nome de minirrefinaria, colégios, creches e espaços de convivência. Pois seu legado atravessou séculos por causa do imenso valor dos seus feitos.
Viva Clara Camarão! Viva o 8 de Março! Parabéns às mulheres brasileiras, pelas suas lutas em busca de melhores dias.