A tecnologia e a inovação são efetivas à medida que o homem pode operar e manter às máquinas por ele projetadas. Quando há um projeto bem desenvolvido, pode-se tirar vantagens das capacidades humanas, considerando as limitações e amplificando os resultados da integração máquina e homem. Se isto não for conseguido, a performance dos processos pode ser reduzida e o propósito para o qual o equipamento foi desenvolvido, além de não se atingido, pode-se tornar perigoso, podendo provocar acidentes por estresse do seu operador. Esta consideração é significativa devido ao desenvolvimento de processos e equipamentos altamente complexos que exigem a capacidade do homem cada vez mais próxima dos seus limites. Fica evidente a necessidade do perfeito conhecimento das características físicas e socioculturais dos usuários dos equipamentos. Deve-se levar em conta que, atualmente, os equipamentos se tornaram extensões do corpo para a execução do trabalho, o que implica em eficiência e conforto. E isso só será possível se nos seus projetos o usuário for analisado e considerado. Por outro lado, os dados antropométricos só têm sentido para a ergonomia se analisadas também as atividades que o trabalhador vai desenvolver. Uma norma técnica, a NBR ISO 15535, pode colaborar e muito para diminuir o sofrimento do homem no trabalho.
Mauricio Ferraz de Paiva
A antropometria trata das medidas físicas do corpo humano. A sua origem vem da antiguidade pois egípcios e gregos já observavam e estudavam a relação das diversas partes do corpo. O reconhecimento dos biótipos data dos tempos bíblicos e o nome de muitas unidades de medida, utilizadas hoje em dia são derivados de segmentos do corpo.
A importância das medidas ganhou especial interesse na década de 40 provocada de um lado pela necessidade da produção em massa, pois um produto mal dimensionado pode provocar a elevação dos custos e por outro lado, devido ao surgimento dos sistemas de trabalho complexos onde o desempenho humano é crítico e o desenvolvimento desses sistemas dependem das dimensões antropométricas dos seus operadores.
Hoje, a antropometria (antropologia física), associada aos valores culturais (antropologia cultural), constitui um ponto importante nas questões que envolvem a transferência de tecnologias, é a denominada antropotecnologia. A antropologia é a ciência da humanidade com a preocupação de conhecer cientificamente o ser humano na sua totalidade.
Devido ao fato de ser um objetivo extremamente amplo que visa o homem como ser biológico, pensante, produtor de culturas e participante da sociedade, a antropologia se divide em dois grandes campos a antropologia física e a antropometria cultural. A física ou biológica estuda a natureza física do homem, origem, evolução, estrutura anatômica, processos fisiológicos e as diferenças raciais das populações antigas e modernas. Objetiva levantar dados das diversas dimensões dos segmentos corporais.
Tem as suas origens na antropologia física que como registro e ciência comparada remonta-se às viagens de Marco Polo (1273-1295), que revelou um grande número de raças humanas diferentes em tamanho e constituição e na antropologia racial comparativa estudada por alguns cientistas no século XVIII, e demonstrava que havia diferenças nas proporções corporais de várias raças humanas.
A NBR ISO 15535 de 08/2015 – Requisitos gerais para o estabelecimento de bases de dados antropométricos especifica requisitos gerais para bancos de dados antropométricos e os relatórios associados a estes que contenham medidas tomadas em conformidade com a NBR ISO 7250-1. Igualmente, fornece informações necessárias como características da população usuária, métodos de amostragem, itens de medição e estatística, para tornar possível a comparação internacional entre diversos segmentos populacionais.
Os segmentos populacionais especificados nesta norma são os grupos de pessoas capazes de manter as posturas definidas na NBR ISO 7250-1. A antropometria tradicional definida na NBR ISO 7250-1 é considerada um complemento necessário aos métodos 3D que estão sendo desenvolvidos em alguns países.
É importante que os dados escaneados sejam verificados de acordo com as definições estabelecidas na NBR ISO 7250-1 (ver ISO 20685). O estado da arte dos programas permite a integração das medidas de antropometria tradicional com aquelas obtidas por imagens 3D.
O bem-estar das pessoas é muito dependente de suas relações dimensionais e proporcionais com diversos fatores, como o crescimento, princípios de projeto para o vestuário, para o transporte, para os ambientes de trabalho e doméstico e também para atividades desportivas e recreativas. A implementação de bancos de dados das medidas corporais de uma população fornece a base para requisitos essenciais de segurança e saúde, como também para normas internacionais no campo da segurança de máquinas e de equipamentos de proteção individual, e adquiriu importância no desenvolvimento de manequins do corpo humano gerados por computador.
Uma das maiores dificuldades na formulação de banco de dados internacionais em antropometria é que os numerosos estudos existentes raramente são comparáveis no sentido mais estrito. As dificuldades surgem na comparação entre um estudo e outro porque ou os métodos utilizados diferem entre si ou não são suficientemente bem descritos.
A padronização antropométrica utilizada para a coleta dos dados é fundamental para a criação de qualquer banco de dados antropométricos. Essa norma destina-se a ser utilizada em conjunto com a NBR ISO 7250-1. O objetivo final é que um banco de dados desenvolvido por um pesquisador possa ser facilmente utilizado por outros pesquisadores, de tal modo que seja facilmente acessado por aqueles responsáveis pela elaboração de normas em apoio ao bom projeto e ao desenvolvimento de requisitos de segurança e saúde (por exemplo, ISO 15534 e ISO 14738).
Para atingir este objetivo, foi necessário desenvolver uma norma internacional adequada para assegurar que os bancos de dados antropométricos e os relatórios associados a estes sejam compatíveis internacionalmente. A norma fala que os métodos de medição definidos na NBR ISO 7250-1 devem ser utilizados.
Qualquer desvio em relação a estes deve ser indicado no relatório antropométrico. Prevê-se que outros itens além daqueles definidos na NBR ISO 7250-1 devem ser medidos de acordo com o objetivo da pesquisa.
Em tais casos, as definições, os métodos, os instrumentos e as unidades de medição devem ser claramente indicados no relatório. Quando uma medida pode ser tomada de ambos os lados, direito e esquerdo, do corpo humano, o relatório deve indicar claramente de que lado a medida foi tomada.
Convém que fotografias ou desenhos detalhados das medidas tomadas sejam fornecidos, e os procedimentos de medição sejam documentados. O indivíduo deve estar nu ou vestindo pouca roupa, deve estar com a cabeça descoberta e sem os sapatos.
O tipo de roupa, caso relevante, deve ser codificado na folha de registro dos dados antropométricos. As condições de medição devem ser documentadas, juntamente com os resultados numéricos de qualquer pesquisa.
As características demográficas da população devem ser indicadas do modo mais claro possível no relatório. No caso em que a população está dividida em diversos subgrupos, por exemplo, local do exame e local do domicílio, para qualquer amostragem ou relatórios estatísticos, isto deve estar indicado no relatório.
É desejável que sejam utilizados os métodos de amostragem aleatória e estratificada aleatória. Entretanto, se isso for impossível, o relatório deve indicar o método de amostragem utilizado.
É desejável que o número de indivíduos necessário para o desenvolvimento de um banco de dados seja estabelecido utilizando uma fórmula estatística poderosa, com base na acuidade dos resultados desejados pelo pesquisador (ver Anexo A). Entretanto, na realidade, a seleção dos indivíduos é frequentemente influenciada por diversos fatores, como o tamanho da população, o número de pessoas que concordam em participar, o custo e o período de tempo necessário para a pesquisa.
Os questionários biográficos devem ser preenchidos para fornecer informações que incluam sexo, data de nascimento, data do exame e local do exame. Outras informações demográficas podem ser incluídas no questionário de acordo com os objetivos do estudo. Convém que a edição de anomalias óbvias durante a coleta dos dados seja realizada utilizando, por exemplo, um programa de computador especificamente desenvolvido para detectar números que se encontram fora de qualquer intervalo razoável de dados para aquela medida (ver Anexo F).
Os instrumentos antropométricos para a tomada de medidas lineares e circunferenciais devem medir em milímetros. Os de medição da massa corporal devem pesar com a precisão de 500g.
O tamanho da amostra deve ser suficiente para estimar o valor da medida em um grupo específico. Por exemplo, convém que o tamanho da amostra seja suficiente para estimar a média verdadeira da estatura da população dentro de ± 10 mm para mulheres que estão entre 30 anos e 34 anos de idade. Um método para calcular o tamanho da amostra é apresentado no Anexo A.
Onde apropriado para um estudo específico, as seguintes informações podem também ser levadas em consideração para determinação do tamanho da amostra: localização geográfica; status socioeconômico; nível educacional; ocupação; e outras variáveis demográficas que influenciem nas distribuições antropométricas.
Mauricio Ferraz de Paiva é engenheiro eletricista, especialista em desenvolvimento em sistemas, presidente do Instituto Tecnológico de Estudos para a Normalização e Avaliação de Conformidade (Itenac) e presidente da Target Engenharia e Consultoria –mauricio.paiva@target.com.br
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